
Ontem presenciei uma cena tão bonita... ele, completamente apaixonado. Não se esquecia dela e sempre que aparecia uma deixa, seus olhos verdes se entregavam e nem precisava falar, todo mundo já sabia. Fora a agonia de encontrar e, mesmo que estivesse tudo perfeito, estar com ela seria por si só mais que perfeito. E, se se distraía, era por poucos segundos, até sentir o celular vibrar no bolso. Mesmo quando nem tinha tocado...
Ela, simplesmente criativa. Passou o dia todo armando como abrir o sorriso dele. Fez planos, arrumou cúmplices, deu voltas, se perdeu, se achou e fez tudo para que os olhos dele brilhassem ainda mais. Talvez não soubesse que só sua presença já daria conta do recado.
Daí a pouco ele volta, ridículo: sem camisa, de shorts, descalço, com um balão de hélio amarrado no pulso, um colar de papel com letras garrafais escrito “FELIZ” e uma saia das letras “ANIVERSÁRIO”. Provavelmente ela ligou e disse “estou aqui!”, e ele saiu da piscina num pulo para encontrá-la. Quando alguém perguntava “quem fez isso com você”, ele sorria, mais com os olhos do que com os lábios, e respondia “Adivinha?!”, enquanto eu pensava sozinha: Para se permitir desfilar desse jeito só muito apaixonado mesmo. Momentos antes, me mostrou a foto dela que já ocupava o papel de parede do celular...
Sorri ao reparar que ela estava de salto no barro. Quanto esforço por um sorriso, por um querer bem... Já pude imaginar as latinhas amarradas no pára-choque e o vidro escrito de batom: “Recém casados”. E dali eles partindo para a lua de mel e as letrinhas subindo enquanto o narrador concluía “E viveram felizes para sempre”.

Me entristeci ao lembrar de mim mesma e da minha história. Ao olhar em volta, ver paixão e pensar naqueles que apenas suportam a convivência e em outros muitos que fingem suportar. Lembro de eu mesma já ter, depois de velha, caído no conto do vigário e acreditado ter encontrado o meu “alguém”, aquele que costumava fazer meu coração bater rápido e devagar ao mesmo tempo... E eu, que sempre fui um frio metrônomo cardíaco, saí tanto do compasso que achava que mais cedo ou mais tarde ia terminar em pausa...

“Talvez eu seja o último romântico dos litorais desse Oceano Atlântico”
Morena – dez/09