Será que acredito que casamentos deviam ser simplesmente na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza até que a paixão acabe?
Ontem presenciei uma cena tão bonita... ele, completamente apaixonado. Não se esquecia dela e sempre que aparecia uma deixa, seus olhos verdes se entregavam e nem precisava falar, todo mundo já sabia. Fora a agonia de encontrar e, mesmo que estivesse tudo perfeito, estar com ela seria por si só mais que perfeito. E, se se distraía, era por poucos segundos, até sentir o celular vibrar no bolso. Mesmo quando nem tinha tocado...
Ela, simplesmente criativa. Passou o dia todo armando como abrir o sorriso dele. Fez planos, arrumou cúmplices, deu voltas, se perdeu, se achou e fez tudo para que os olhos dele brilhassem ainda mais. Talvez não soubesse que só sua presença já daria conta do recado.
Daí a pouco ele volta, ridículo: sem camisa, de shorts, descalço, com um balão de hélio amarrado no pulso, um colar de papel com letras garrafais escrito “FELIZ” e uma saia das letras “ANIVERSÁRIO”. Provavelmente ela ligou e disse “estou aqui!”, e ele saiu da piscina num pulo para encontrá-la. Quando alguém perguntava “quem fez isso com você”, ele sorria, mais com os olhos do que com os lábios, e respondia “Adivinha?!”, enquanto eu pensava sozinha: Para se permitir desfilar desse jeito só muito apaixonado mesmo. Momentos antes, me mostrou a foto dela que já ocupava o papel de parede do celular...
Sorri ao reparar que ela estava de salto no barro. Quanto esforço por um sorriso, por um querer bem... Já pude imaginar as latinhas amarradas no pára-choque e o vidro escrito de batom: “Recém casados”. E dali eles partindo para a lua de mel e as letrinhas subindo enquanto o narrador concluía “E viveram felizes para sempre”.
No entanto, de outros carnavais, me lembro que ele era casado. Posso estar errada, mas não conseguia parar de pensar nisso: E dessa vez? Até quando vai ser? E do meu lado o outro que sempre fez tanta questão da tal da aliança, que até parecia que honrava, já a algum tempo me agonia com um tira e põe interminável. E na frente mais um, que a pouco conheço, mas que ontem, na presença da mulher, até tirou a argola do bolso. Dentro da minha sala, conta aventuras e ex namoradas, mas nunca mencionou um casamento e muito menos os frutos dele.
Me entristeci ao lembrar de mim mesma e da minha história. Ao olhar em volta, ver paixão e pensar naqueles que apenas suportam a convivência e em outros muitos que fingem suportar. Lembro de eu mesma já ter, depois de velha, caído no conto do vigário e acreditado ter encontrado o meu “alguém”, aquele que costumava fazer meu coração bater rápido e devagar ao mesmo tempo... E eu, que sempre fui um frio metrônomo cardíaco, saí tanto do compasso que achava que mais cedo ou mais tarde ia terminar em pausa...
Algumas pessoas são más. Outras são inocentes. Outras ainda são simplesmente frouxas (Quis usar a palavra “covardes” mas, apesar da elegância, não tem a metade da força). Algumas se apaixonam, outras mentem. Algumas ainda tem a capacidade de fazer os dois. Essas são as mais difíceis de entender... Mas vendo os carros se distanciando na poeira me senti sorrir por dentro pensando em como quero acreditar em contos de fadas e sentir meu coração, morto, acordar num choque e se encaixar em algum outro que possa talvez nem compreender mas simplesmente não julgar, e o mais importante: Não mentir.
“Talvez eu seja o último romântico dos litorais desse Oceano Atlântico”
Morena – dez/09
sábado, 19 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Malandro x Vagabundo
Esses dias fui surpreendida com um material interessante para fazer um seminário: uma lista de filmes de Charles Chaplin. Fui na Oscarito e só consegui encontrar um dos filmes da lista: "O circo" de 1928.
Vim para casa sem ter certeza se estava ou não com sorte, afinal, cinema nunca foi o meu forte e filmes antigos me dão sono. Fico feliz de relatar minha surpresa ao descobrir um filme divertido, interessante, cheio de lições e críticas. Um filme mudo que exige da criatividade do espectador para entender cada gesto e localizar as frases soltas.
No dia seguinte, rodei todas as locadoras "cult" da cidade mas só encontrei menos da metade da lista. Empenhada em fazer um bom trabalho, assim mesmo, assisti os que pude na véspera do grande dia:
22h e eu me sentava na frente da televisão para começar uma longa seção de cinema em casa...
Logo de início, quis associar o vagabundo ao malandro, acho que o figurino sempre tão elegante e o chapéu me fizeram a sugestão mas não demorou para que eu pudesse perceber que as semelhanças não vão longe...
O vagabundo Carlitos é capaz de dar a última bicada do leite escasso ao grande companheiro cachorro.
(Vida de Cachorro, 1918).
O malandro Max é capaz de apostar o dinheiro que recebeu da prostituta enamorada.
(A ópera do Malandro, 1978).
O vagabundo é capaz de entrar em um ring de box para pagar o aluguel e a cirurgia de uma mulher cega. É capaz de fugir da polícia e entregar até o último centavo para a alegria da moça.
(Luzes da Cidade, 1931)
O malandro é capaz de inventar uma convocação para a guerra só para não ter que falar a verdade.
(A ópera do Malandro)
O vagabundo não se importa se ele mesmo não sai ganhando, dá uma de cupido e une a amada com o concorrente, admitindo a derrota, sacode o pó das calças e sai rodando sua bengala em direção ao futuro.
(O circo)
O malandro não gosta de nenhuma moça em especial, desde que use saias, ele não se amarra em uma só mulher.
(Malandro é Malandro e Mané é Mané, Bezerra da Silva, 2000)
O vagabundo é humano, até pensa em não arrumar mais problemas mas se apaixona pelo rostinho do bebê e divide com o pequeno órfão o seu pouco sustento.
(O Garoto, 1921)
"A escola do malandro é fingir que sabe amar sem elas perceberem para não estrilar"
(Escola de Malandro, Noel Rosa, 1932)
O vagabundo se apaixona e arranja um emprego para pagar um bom jantar.
(Em busca do ouro, 1925)
O malandro caminha como quem pisa nos corações que rolaram nos cabarés.
(A volta do Malandro, Chico Buarque, 1985)
O vagabundo é doce.
O malandro charmoso.
O vagabundo é meio Robin Wood.
O malandro é meio político.
O vagabundo é um cavalheiro.
O malandro passa por um.
O vagabundo não espera nada em troca.
O malandro sempre ganha a troca.
O vagabundo não pensa no dia seguinte.
O malandro pensa na mulher seguinte.
O vagabundo não procura trabalho.
O malandro não aceita trabalho.
E no fim, com tudo diferente ainda são iguais: nenhum dos dois tem medo do futuro e ambos confiam no próprio taco (seja o da sinuca ou da bengala)...
Uma vez me apaixonei por um auto intitulado malandro. O chapéu quebrado e a calça passada me deixaram encantada. Hoje não entendo porque o malandro é sinônimo de esperteza e vagabundo de preguiça. Para mim, o malandro é um aproveitador e o vagabundo um sujeito apaixonante!
Morena - dez/09
Vim para casa sem ter certeza se estava ou não com sorte, afinal, cinema nunca foi o meu forte e filmes antigos me dão sono. Fico feliz de relatar minha surpresa ao descobrir um filme divertido, interessante, cheio de lições e críticas. Um filme mudo que exige da criatividade do espectador para entender cada gesto e localizar as frases soltas.
No dia seguinte, rodei todas as locadoras "cult" da cidade mas só encontrei menos da metade da lista. Empenhada em fazer um bom trabalho, assim mesmo, assisti os que pude na véspera do grande dia:
22h e eu me sentava na frente da televisão para começar uma longa seção de cinema em casa...
Logo de início, quis associar o vagabundo ao malandro, acho que o figurino sempre tão elegante e o chapéu me fizeram a sugestão mas não demorou para que eu pudesse perceber que as semelhanças não vão longe...
O vagabundo Carlitos é capaz de dar a última bicada do leite escasso ao grande companheiro cachorro.
(Vida de Cachorro, 1918).
O malandro Max é capaz de apostar o dinheiro que recebeu da prostituta enamorada.
(A ópera do Malandro, 1978).
O vagabundo é capaz de entrar em um ring de box para pagar o aluguel e a cirurgia de uma mulher cega. É capaz de fugir da polícia e entregar até o último centavo para a alegria da moça.
(Luzes da Cidade, 1931)
O malandro é capaz de inventar uma convocação para a guerra só para não ter que falar a verdade.
(A ópera do Malandro)
O vagabundo não se importa se ele mesmo não sai ganhando, dá uma de cupido e une a amada com o concorrente, admitindo a derrota, sacode o pó das calças e sai rodando sua bengala em direção ao futuro.
(O circo)
O malandro não gosta de nenhuma moça em especial, desde que use saias, ele não se amarra em uma só mulher.
(Malandro é Malandro e Mané é Mané, Bezerra da Silva, 2000)
O vagabundo é humano, até pensa em não arrumar mais problemas mas se apaixona pelo rostinho do bebê e divide com o pequeno órfão o seu pouco sustento.
(O Garoto, 1921)
"A escola do malandro é fingir que sabe amar sem elas perceberem para não estrilar"
(Escola de Malandro, Noel Rosa, 1932)
O vagabundo se apaixona e arranja um emprego para pagar um bom jantar.
(Em busca do ouro, 1925)
O malandro caminha como quem pisa nos corações que rolaram nos cabarés.
(A volta do Malandro, Chico Buarque, 1985)
O vagabundo é doce.
O malandro charmoso.
O vagabundo é meio Robin Wood.
O malandro é meio político.
O vagabundo é um cavalheiro.
O malandro passa por um.
O vagabundo não espera nada em troca.
O malandro sempre ganha a troca.
O vagabundo não pensa no dia seguinte.
O malandro pensa na mulher seguinte.
O vagabundo não procura trabalho.
O malandro não aceita trabalho.
E no fim, com tudo diferente ainda são iguais: nenhum dos dois tem medo do futuro e ambos confiam no próprio taco (seja o da sinuca ou da bengala)...
Uma vez me apaixonei por um auto intitulado malandro. O chapéu quebrado e a calça passada me deixaram encantada. Hoje não entendo porque o malandro é sinônimo de esperteza e vagabundo de preguiça. Para mim, o malandro é um aproveitador e o vagabundo um sujeito apaixonante!
Morena - dez/09
sábado, 5 de dezembro de 2009
Música
Frequentemente pessoas me encontram ou me conhecem e me perguntam:
- Você é música?
Não. Não sou música. Mas se fosse queria ser o Choro pro Zé do Guinga. Ter a beleza, a extensão, a melodia que desliza, a letra que cativa e poder carregar comigo a melancolia, fazer arrepiar e apaixonar qualquer um que colocasse os ouvidos em mim.
Se eu fosse música, queria ser do Chico mais um Choro: o bandido. Para sentir a hamornia entortar todo o meu ser de dentro para fora, para poder respirar ofegante ao ser cantada pela Leny. Para ser fruto dele e do Edu, para poder trazer correndo nas minhas veias o sangue da inspiração de cada um e dos dois juntos.
Ah! Se eu fosse música queria ser parceira do João Nogueira e do Paulo César para poder mostrar ao samba qual a Minha Missão. Passear pela voz de Clara Nunes e ser sempre lembrada como um hino. Cada toque na minha pele intensa causaria em mim mesma o prazer de saber quem eu sou e porque sou. E lembrar que para poder estar viva e ser tocada, acariciada, chorada e amada muita madeira teve que morrer.
Se ainda eu fosse música, seria Insana. Mas poucos me conheceriam. Teria o prazer de penetrar na alma e sangrar o coração. Seria filha de duas mães: Sueli Costa e Ana Terra e mostraria toda a minha força frágil e feminina de ser música.
Se eu fosse música... Não saberia escolher! Felizmente Papai do Céu me fez gente, menina, mulher, senhora. Me pôs uma alma dentro do corpo e fez meu coração reconhecer o bumbo, o surdo e a zabumba como companheiros de batida.
Felizmente, Papai do Céu me permitiu cantar. Tocar e ser tocada por cada canção que me permita a proximidade. Felizmente, Ele me permitiu ser musicista e carregar a música na garganta para onde quer que eu vá. Assim, não preciso escolher, nem me conformar. Posso ser todas sem, ao mesmo tempo, ser nenhuma e posso sentir que a entidade maior vai sempre me acompanhar enquanto eu puder ser sensível e verdadeira com ela e comigo mesma.
"Cantei, cantei! Como é cruel cantar assim..."
Morena - dez/09
- Você é música?
Não. Não sou música. Mas se fosse queria ser o Choro pro Zé do Guinga. Ter a beleza, a extensão, a melodia que desliza, a letra que cativa e poder carregar comigo a melancolia, fazer arrepiar e apaixonar qualquer um que colocasse os ouvidos em mim.
Se eu fosse música, queria ser do Chico mais um Choro: o bandido. Para sentir a hamornia entortar todo o meu ser de dentro para fora, para poder respirar ofegante ao ser cantada pela Leny. Para ser fruto dele e do Edu, para poder trazer correndo nas minhas veias o sangue da inspiração de cada um e dos dois juntos.
Ah! Se eu fosse música queria ser parceira do João Nogueira e do Paulo César para poder mostrar ao samba qual a Minha Missão. Passear pela voz de Clara Nunes e ser sempre lembrada como um hino. Cada toque na minha pele intensa causaria em mim mesma o prazer de saber quem eu sou e porque sou. E lembrar que para poder estar viva e ser tocada, acariciada, chorada e amada muita madeira teve que morrer.
Se ainda eu fosse música, seria Insana. Mas poucos me conheceriam. Teria o prazer de penetrar na alma e sangrar o coração. Seria filha de duas mães: Sueli Costa e Ana Terra e mostraria toda a minha força frágil e feminina de ser música.
Se eu fosse música... Não saberia escolher! Felizmente Papai do Céu me fez gente, menina, mulher, senhora. Me pôs uma alma dentro do corpo e fez meu coração reconhecer o bumbo, o surdo e a zabumba como companheiros de batida.
Felizmente, Papai do Céu me permitiu cantar. Tocar e ser tocada por cada canção que me permita a proximidade. Felizmente, Ele me permitiu ser musicista e carregar a música na garganta para onde quer que eu vá. Assim, não preciso escolher, nem me conformar. Posso ser todas sem, ao mesmo tempo, ser nenhuma e posso sentir que a entidade maior vai sempre me acompanhar enquanto eu puder ser sensível e verdadeira com ela e comigo mesma.
"Cantei, cantei! Como é cruel cantar assim..."
Morena - dez/09
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Relógio
Acordou assustado e percebeu que era tarde. Mal conseguira dormir durante a noite e mesmo assim foi capaz de perder a hora. Com ironia refletiu sobre isso: interessante perder a hora... Será que em algum momento teria sido senhor dela?
Se apressou em enfiar a camisa na calça e sair correndo, nem teve tempo de tomar aquela xícara de pingado que se tornara sua maior religião antes de encontrar a porta. E ele, que não sabia correr, saiu desajeitado pela rua afora.
Já na estação do metrô, a mulher do caixa não tinha trocado e, obviamente as próximas 10 pessoas também não tinham. Tentava, no entanto, ser positivo: o primeiro troco seria o dele.
Assim que o recebeu saiu apressado e, devido a ansiedade, amassou o cartão de passe na tentativa de colocá-lo na máquina de acesso. E mais um bom tempo foi perdido para reverter o processo.
Já ao longe podia-se ouvir o barulho do metrô chegando e seus ouvidos sensíveis podiam até distinguir que aquele seguia para o lado correto. Desceu as escadas burlando uma senhora, quase tropeçando em uma criança e pedindo desculpas sem diminuir o ritmo.
Já podia visualizar a condução quando teve a brilhante idéia de ler o destino: samambaia. Deu alguns passos para trás e, desolado, ocupou logo uma cadeira que acabara de vagar.
Perdi a hora de novo... pensava agitado. Será que não exisitiria um seguro ante roubo de hora? Ele não era tão desleixado para perde-la com tanta frequência. Se acreditava roubado quase todo dia do privilégio de saber onde ela estaria. E mesmo assim não se atrevia a olhar o relógio, como se esse pequeno objeto pudesse atrasá-lo ainda mais. E tão perdido ficou em seus pensamentos e tanto demorou o próximo metrô a chegar que foi por pouco que não permaneceu enquanto o vagão se afastava.
Levantou aflito e se dirigiu à porta quando lembrou estar a apenas três estações do terminal. Respirou aliviado e se preparou para encontrar um acento vazio ao lado da janela, onde poderia confortavelmente apoiar seu violão entre as pernas e curtir a pouca paisagem que lhe dava direito as entradas e saídas dos túneis.
Quando o transporte parou, grande surpresa ao reparar os "bafinhos" no vidro e pensar que não era possível que ainda ele conseguisse entrar, calculou. Mas mesmo assim deu um passo a frente e sentiu o guada-chuva prender atrás de si. Tentou ainda puxá-lo com força mas notava apenas que ficava mais preso e que logo alguém tomaria o pequeno espaço que ele reservara para si dentro daquele vagão. As portas se abriram e ele soltou um breve suspiro ao lembrar do preço do guarda-chuva, antes de soltá-lo e dar aquele primeiro passo que crusa a linha amarela. A surpresa veio ao perceber que ao menos mais vinte pessoas entraram depois dele e sem esforço nenhum ele parou no meio do vagão. Só se preocupou em não deixar o violão se expremer contra um acento ou algo que pudesse danificá-lo. Ainda pôde sorrir de canto de boca ao perceber que não precisaria segurá-lo. Tudo culpa do tempo, da hora que escorria por entre seus dedos de unhas compridas...
A chuva fina não permitia que as pequenas janelas superiores ficassem abertas e em um primeiro momento, sentiu a cabeça tontear e o ar lhe faltar nos pulmões, mas depois lembrou do motivo da pressa e pôde até relaxar um pouco. Estava atrasado, mas estava a caminho. E, mesmo sendo tão magrinho, sentia seu corpo todo suar naquela eternidade que levava entre uma parada e outra. Chegou a tirar o chapéu por duas ou três vezes e pentear o cabelo liso na tentativa de não deixá-lo grudar na testa.
Finalmente o metrô parou e ele, com urgência, se jogou no meio da multidão na esperança não só de conseguir chegar até a porta antes que ela se fechasse, como de ser o primeiro a encontrar o ar puro.
Mais uma vez ele correu naquele dia e, sem proteção, misturava as gotas de suor às daquela chuva insistente.
Minutos depois ele conseguiu visualizar o destino pretendido e, de envergonha pelo atraso, ou ansiedade pelo fim da espera, caminhou a passos lentos em direção a ela, que de cabeça baixa se concentrava em ler um livro.
Ao notar a sombra se espalhar pela mesa, ela tomou um minuto e observou as proporções antes de morder os lábios, virar-se e dizer:
- Você está atrasado.
- Eu sei. Me desculpe.
Ela então sorriu com singeleza e, sem se levantar, envolveu a cintura dele com os braços e se sentiu ensurdecer ao ouvir seu coração.
Morena nov/09
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
15 de novembro
Dia 15 de novembro é meu aniversário.
Engraçado como essas datas costumam ser muito importantes na vida das pessoas...
Mas o dia 15 de novembro de 2009 se torna ainda mais importante porque não será um aniversário qualquer, não senhor. Será o dia que completarei um ano. E o primeiro, costuma ser o mais lembrado... depois não, o tempo passa e a gente pouco a pouco vai se esquecendo de comemorar. Outras prioridades entram no caminho, as significantes e os próprios significados dos nossos dias começam a mudar... acho que faz parte de viver.
Confessor estar um pouco ansiosa por essa data. Parece que foi ontem quando eu ainda era um bebezinho recém descobrindo a magia que me esperava... Não que hoje eu seja muito mais do que isso, não tenho a pretenção de ter crescido tanto assim no meu primeiro ano, mas hão de convir que é no primeiro ano que se nota a maior diferença. Quem pode não reconhecer um adulto depois de passar 365 dias sem vê-lo? Talvez alguns quilos, cabelos a mais ou a menos, barba quem sabe? Mas de um bebê recém nascido, daqueles ainda com cara de joelho para uma criança de um ano há uma grande diferença. Me arrisco a dizer que talvez a própria mãe o pudesse saber e só. Me olho no espelho e não posso reconhecer o meu próprio reflexo em um ano de vida. Quem então poderia?
O fato é que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria e em breve, no dia 15 de novembro, quando a proclamação da república completa seus 120 anos eu, humildemente, completo meu primeiro ano de samba. Gosto de pensar que fui apenas rebelde quando lembro dos "adonirans" que meu pai costumava cantar para me ninar, mas, como dizem por aí "o bom filho à casa torna" e na bíblia, o pai comemora com uma grande festa.
Bom, eu nasci em um churrasco, com a ajuda de dois grandes músicos e amigos que facilitaram o trauma do parto com bossas e xotezinhos pra eu tentar esconder, inclusive de mim mesma, o pavor de não conhecer as melodias e ter que ler as letras nos lábios de outro para então, entre risos, cantar atrasado no microfone. No entanto, foi tudo muito melhor do que eu poderia me dar ao luxo de imaginar e, se me permitem parafrasear Mário Quintana:
"Nasci no Lago Norte, DF, em 15 de novembro de 2008. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu."
Agora só espero ansiosa saber se vai ter comemoração do meu primeiro aninho... Daí posso mostrar que já cresci um pouquinho... =D
Morena - out/09
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Avião
Entro no avião a espera de que ele possa, de alguma forma, ajudar a me encontrar.
Sou a primeira a sentar na fileira da esquerda, nem janela nem corredor, e vejo o reflexo dos meus dias: sempre no meio das escolhas...
De repente os passageiros começam a se acomodar e percebo duas extensões de mim mesma: a juíza e a professora.
A juíza, no corredor, é uma mulher viajada, curtida, conhecedora de mundos e fundos. Entendida de lugares e pessoas. Militante do movimento estudantil na sua época de ouro. Hoje apenas uma companhia simpática de vôo.
A professora, do outro lado, é exatamente o que aparenta: alguém que viu sua vida passar pela janela... no entanto, inicia nesse avião sua nova empreitada: recém separada de um casamento que iniciou grávida 18 anos antes, partia ansiosa para o início de uma vida onde seria finalmente a protagonista dos dias.
Ivone, a juíza, deve ter por volta de 50 anos bem vividos.
Kelly, terá menos de 40 em seus anos escondidos.
Eu, no meio, me estico para me reconhecer nesse espaço. Com a escaleta presa entre os tornozelos me esforço para dar cores à arte de dentro de mim, à música, e à própria vida que advém tão simplesmente delas. Posso respirar fundo ao erguer a cabeça e assumir um destino nem a esquerda nem a direita, mas a frente. Assim como Kelly, um belo dia resolver me jogar no mundo e arriscar e, assim como Ivone, ter a segurança de quem vai para esse mundo e sabe o que está em jogo.
Desço do avião resoluta.
Saio sozinha, vou para a praia e visto um biquini pela primeira vez desde que comecei a escolher meu próprio guarda roupa.
Choro... também acho que faz parte da mudança sentir saudade de si mesma, mas sei que devo lembrar que o progresso é para frente e que eu não caibo mais nos meus 15 anos. Quem me dera! Eu era feliz... Mas parece que o tempo passou e eu estava preocupada demais tentando encontrar a Terra do Nunca. Só que o próprio nome do local já trás o endereço...
Morena - out/09
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Cantei, cantei...
Música também vicia.
Me referia a ela como um câncer, que se espalha e domina mas não é só isso. Contra um câncer, se luta com quimioterapia, cirurgia etc. Mas a música vicia. Ela te toma o corpo e você deixa. Você pede por isso. Quando por algum motivo ela vai embora ou apenas deixa de pulsar tão intensa você reclama a sua ausência e sofre com ela.
Ontem fui ver um amigo cantar. Não sabia exatamente onde estava indo, mesmo assim fui. Acabei cantando, tocando triângulo, fazendo back, dançando... sem ensaio e sem conhecer os músicos... Muito gostoso. Fui embora cedo, nem fui no meu samba de toda terça feira. Preferi vir para casa estudar. Toquei piano até passar do horário do silêncio e para não ter que parar tudo e recomeçar no teclado, apertei o abafador e praticamente continuei a tocar apenas imaginando os sons correspondentes. Descobri melodias fabulosas que ainda não tinha ouvido. Parei apenas quando meus olhos não podiam mais se manter abertos.
Acordei com sede. Dei minha primeira aula e apreciei a aluna cantar hinos e canções estrangeiras enquanto drenava um copo com água. Minha sede não era desse tipo, apesar de tudo. Apenas senti que se me molhavam os lábios...
Na segunda aula só restava a ansiedade de beber finalmente! Não só estar de rosto e lábios molhados. Queria me afogar nos acordes e sentia isso tão próximo...
Em fim o almoço que de nada socorreu minha fome. E cantei. A tarde toda até surgir uma pianista voluntária. Cantei em outros tons. Errei as letras e as melodias.
Cantei fora dos compassos e sorri.
Toquei, cantei, me arrepiei e quase chorei. “Cansei de brincar disso” pensei alto. Mas apenas pela má postura que arranjei. Me tomaram o palco por menos de 10 minutos e eu já sofria a distância. Estava cansada, pesada, sonolenta até. Mas foi como se visse meu espírito sair pelos dedos e me guiar de volta ao palco. A cabeça no entanto, não deixou. Terceira aula do dia se aproximando no final da tarde. E a música me acompanhou... mas já me sentia molhada pela tarde inteira e exaurida das forças de continuar a nadar.
Volto a cena do encontro para buscar um objeto esquecido. Já haviam me tomado palco permanetemente e eu estava cansada. É como se apenas ela pudesse me recarregar. Me oferecem acento para apreciar a nova fase mas não podia suportar a nova voz. “Não é a primeira a dizer isso”, me comentam e, não por maldade ou convencimento, mas por necessidade preferiria eu estar cantando, tocando, tocando, cantando, morrendo e voltando a viver em cada acorde trocado.
“Muito bom ouvir você à tarde! Só achei uma pena não poder sair para poder ver..."
Um momento de paz, importante ressaltar que não foi mais que um momento, invadiu meu coração em saber que alguém mais apreciou a minha música e pôde talvez compreender a falta que ela me faz. Não sei. Apenas me revoltei e me revolto com os compromissos que me afastam dela...
“Cantei, cantei! Como é cruel cantar assim..”
Morena set/09
Me referia a ela como um câncer, que se espalha e domina mas não é só isso. Contra um câncer, se luta com quimioterapia, cirurgia etc. Mas a música vicia. Ela te toma o corpo e você deixa. Você pede por isso. Quando por algum motivo ela vai embora ou apenas deixa de pulsar tão intensa você reclama a sua ausência e sofre com ela.
Ontem fui ver um amigo cantar. Não sabia exatamente onde estava indo, mesmo assim fui. Acabei cantando, tocando triângulo, fazendo back, dançando... sem ensaio e sem conhecer os músicos... Muito gostoso. Fui embora cedo, nem fui no meu samba de toda terça feira. Preferi vir para casa estudar. Toquei piano até passar do horário do silêncio e para não ter que parar tudo e recomeçar no teclado, apertei o abafador e praticamente continuei a tocar apenas imaginando os sons correspondentes. Descobri melodias fabulosas que ainda não tinha ouvido. Parei apenas quando meus olhos não podiam mais se manter abertos.
Acordei com sede. Dei minha primeira aula e apreciei a aluna cantar hinos e canções estrangeiras enquanto drenava um copo com água. Minha sede não era desse tipo, apesar de tudo. Apenas senti que se me molhavam os lábios...
Na segunda aula só restava a ansiedade de beber finalmente! Não só estar de rosto e lábios molhados. Queria me afogar nos acordes e sentia isso tão próximo...
Em fim o almoço que de nada socorreu minha fome. E cantei. A tarde toda até surgir uma pianista voluntária. Cantei em outros tons. Errei as letras e as melodias.
Cantei fora dos compassos e sorri.
Toquei, cantei, me arrepiei e quase chorei. “Cansei de brincar disso” pensei alto. Mas apenas pela má postura que arranjei. Me tomaram o palco por menos de 10 minutos e eu já sofria a distância. Estava cansada, pesada, sonolenta até. Mas foi como se visse meu espírito sair pelos dedos e me guiar de volta ao palco. A cabeça no entanto, não deixou. Terceira aula do dia se aproximando no final da tarde. E a música me acompanhou... mas já me sentia molhada pela tarde inteira e exaurida das forças de continuar a nadar.
Volto a cena do encontro para buscar um objeto esquecido. Já haviam me tomado palco permanetemente e eu estava cansada. É como se apenas ela pudesse me recarregar. Me oferecem acento para apreciar a nova fase mas não podia suportar a nova voz. “Não é a primeira a dizer isso”, me comentam e, não por maldade ou convencimento, mas por necessidade preferiria eu estar cantando, tocando, tocando, cantando, morrendo e voltando a viver em cada acorde trocado.
“Muito bom ouvir você à tarde! Só achei uma pena não poder sair para poder ver..."
Um momento de paz, importante ressaltar que não foi mais que um momento, invadiu meu coração em saber que alguém mais apreciou a minha música e pôde talvez compreender a falta que ela me faz. Não sei. Apenas me revoltei e me revolto com os compromissos que me afastam dela...
“Cantei, cantei! Como é cruel cantar assim..”
Morena set/09
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Moda ou Epidemia???
Engraçado que está todo mundo falando aí de gripe suína, lavar as mãos, se alimentar e talz mas muito pouco se fala de outro tipo de epidemia que eu pelo menos estou vendo tomar proporções muito maiores que a tal gripe. Só que essa é diferente, não é contagiosa, muito pelo contrário. Você tem que ir atrás dela. Ou talvez um nome mais correto para esses surtos voluntários seja apenas “moda”. O fato é que alguns vão buscando outra coisa e até negam a primeira descoberta, mas o xixi no potinho não mente: bebê a bordo! E de repente minhas amigas parecem olhar umas para as outras e dizer “Eu também quero!” E em muitos casos não é nem o bebê em si, mas a receitinha da vovó:
- Não minha filha, você está achando que seu homem quer ir embora? Não é escrevendo o nome dele num pepino que vai resolver... O negócio é mata leão na cabeça de baixo e barriga! Funciona desde que o mundo é mundo! E se o título de “pai” não comover, a pensão vai!
E tem muita doida assim no mundo que eu sei! Conheço algumas que têm a cabeça mais cheia de galho que árvore de natal mas estão lá, gravidíssimas! Achando que alguém muda porque tem filho...
Por outro lado, existem as românticas, que começam a andar de macacão e sandália baixa desde que o resultado dá positivo. Daí estou no trabalho conversando com uma amiga que simplesmente pára de falar no meio da frase quando vê um senhor entrar com uma menininha no colo.
- Ei... tudo bem com você?
- Hã? – rsss – foi mal. Vc viu que menina linda?
- Vi...
- Eu vou ser tia pela 3ª vez. Acho que é o instinto materno me chamando, 25 anos...
Ela começou a rir, mas acredito que muito mais da minha cara de pavor do que para fingir que tinha acabado de dizer alguma coisa que não era verdade. Bom...
Em outra oportunidade comentei com um colega de mais uma gravidez no nosso meio de convivência. Uma gargalhada alta e espontânea foi a minha resposta a reação dele:
- ... que droga!...
Não somos mais crianças e a grande maioria das pessoas a minha volta que estão esperando bebês são casadas, se viram legal e por decisão, ou não, se depararam com um momento de estender a família. Um pequeno parêntese aqui: como pobre só tem amigo que nem ele, não custa às minhas amigas encomendarem o muleque, porque rico é que vive cheio de problema pra engravidar. Pobre é fértil! Pergunta pro porteiro do bloco da frente? O QUINTO dele nasceu semana passada. “Mais um quilo de farinha do mesmo saco para alimentar o novo João Ninguém a cidade cresce junto com neném”...
Em fim, o que me chama a atenção não é só que as pessoas em geral estão voltando a se casar mais e constituir família. Isso é ótimo! O que me incomoda na verdade são três outras questões:
1. Essa foi levantada por um amigo: “Será que estou ficando velho?”. Mas nada que um bom trabalho em equipe por dois solteiros não resolva: “Não! Eles é que estão tendo filho muito cedo”.
2. Com quem eu vou sair? Meus amigos casam e MORREM para o mundo. De repente tudo se resume a pagar conta e colocar menino pra dormir. O que me faz pensar: essas crianças não tem vó não? Tio, madrinha, primo? Nem pra abusar não, mas pelo menos uma vez por semana né? Faz um revezamento massa e sai pra rever os amigos ou em um programa a dois nem que seja só pra lembrar que filho é conseqüência, e a única razão deles existirem é porque você ama seu parceiro. Ou não né? Aliás depois que o Caetano começou com essa pala de “ou não” ninguém consegue afirmar mais nada...
3. Estamos chegando no meu problema... Muita calma agora... Alguém já colocou a mão na barriga de uma grávida e sentiu o bebê chutar? Todo mundo né? É o que parece. Eu mesma já coloquei várias vezes...
- Tá sentindo?
- Tô.
Mentira. Nunca senti nada, achava que o povo tava viajando e que talvez ela sentisse alguma coisa mas só porque era de dentro pra fora.
Beatriz, a quem eu carinhosamente chamo “Berenice” ou “Berê”, se desesperou e nasceu na véspera do meu aniversário. Hoje ela é um bebê de quase 4 meses lindo, bochechudo e rosa mas que me deixou esse trauma... Ela já estava a menos de um mês de sair do forno quando senti minha mão sendo puxada e colocada em cima dela:
- Ela chutou! Está sentindo?
CARACA!!! Aquilo foi... vândalo! No mínimo! Minha amiga tinha dentro dela um ser com vontade própria! Eu sei que parece completamente idiota mas aquilo nunca tinha passado pela minha cabeça! E como se não bastasse, minha amiga comprimia minha mão na barriga e dizia:
- Olha aqui o bumbum... Tá sentindo?
- Tô... – e o pânico só aumentava. De repente entendi a menina dentro dela e isso me deixou completamente apavorada. Demorei até a me acostumar que alguma coisa se mexendo dentro da bolsa podia ser só o celular (já joguei muito a bolsa no chão...), imagina alguém! Uma pessoa! Dentro de mim! E já me veio na cabeça como uma tempestade minha mãe falando que eu enfiava o pé embaixo da costela dela, minha tia dizendo que minha prima se espreguiçava e a barriga fazia um bico, outra amiga contando que quando o guri começava a chutar ficava um tempão até parar... quis vomitar. E no meio da noite eu acordo:
- Hum...
- Que foi amor?
- Nada, o muleque resolveu trocar de lado. – e eu sinto tudo... porque sinto até minha ovulação e sei de que lado tá rolando. Vez por outra vem dos dois lados, e eu sinto! Imagina uma criança. Que medo...
Não que eu não queira, sempre quis casar, ter um menino e gêmeas. Conforme o figurino. Mas sempre tive pavor de casar com um doido, um idiota, um sacana... em fim. Além do que estou muito nova pra isso, mas agora pra complicar ainda mais a situação, finalmente caiu a ficha de que EU vou ter que carregar os muleques e principalmente: eles não vão ficar 9 meses quietinhos dentro de mim.
Pra terminar, faço minhas as palavras da Teresa Cristina no primeiro show dela depois da primeira filha:
“Mães! Vocês são minhas heroínas!”
Morena – set/09
domingo, 13 de setembro de 2009
P'ra que serve a música?
- P'ra que serve a música?
Meu professor perguntou. Eu, acanhada com a presença de uma terceira pessoa na sala, não quis responder.
Sem pulso ou vontade de tornar aquele momento particular, ele disse que ia me ajudar:
- P'ra nada. Música não serve para nada. - e fez um belo discurso que me fez concluir:
- Porque eu devo fazer parte dela e não ela de mim...
- Isso. Exatamente!
Entendi. Mas concordo apenas em parte. O fato de ela não fazer parte de mim pode significar que consigo viver sem ela e não sei se isso é verdade.
A música serve para fazer companhia. Quando todo mundo vai embora e de repente parece que sua sala comportaria facilmente a antologia de todos os poetas românticos, a música preenche os espaços e te lembra que você nunca está sozinho.
Ela serve para confortar. Quando você está triste e se preocupa em saber a quem recorrer antes que seus olhos provoquem uma enchente e matem seus sonhos afogados, a música te dá colo. Não precisa nada mais que um pensamento e ela vem correndo. Te abraça com ternura e passeia entre seus cabelos até você dormir.
Serve para contar histórias, aquelas que passam de pai para filho por gerações estão todas guardadas nela e ela as carrega com todo carinho por eternidades se for preciso.
Serve para falar de sentimentos, aqueles que desde o princípio da humanidade se tenta explicar em tantas línguas mas que ela faz descaso, porque é a mãe de todos eles. Se ela fala de amor você consegue sentir ele por dentro e se estiver em sintonia é até capaz de entender. É bem verdade que é seletiva e não se abre para qualquer um, mas sempre responde àqueles que sinceramente a procuram.
A música serve para aquecer ambientes. Aqueles lugares escuros e frios não conseguem ser mais os mesmos quando está presente. Ela não deixa. Ela pode transformá-los em ambientes saudosos, melancólicos e até doloridos, pesados, angustiados. Mas o fato é que dá cores, mesmo que sejam tons de cinza, e dá vida, mesmo que seja a morte.
Além disso ela serve para gozar. E quando eu digo, I mean it! Serve pra fazer você sufocar de dentro pra fora e sentir sua pele queimar de prazer. Como se você não fosse capaz de sobreviver ao momento de sua partida porque ela está em você como um câncer que se espalha e se enraíza provindo de um tumor no coração.
Serve para fazer sorrir, para fazer chorar, para enfeitar o amor, espantar a dor, para gravar, para apagar, para esconder, para lembrar, para vomitar a dor para fora de você, ou para ajudar a engolir. Para brincar, namorar, distrair, estudar, trabalhar, entender, concentrar, relaxar, tencionar, inspirar, transpirar e até para comer! Saborear seu enredo delicado. Ou não.
No final, ela serve para deixar cansado quando vai embora. Porque ela suga a essência, brinca com a alma e deixa quase em coma de tão fraco. Apenas jogado no chão, como mais um amante, mais um fã. Ela se alimenta de você, e por isso você faz parte dela. Ela te mantém vivo, por isso faz parte de você. Para alguns ela é ainda mais sedutora: se deixa desenhar, manipular e chega a posar de modelo. Mal sabem eles que não têm poder nenhum. Ela é a musa. Outros ainda, jurariam possuir tal privilégio, no entanto, ele cabe a um público minoritário, que não me inclui, mas que estou disposta a pagar o preço de ingresso. Sempre no tempo dela.
Morena - set/09
Meu professor perguntou. Eu, acanhada com a presença de uma terceira pessoa na sala, não quis responder.
Sem pulso ou vontade de tornar aquele momento particular, ele disse que ia me ajudar:
- P'ra nada. Música não serve para nada. - e fez um belo discurso que me fez concluir:
- Porque eu devo fazer parte dela e não ela de mim...
- Isso. Exatamente!
Entendi. Mas concordo apenas em parte. O fato de ela não fazer parte de mim pode significar que consigo viver sem ela e não sei se isso é verdade.
A música serve para fazer companhia. Quando todo mundo vai embora e de repente parece que sua sala comportaria facilmente a antologia de todos os poetas românticos, a música preenche os espaços e te lembra que você nunca está sozinho.
Ela serve para confortar. Quando você está triste e se preocupa em saber a quem recorrer antes que seus olhos provoquem uma enchente e matem seus sonhos afogados, a música te dá colo. Não precisa nada mais que um pensamento e ela vem correndo. Te abraça com ternura e passeia entre seus cabelos até você dormir.
Serve para contar histórias, aquelas que passam de pai para filho por gerações estão todas guardadas nela e ela as carrega com todo carinho por eternidades se for preciso.
Serve para falar de sentimentos, aqueles que desde o princípio da humanidade se tenta explicar em tantas línguas mas que ela faz descaso, porque é a mãe de todos eles. Se ela fala de amor você consegue sentir ele por dentro e se estiver em sintonia é até capaz de entender. É bem verdade que é seletiva e não se abre para qualquer um, mas sempre responde àqueles que sinceramente a procuram.
A música serve para aquecer ambientes. Aqueles lugares escuros e frios não conseguem ser mais os mesmos quando está presente. Ela não deixa. Ela pode transformá-los em ambientes saudosos, melancólicos e até doloridos, pesados, angustiados. Mas o fato é que dá cores, mesmo que sejam tons de cinza, e dá vida, mesmo que seja a morte.
Além disso ela serve para gozar. E quando eu digo, I mean it! Serve pra fazer você sufocar de dentro pra fora e sentir sua pele queimar de prazer. Como se você não fosse capaz de sobreviver ao momento de sua partida porque ela está em você como um câncer que se espalha e se enraíza provindo de um tumor no coração.
Serve para fazer sorrir, para fazer chorar, para enfeitar o amor, espantar a dor, para gravar, para apagar, para esconder, para lembrar, para vomitar a dor para fora de você, ou para ajudar a engolir. Para brincar, namorar, distrair, estudar, trabalhar, entender, concentrar, relaxar, tencionar, inspirar, transpirar e até para comer! Saborear seu enredo delicado. Ou não.
No final, ela serve para deixar cansado quando vai embora. Porque ela suga a essência, brinca com a alma e deixa quase em coma de tão fraco. Apenas jogado no chão, como mais um amante, mais um fã. Ela se alimenta de você, e por isso você faz parte dela. Ela te mantém vivo, por isso faz parte de você. Para alguns ela é ainda mais sedutora: se deixa desenhar, manipular e chega a posar de modelo. Mal sabem eles que não têm poder nenhum. Ela é a musa. Outros ainda, jurariam possuir tal privilégio, no entanto, ele cabe a um público minoritário, que não me inclui, mas que estou disposta a pagar o preço de ingresso. Sempre no tempo dela.
Morena - set/09
sábado, 12 de setembro de 2009
Crenças...
- É que eu acreditei... – de repente todo mundo entendeu.
Acendi o último cigarro da carteira e fumei de olhos fechados. No meio da fumaça, soprei minha vida e a vi se esvair no vento, sendo levada para longe de mim. Eu, que não bebo, quis pedir uma caipirinha gelada mas acabei me embebedando de uísque, para aquecer o coração.
Que existência era aquela que eu estava aceitando? Me deixaria destruir assim? Uma nova vida estava às portas e eu faria disso o fim da minha própria?
Acordei com um rato me encarando e vomitei toda a minha angústia. Já que eu mesma não podia, pedi ao céu que chovesse pra mim e lavasse meus olhos secos e sujos de temores.
- É que eu acreditei... – e de repente ninguém mais me julgou.
Morena - set/09
Acendi o último cigarro da carteira e fumei de olhos fechados. No meio da fumaça, soprei minha vida e a vi se esvair no vento, sendo levada para longe de mim. Eu, que não bebo, quis pedir uma caipirinha gelada mas acabei me embebedando de uísque, para aquecer o coração.
Que existência era aquela que eu estava aceitando? Me deixaria destruir assim? Uma nova vida estava às portas e eu faria disso o fim da minha própria?
Acordei com um rato me encarando e vomitei toda a minha angústia. Já que eu mesma não podia, pedi ao céu que chovesse pra mim e lavasse meus olhos secos e sujos de temores.
- É que eu acreditei... – e de repente ninguém mais me julgou.
Morena - set/09
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Ela odeia ficar doente.
Ela odeia ficar doente. Mesmo assim finge que não está e vai trabalhar. Talvez só para vê-lo.
Ela sabe que ele também está doente, mas não teve vontade de ligar. Olhar para ele, mostrar-lhe uma música e não ter que pagar depois as horas perdidas parece suficientemente atraente para levantar da cama e tomar um banho frio.
Ele chega atrasado, mas está lá, lindo como sempre, o cabelo liso partido de lado e espetado que atrai insistentemente os dedos dela. Como se ainda pudesse lembrar da reação em cadeia que aquele toque causava...
Ela sorri ao olhar para ele e não encontrar o doente, mas apenas ele. Ele foge de seus olhos com a face corada, como se ela não pudesse perceber. Ela ainda o vê se encher de remédios mas sabe da pequena eficácia que terão. Pensa em intervir e chega até a fazer um comentário, mas lembra a tempo que ele já não é sua jurisdição.
Como eu disse, ela odeia ficar doente. Mas dessa vez não tem opção. Fica em casa e assiste a uma comédia ridícula, do tipo romântica, onde ele é lindo, ela também, eles brigam o tempo todo mas se entendem no final e vivem felizes para sempre. Ela lembra porque não gosta de televisão enquanto uma lágrima solitária brilha em seu rosto. Por que ele não é o príncipe encantado? Ela votou nele, e ele se fez candidato...
Se enrolou nas cobertas e sentiu saudades. Tanta que quis voltar, se pudesse viveria tudo de novo só para sentir o cheiro dele, pra sentir suas unhas compridas a acariciar seu rosto, seus olhinhos brilhando quando a via de saia ou para saber tudo o que ele sentia por ela. Para ouvi-lo assobiar canções e gaguejar quando ela lhe dizia não. Não voltaria para fazer nada diferente, para se desculpar ou aproveitar melhor porque se arrepende ou algo assim. Voltaria apenas para viver de novo e apertaria o play naquele dia que se esbarraram no corredor pela primeira vez.
Viveria de novo e de novo e de novo como a um filme favorito. Relembraria com as pontas dos dedos de cada traço do seu rosto e sentiria seu coração vivo dentro do peito.
Não, ela não o quer de novo. Não depois do que ele fez. De quem ele fez. Mas não pode evitar que mais algumas lágrimas venham fazer companhia àquela primeira de minutos atrás.
Ela troca de canal a procura de violência, crime, morte e muito sangue. Nem sei se é possível explicar, mas pela primeira vez em dias ela pára de tossir. E de lembrar.
Morena - set/09
Ela sabe que ele também está doente, mas não teve vontade de ligar. Olhar para ele, mostrar-lhe uma música e não ter que pagar depois as horas perdidas parece suficientemente atraente para levantar da cama e tomar um banho frio.
Ele chega atrasado, mas está lá, lindo como sempre, o cabelo liso partido de lado e espetado que atrai insistentemente os dedos dela. Como se ainda pudesse lembrar da reação em cadeia que aquele toque causava...
Ela sorri ao olhar para ele e não encontrar o doente, mas apenas ele. Ele foge de seus olhos com a face corada, como se ela não pudesse perceber. Ela ainda o vê se encher de remédios mas sabe da pequena eficácia que terão. Pensa em intervir e chega até a fazer um comentário, mas lembra a tempo que ele já não é sua jurisdição.
Como eu disse, ela odeia ficar doente. Mas dessa vez não tem opção. Fica em casa e assiste a uma comédia ridícula, do tipo romântica, onde ele é lindo, ela também, eles brigam o tempo todo mas se entendem no final e vivem felizes para sempre. Ela lembra porque não gosta de televisão enquanto uma lágrima solitária brilha em seu rosto. Por que ele não é o príncipe encantado? Ela votou nele, e ele se fez candidato...
Se enrolou nas cobertas e sentiu saudades. Tanta que quis voltar, se pudesse viveria tudo de novo só para sentir o cheiro dele, pra sentir suas unhas compridas a acariciar seu rosto, seus olhinhos brilhando quando a via de saia ou para saber tudo o que ele sentia por ela. Para ouvi-lo assobiar canções e gaguejar quando ela lhe dizia não. Não voltaria para fazer nada diferente, para se desculpar ou aproveitar melhor porque se arrepende ou algo assim. Voltaria apenas para viver de novo e apertaria o play naquele dia que se esbarraram no corredor pela primeira vez.
Viveria de novo e de novo e de novo como a um filme favorito. Relembraria com as pontas dos dedos de cada traço do seu rosto e sentiria seu coração vivo dentro do peito.
Não, ela não o quer de novo. Não depois do que ele fez. De quem ele fez. Mas não pode evitar que mais algumas lágrimas venham fazer companhia àquela primeira de minutos atrás.
Ela troca de canal a procura de violência, crime, morte e muito sangue. Nem sei se é possível explicar, mas pela primeira vez em dias ela pára de tossir. E de lembrar.
Morena - set/09
domingo, 6 de setembro de 2009
Coquetel com a justiça
Essa semana um amigo me chamou para vê-lo tocar no STJ, entrei na internet e constatei: música ao vivo, arte visual e comida de graça. Por que não?
Ao chegar, fui orientada inclusive sobre a vaga que deveria estacionar. Achei divertido receber toda aquela atenção mas só comecei a entender o que estava acontecendo a partir do momento que tive que colocar minha bolsa na esteira do raio x e passar por um detector de metais. Inclinei a cabeça e me observei de baixo para cima: sandália de couro, calça de tecido estampadíssima, uma camiseta de mangas curtas acompanhada de um casaquinho simpático. Os brincos tocavam os ombros, o cabelo sempre despenteado e uma bolsa de couro enorme e velha. “Ainda bem que eu sou artista!” pensei rindo sozinha, e entrei no elevador já me sentindo meio Luiz Fernando Veríssimo, sentindo o cheiro da crônica que aquele evento guardaria no forno.
“Segundo andar. Descendo...” E eu me deparo com um salão enorme com um chão do tipo que dá até pra comer neles de tão limpo e brilhoso. Para chegar nesse salão, um corredor extenso com várias fotos de ministros pelas paredes e um chorinho gostoso no final da linha.
Fui me aproximando confiante em meio a saltos e gravatas, encostei na bancada ao lado dos músicos e estive lá apenas até que todos tivessem notado minha presença, nada discreta, e tivessem me sorrido com uma expressão de surpresa. Mas, para não pagar de tiete, resolvi dar uma volta na exposição: pintura contemporânea. Na verdade me atrevo a chamar assim mas é por pura ignorância no ramo das artes plásticas: não sei apreciar uma obra constituída de tinta colorida desordenadamente posicionada em uma tela.
Tentei resistir ao “pré-conceito” e observar obra por obra com cautela. A falta de título tornava minha observação ainda mais complicada: como entrar na viagem de uma pessoa que recorta trechos de um jornal escrito em francês e cola em alto relevo numa tela de tintas misturadas e cantos manchados? No que ela estaria pensando? Seria ela francesa? Sobrenome: Tapajós... Improvável, mas possível.
Mais a frente um quadro vermelho com círculos em tons de vinho. Ah! Esse tem nome: “Vermelho”. Hum... não ajudou muito. Mas já no final da minha andança, quando me encontrava quase completamente desestimulada e minha mente se limitava a acompanhar o paladar na degustação daqueles deliciosos canapés de salmão; me encontrei hipnotizada na frente de um redemoinho em alto relevo colorido de verde, laranja e marrom: “Coração da Terra”. E o meu próprio coração se apaixonou pelo dela... Não sei dizer quanto tempo fiquei ali, só sei que demorei a identificar o celular vibrando no bolso e no auge do seqüestro da alma pela imagem, iniciou-se uma seção terapêutica.
- E o seu “ex-amor”? Como vai?
Dei um passo para trás e olhei para o lado:
- Está aqui tocando...
E o próximo diálogo me levou a encarar o terceiro personagem da noite: a maluca, obcecada, que persegue o cara descobrindo onde ele vai e aparece “sem querer” só para estar ao alcance dos olhos se, por acaso, ele quiser voltar. Não! Torci o nariz de repulsa e tentei voltar para a artista, observadora, crítica, capaz de se deixar roubar pelos olhos. Ainda fui capaz de notar uma última tela em tons de verde, azul e branco. Não me lembro do título, mas poderia se chamar apenas “Mar” que seria capaz de cumprir seus propósitos. Linda, ela era a onda, vista de cima quebrando na praia... já pude sentir o cheiro de mar, camarão, sol, a textura da areia fugindo de debaixo dos meus pés no recuo do mar, a viagem que ele inventou, que eu planejei, mas que nunca aconteceu... saco! Lá vou eu de novo. Não foi por isso que eu vim!
Voltei ao salão principal tentando ressuscitar a tiete mas já não podia encará-los tocando, a obcecada não me deixava relaxar com vontade de também fazer parte da cena, mesmo que nunca tenha sido convidada a fazer nem uma ponta que seja nos dramas da minha vida.
Sentei no sofá confortável a devorar os canapés e curtir aquele repertório delicioso que rolava do outro lado do salão. Na hora pensei “é uma pena que não bebo”, apenas porque o champanhe estava rolando solto, mas depois lembrei do quanto acho um máximo estar sempre sóbria e aquela sensação passou. Quarto personagem: abusada, morta de fome. Logo transformei na oportunista e me senti com mais classe. Rata de obras de arte e saraus talvez? E de repente já estava cumprimentado as pessoas a minha volta e regendo a música de fundo já quase com vontade de começar a “vazar” num pedido de respeito ao sabor delicado do cavaco.
Mas o raio da obcecada estava grudada na sola do meu pé e volta e meia me soprava na mente “confessa! Você só veio por causa dele”. “Hora de ir!”, decidi de repente, e desapareci no meio do povo ao som de Pixinguinha...
Morena set/09
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Minha vida...
Palco: tensão, raiva, insegurança, adrenalina, alegria, medo, risco.
Camarim: sorrisos, conversas, agradecimentos, petiscos, projeto, proposta.
Telefone: animação, alegria, idéias, encontro.
Escritório: confusão, oposição, mais idéias, experiência, falta de experiência, conformismo, humildade, nova proposta, descontentamento, tristeza, aceitação.
NÃO!
Escritório = alegria, muitas idéias, encaixe, risco, animação, tarefas, confiança, aperto de mão, trabalho.
Acho que sei o que fazer da próxima vez...
Camarim: sorrisos, conversas, agradecimentos, petiscos, projeto, proposta.
Telefone: animação, alegria, idéias, encontro.
Escritório: confusão, oposição, mais idéias, experiência, falta de experiência, conformismo, humildade, nova proposta, descontentamento, tristeza, aceitação.
NÃO!
Escritório = alegria, muitas idéias, encaixe, risco, animação, tarefas, confiança, aperto de mão, trabalho.
Acho que sei o que fazer da próxima vez...
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Momentos
Ele chegou perto dela e deu-lhe um gostoso abraço. Daqueles que você pára de pensar, para de se preocupar e só sente o momento. Daqueles que você não fica sem graça pensando em "quem vai soltar primeiro". Você só sente a respiração do outro no seu próprio pescoço sem admitir, apenas porque não está pensando, que não quer soltar nunca mais.
Ela olhou nos olhos dele, os pequeninos olhos castanhos, e sorriu.
Ele, com o polegar de unhas compridas, enxugou uma lágrima furtiva e apertou os olhinhos como se dissesse "não fica assim".
Ela virou o rosto e beijou sua mão enquanto a pressionava contra o próprio rosto. O fazia de olhos fechados e sentia novamente, como aquele abraço.
Ele desceu do carro. Deu a volta e abriu a porta dela, onde ficou a olhá-la por alguns instantes, a observar as novas lágrimas que já rolavam sem vergonha pela face. Passou a mão por suas costas num afago e acabou por tomá-la novamente em seus braços.
Ela, entre soluços, o apertou com fimeza, já sem sentir o toque mas apenas desejando prendê-lo.
Ele a segurou com delicadeza sem querer acreditar.
Como sempre, ela soltou primeiro e, sem se olhar, por covardia ou comodismo; cada um seguiu seu rumo arrastando o passado consigo, mas sem vontade de olhar para trás.
Morena - ago/09
Ela olhou nos olhos dele, os pequeninos olhos castanhos, e sorriu.
Ele, com o polegar de unhas compridas, enxugou uma lágrima furtiva e apertou os olhinhos como se dissesse "não fica assim".
Ela virou o rosto e beijou sua mão enquanto a pressionava contra o próprio rosto. O fazia de olhos fechados e sentia novamente, como aquele abraço.
Ele desceu do carro. Deu a volta e abriu a porta dela, onde ficou a olhá-la por alguns instantes, a observar as novas lágrimas que já rolavam sem vergonha pela face. Passou a mão por suas costas num afago e acabou por tomá-la novamente em seus braços.
Ela, entre soluços, o apertou com fimeza, já sem sentir o toque mas apenas desejando prendê-lo.
Ele a segurou com delicadeza sem querer acreditar.
Como sempre, ela soltou primeiro e, sem se olhar, por covardia ou comodismo; cada um seguiu seu rumo arrastando o passado consigo, mas sem vontade de olhar para trás.
Morena - ago/09
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Tempo
Acordei de manhã cedo e saí de casa com uma blusa de lã. Odeio tempo assim: nublado, frio, triste... Gosto de acordar com o sol rachando e levantar porque estou começando a suar, andar nas ruas de sandália e imaginar que nasci mesmo no lugar errado! Nesse interiorzão de país sem praia.
Se ainda acordasse com o barulho da chuva, abrisse os olhos e me enfiasse debaixo da coberta pra matar o que quer que seja que me fizesse levantar tão cedo, estaria tudo bem! Dias assim também são bons pra assistir um filme abraçadinho e tomar chocolate quente.
Ainda num terceiro cenário penso em uma manhã ensolarada com chuva! Daquelas que você sai correndo pra pular nas poças de água e sentir o gostinho das gotas caindo diretamente na língua (aliás, ainda bem que eu só tenho 13 anos!). Não é a chuva o problema, só porque hoje eu não vou trabalhar de metrô, mas o clima! Aquela coisa nublada com cara de dia de desgraça, daqueles que sua vó abre a janela e diz "É... hoje é um daqueles dias..." Aquele frio sem sol e sem chuva, escuro, onde se vê as pessoas caminhando cabisbaixas sem se olhar nos olhos, sem dar "bom dia". São dias assim que me fazem pensar em nem sair na rua. Ficar em casa trocando de canal o dia todo e comendo uma caixa de trufas (só mordendo pra descobrir o sabor e jogando lá dentro de novo...) ai! Só de pensar já me sinto gorda! Não que eu esteja, mas sabe aquela sensação de flacidez e sedetariedade?
af!!! ODEIO dias nublados...
Se ainda acordasse com o barulho da chuva, abrisse os olhos e me enfiasse debaixo da coberta pra matar o que quer que seja que me fizesse levantar tão cedo, estaria tudo bem! Dias assim também são bons pra assistir um filme abraçadinho e tomar chocolate quente.
Ainda num terceiro cenário penso em uma manhã ensolarada com chuva! Daquelas que você sai correndo pra pular nas poças de água e sentir o gostinho das gotas caindo diretamente na língua (aliás, ainda bem que eu só tenho 13 anos!). Não é a chuva o problema, só porque hoje eu não vou trabalhar de metrô, mas o clima! Aquela coisa nublada com cara de dia de desgraça, daqueles que sua vó abre a janela e diz "É... hoje é um daqueles dias..." Aquele frio sem sol e sem chuva, escuro, onde se vê as pessoas caminhando cabisbaixas sem se olhar nos olhos, sem dar "bom dia". São dias assim que me fazem pensar em nem sair na rua. Ficar em casa trocando de canal o dia todo e comendo uma caixa de trufas (só mordendo pra descobrir o sabor e jogando lá dentro de novo...) ai! Só de pensar já me sinto gorda! Não que eu esteja, mas sabe aquela sensação de flacidez e sedetariedade?
af!!! ODEIO dias nublados...
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Capim
"Capim do Vale
Vara de goiabeira na beira do rio
Paro para me benzer
Mãe d'água, sai um pouquinho desse seu leito-ninho
Que eu tenho um carinho para lhe fazer
Pinheiros do Paraná, que bom tê-los
Como areia no mar
Mangas do Pará
Pitombeiras da Borborema
A ema gemeu no tronco do Juremá
Cacique perdeu, mas lutou que eu vi
Jari não é Deus, mas acham que sim
Que fim levou o amor?
Plantei um pé de fulô
Deu capim"
Coloquei no meu orkut "plantei um pé de fulô deu capim". E me reclamaram dizendo que a culpa é minha, que não cuidei. Engraçado que nunca fiz essa leitura, a mais óbvia por certo, de que deu capim em volta da flor.
Pra mim eu plantei a flor, juro que plantei. Escolhi cada sementinha com cuidado, deitei na terra fofa com carinho e tratei de cobrir com beijinhos de boa noite. Só que nasceu capim...
"Que fim levou o amor?"
Vara de goiabeira na beira do rio
Paro para me benzer
Mãe d'água, sai um pouquinho desse seu leito-ninho
Que eu tenho um carinho para lhe fazer
Pinheiros do Paraná, que bom tê-los
Como areia no mar
Mangas do Pará
Pitombeiras da Borborema
A ema gemeu no tronco do Juremá
Cacique perdeu, mas lutou que eu vi
Jari não é Deus, mas acham que sim
Que fim levou o amor?
Plantei um pé de fulô
Deu capim"
Coloquei no meu orkut "plantei um pé de fulô deu capim". E me reclamaram dizendo que a culpa é minha, que não cuidei. Engraçado que nunca fiz essa leitura, a mais óbvia por certo, de que deu capim em volta da flor.
Pra mim eu plantei a flor, juro que plantei. Escolhi cada sementinha com cuidado, deitei na terra fofa com carinho e tratei de cobrir com beijinhos de boa noite. Só que nasceu capim...
"Que fim levou o amor?"
sábado, 22 de agosto de 2009
Música x Textos
Em um desses raros momentos de entrar na net e ainda não ter recebido resposta dos e-mails enviados, o orkut não ter nada de novo, e ainda o pior de tudo: O "um que tenha" ter saído do ar (alguém sabe o que aconteceu???) resolvi dar uma conferida em um dos meus blogs favoritos: Frenesi. Dei risadas, fiz comentários e fui conferir outro blog de que gosto muito: roendo unhas. Daí lembrei que a Bárbara reclamou "você nunca atualiza seu blog!" É. Não sou o que pode se chamar de "bloguera" ou algo assim... Entro na net só pra conferir mensagens e baixar músicas (o que tá sendo um INFERNO agora sem meu site favorito... =S)
Em fim, resolvi fazer também um "diário" das minhas pálas e reflexões, talvez assim vocês façam comentários quando passarem por aqui e não só na rua quando me encontrarem...
Estou passando por uma numa fase (espera-se que permanente) super musical. Tomo banho escutando música, dirijo, como, estudo, leio e quando por algum motivo fico sem música (por exemplo quando volto do trampo e são malditas 19h e eu estou sem o pendrive), parece que vou enlouquecer de solidão!!! Ou de tédio... o que vier primeiro. Talvez por isso começo a sentir meus textos inadequados ou apenas me sentir estéril. Lembram daquela propaganda de cursinho de inglês que o cara estava no avião e quando ele abria a boca pra falar o vocabulário dele ia pulando de paraquedas? É mais ou menos isso... Sabe aquela sensação de vomitar que se tem quando senta no pc e libera toda aquela raiva da conversa de hoje de tarde que você se controlou? Pois é... Sempre pensava "ah cretino... quando eu chegar em casa você vai ver!" Daí chegava em casa escrevia qualquer coisa que me libertasse e pronto! Ficava por isso mesmo. Mas parece que não mais.
Percebi isso no dia da roda de samba, quem foi vai lembrar, quando eu comecei a recitar um texto que eu escrevi em um momento de muita raiva. Antes de começar o show, além de nervosa eu estava furiosa com algumas coisas e pra nao estragar tudo, mordi a língua e esperei pra soltar tudo no texto. Só que na hora eu entendi. Ele nao comportava a minha dor, a minha angústia, a minha raiva... Me deu um nó na garganta e uma vontade de chorar. Eu sei, podia ter chorado e pagado de atriz ainda! heheh mas o texto não comportava. Ele era sínico, não cabiam lágrimas. Sabe aquela sensação de fechar a boca até encontrar um saco de vômito e quando você está finalmente pronta percebe que o raio do saco tá furado? Foi tipo isso. O que fazer? É nojento o que eu vou falar mas é a verdade: engolir tudo e sorrir! No caso até funcionou, mas e agora? Onde jogo as minhas emoções? Eu não bebo pra poder alucinar e dar desculpa de "não lembro de nada" ou "eu tava bêbada"...
Em virtude disso tomei uma decisão muito séria e quero anunciar publicamente que a partir de hoje além de cantora eu também vou ser compositora. Talvez seja isso que me falte: o casamento da melodia com as palavras. E eu vou arriscar. Já escrevi várias cancoes mas sempre rasgava e jogava tudo fora, agora penso diferente: nao posso escrever nada bom sem ter escrito algo bem ruim antes. Afinal, Choro Bandido nao foi a primeira cancao do Chico correto? Certo que deve ter sido alguma coisa linda porque afinal... Bom, eu nao sou o Chico. A boa notícia é que essa semana já me vieram duas idéias de cancoes! E a má é que ainda estou na fase "bem ruim"...
Em fim, resolvi fazer também um "diário" das minhas pálas e reflexões, talvez assim vocês façam comentários quando passarem por aqui e não só na rua quando me encontrarem...
Estou passando por uma numa fase (espera-se que permanente) super musical. Tomo banho escutando música, dirijo, como, estudo, leio e quando por algum motivo fico sem música (por exemplo quando volto do trampo e são malditas 19h e eu estou sem o pendrive), parece que vou enlouquecer de solidão!!! Ou de tédio... o que vier primeiro. Talvez por isso começo a sentir meus textos inadequados ou apenas me sentir estéril. Lembram daquela propaganda de cursinho de inglês que o cara estava no avião e quando ele abria a boca pra falar o vocabulário dele ia pulando de paraquedas? É mais ou menos isso... Sabe aquela sensação de vomitar que se tem quando senta no pc e libera toda aquela raiva da conversa de hoje de tarde que você se controlou? Pois é... Sempre pensava "ah cretino... quando eu chegar em casa você vai ver!" Daí chegava em casa escrevia qualquer coisa que me libertasse e pronto! Ficava por isso mesmo. Mas parece que não mais.
Percebi isso no dia da roda de samba, quem foi vai lembrar, quando eu comecei a recitar um texto que eu escrevi em um momento de muita raiva. Antes de começar o show, além de nervosa eu estava furiosa com algumas coisas e pra nao estragar tudo, mordi a língua e esperei pra soltar tudo no texto. Só que na hora eu entendi. Ele nao comportava a minha dor, a minha angústia, a minha raiva... Me deu um nó na garganta e uma vontade de chorar. Eu sei, podia ter chorado e pagado de atriz ainda! heheh mas o texto não comportava. Ele era sínico, não cabiam lágrimas. Sabe aquela sensação de fechar a boca até encontrar um saco de vômito e quando você está finalmente pronta percebe que o raio do saco tá furado? Foi tipo isso. O que fazer? É nojento o que eu vou falar mas é a verdade: engolir tudo e sorrir! No caso até funcionou, mas e agora? Onde jogo as minhas emoções? Eu não bebo pra poder alucinar e dar desculpa de "não lembro de nada" ou "eu tava bêbada"...
Em virtude disso tomei uma decisão muito séria e quero anunciar publicamente que a partir de hoje além de cantora eu também vou ser compositora. Talvez seja isso que me falte: o casamento da melodia com as palavras. E eu vou arriscar. Já escrevi várias cancoes mas sempre rasgava e jogava tudo fora, agora penso diferente: nao posso escrever nada bom sem ter escrito algo bem ruim antes. Afinal, Choro Bandido nao foi a primeira cancao do Chico correto? Certo que deve ter sido alguma coisa linda porque afinal... Bom, eu nao sou o Chico. A boa notícia é que essa semana já me vieram duas idéias de cancoes! E a má é que ainda estou na fase "bem ruim"...
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Estéril
Sento em minha mesa e encaro o papel em branco.
Estéril.
De onde a poesia se esvaiu para sempre...
Tento buscar outro, mas o problema continua:
mais um papel em branco.
Ligo o rádio e não posso ouvir nada...
Parece que a música também se foi para sempre.
Penso no que poderia ter feito para viver assim,
Só...
A arte corre por meu sangue mas só poderia libertá-la com a morte.
De repente não me parece um preço tão alto.
Geração infinita de poetas e músicos estéreis...
Parece que não há nada de novo. "É sempre o velho mascarado"
E dentro de mim as notas se acalmam e se misturam.
Tento gritar para ver se se assustam e não deixam de ser música...
Em vão.
Morena-jul/09
Estéril.
De onde a poesia se esvaiu para sempre...
Tento buscar outro, mas o problema continua:
mais um papel em branco.
Ligo o rádio e não posso ouvir nada...
Parece que a música também se foi para sempre.
Penso no que poderia ter feito para viver assim,
Só...
A arte corre por meu sangue mas só poderia libertá-la com a morte.
De repente não me parece um preço tão alto.
Geração infinita de poetas e músicos estéreis...
Parece que não há nada de novo. "É sempre o velho mascarado"
E dentro de mim as notas se acalmam e se misturam.
Tento gritar para ver se se assustam e não deixam de ser música...
Em vão.
Morena-jul/09
Comédia Romântica
Poderia nem estar pensando,
Poderia passar em frente a sua casa e nem notar,
Poderia escutar sua música favorita sem a ouvir...
Poderia até fechar os olhos e não sentir sua falta.
Mas como poderia?
Somos protagonistas de uma comédia romântica
E o resto do mundo é apenas um belo cenário:
Abaixo, um solo gramado,
Acima, um luar gigante,
Entre quatro paredes de estrelas...
Como seria?
Como qualquer um desses romances, de três personagens,
Diferente apenas por ser nosso:
Você, um mocinho divertido.
Eu, apenas mais uma dessas mocinhas bobas.
O grande vilão, a saudade.
Batia em suas costas incessantemente,
Mas meus gritos não comoviam um coração de pedra.
Mesmo assim, ele me carregava em seus ombros
E me matava a cada passo.
Intrigante,
Porque ao mesmo tempo que me mata,
Me alenta,
Dá sentido a minha vida que se esvai a cada passo...
A cada passo...
A cada passo ele me tirava de você,
Confundia minhas lembranças,
Apertava meu peito...
Eu gritava... cada vez mais...
Só você podia me salvar.
Então, como grande super-herói,
Chegou distribuindo socos
E me levando em seus braços...
O vilão é cruel, mas necessário.
Porque se não tem vilão,
Não tem mocinho.
E se não existe mocinho,
Pra quê uma mocinha?
E se não tem mocinho nem mocinha,
Não tem história de amor,
Não tem eu e você...
Não tem nossos rostos mal pintados
Nas capas dos livros de história,
Nem o meu medo de te perder
E a sua coragem de não me deixar perder.
Daí o mundo fica triste.
Mas a história se repete e a saudade ainda existe,
Apenas para nos deixar viver felizes para sempre
Entre mocinhas e bandidos.
Morena - dez/03
Poderia passar em frente a sua casa e nem notar,
Poderia escutar sua música favorita sem a ouvir...
Poderia até fechar os olhos e não sentir sua falta.
Mas como poderia?
Somos protagonistas de uma comédia romântica
E o resto do mundo é apenas um belo cenário:
Abaixo, um solo gramado,
Acima, um luar gigante,
Entre quatro paredes de estrelas...
Como seria?
Como qualquer um desses romances, de três personagens,
Diferente apenas por ser nosso:
Você, um mocinho divertido.
Eu, apenas mais uma dessas mocinhas bobas.
O grande vilão, a saudade.
Batia em suas costas incessantemente,
Mas meus gritos não comoviam um coração de pedra.
Mesmo assim, ele me carregava em seus ombros
E me matava a cada passo.
Intrigante,
Porque ao mesmo tempo que me mata,
Me alenta,
Dá sentido a minha vida que se esvai a cada passo...
A cada passo...
A cada passo ele me tirava de você,
Confundia minhas lembranças,
Apertava meu peito...
Eu gritava... cada vez mais...
Só você podia me salvar.
Então, como grande super-herói,
Chegou distribuindo socos
E me levando em seus braços...
O vilão é cruel, mas necessário.
Porque se não tem vilão,
Não tem mocinho.
E se não existe mocinho,
Pra quê uma mocinha?
E se não tem mocinho nem mocinha,
Não tem história de amor,
Não tem eu e você...
Não tem nossos rostos mal pintados
Nas capas dos livros de história,
Nem o meu medo de te perder
E a sua coragem de não me deixar perder.
Daí o mundo fica triste.
Mas a história se repete e a saudade ainda existe,
Apenas para nos deixar viver felizes para sempre
Entre mocinhas e bandidos.
Morena - dez/03
Passarinhos Passarão
De repente parei de me sentir mal, de sentir pena de mim e resolvi deixar doer o que tinha de doer. Uma hora dessas aí passava e tudo voltava ao normal.
Só não esperava que fosse tão rápido...
Aprendi que quanto mais medo se tem, mais dor se sente.
Daí fiquei tranquila, meio sem saber o que ou como fazer já que estava meio anestesiada. Passar, passar, não passou. Eu acho... Mas a muito já não dói.
Fato.
Morena - mai/09
Só não esperava que fosse tão rápido...
Aprendi que quanto mais medo se tem, mais dor se sente.
Daí fiquei tranquila, meio sem saber o que ou como fazer já que estava meio anestesiada. Passar, passar, não passou. Eu acho... Mas a muito já não dói.
Fato.
Morena - mai/09
Soneto de Escola
Essa lembrança tem um gostinho diferente,
Tem cheiro de infância.
Me sinto num antigo romance,
Coisa de menino em tempos de escola...
Primeiro dia, primeiro caderno, primeira namorada...
Andréia, Gabriela, Fabiana...
Bons tempos aqueles,
Quando podia ter todas sem ter nenhuma.
Meninos bobos, capazes, felizes.
Desde o jardim da infância apaixonados, apaixonantes.
Apenas crianças a brincar de roda...
Infeliz do tempo que não volta,
Quem me dera voltar e ter você de novo...
Eu, você e a nossa infância perdida.
Morena - dez/03
Simplesmente você
O papel está branco.
Irremediavelmente branco.
E os versos compostos, escritos por letras invisíveis e rimas sem cor.
Não é necessário que se diga sobre o que é o poema...
Nós dois sabemos,
É o que importa.
Nós dois, que aprendemos a travar longas conversas silenciosas.
Nós dois que temos a consciência,
E nossos olhares perguntam e respondem sem que se necessite do resto.
Hoje, vim aqui para mostrar um poema simples,
Mas restrito.
Que não pode ser lido por doutores de letras,
Nem transcrito com tinta...
É um poema silencioso, branco,
Onde se encontram todas as rimas e nenhuma ao mesmo tempo.
Onde apenas se sabe...
A primeira estrofe, encontra-se no brilho dos olhos.
Leia-se a segunda entre o palpitar do coração apressado.
A terceira, está no respirar furioso de quem suga o ar por onde pode,
Como pode e sua, sua de ansiedade do encontro
E cada gota carrega um verso.
As pontas dos dedos,
Que logo vaguearão carinhosamente pelas negras madeixas,
Serão palavras salpicadas e nervosamente encaixadas entre as vagas idéias.
O final encontra-se na boca fresca, de lábios entreabertos. E...
O que mais é necessário?
Nada poderia existir no mundo de mais poético e perfeito em formas,
Nenhum pintor poderia pintar,
Nenhuma palavra poderia traduzir,
Nenhum gesto poderia expressar,
Tempo nenhum poderia apagar essa imagem...
A imagem do amor...
Do meu amor:
Você.
Morena - dez/2003
Irremediavelmente branco.
E os versos compostos, escritos por letras invisíveis e rimas sem cor.
Não é necessário que se diga sobre o que é o poema...
Nós dois sabemos,
É o que importa.
Nós dois, que aprendemos a travar longas conversas silenciosas.
Nós dois que temos a consciência,
E nossos olhares perguntam e respondem sem que se necessite do resto.
Hoje, vim aqui para mostrar um poema simples,
Mas restrito.
Que não pode ser lido por doutores de letras,
Nem transcrito com tinta...
É um poema silencioso, branco,
Onde se encontram todas as rimas e nenhuma ao mesmo tempo.
Onde apenas se sabe...
A primeira estrofe, encontra-se no brilho dos olhos.
Leia-se a segunda entre o palpitar do coração apressado.
A terceira, está no respirar furioso de quem suga o ar por onde pode,
Como pode e sua, sua de ansiedade do encontro
E cada gota carrega um verso.
As pontas dos dedos,
Que logo vaguearão carinhosamente pelas negras madeixas,
Serão palavras salpicadas e nervosamente encaixadas entre as vagas idéias.
O final encontra-se na boca fresca, de lábios entreabertos. E...
O que mais é necessário?
Nada poderia existir no mundo de mais poético e perfeito em formas,
Nenhum pintor poderia pintar,
Nenhuma palavra poderia traduzir,
Nenhum gesto poderia expressar,
Tempo nenhum poderia apagar essa imagem...
A imagem do amor...
Do meu amor:
Você.
Morena - dez/2003
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Borboletas
A lagarta caminha a passos lentos em direção ao seu destino. Saberia ela o que a espera?
Provavelmente não. Ela age por instinto. Mas caminha resoluta e sabe bem o que quer, onde quer e quem quer.
Se ela tivesse a mais remota ideia dos eventos que se seguiriam, provavelmente teria titubeado, parado no meio do caminho e dado alguns passos para trás. Não. Ela não sabia. Mas mesmo assim vai até o ninho e se recolhe.
De repente, a lagarta começa a sentir seu pequeno corpo endurecer. Ela acha que está ficando mais forte! Agora nada poderá feri-la! Ela enche o peito e se torna ousada, destemida e por sua cabecinha passam vários dos seus sonhos... Só que endurece demais e a sensação é sufocante! Antes de perceber, está presa dentro de si mesma. Não pode mais sair dali. Todos os seus desejos, mágoas, alegrias, todos os seus anseios e realizações se tornam apenas devaneios e passam a fazer parte do interior solitário da triste lagarta.
O que se pode fazer? Tirá-la de lá? Não... A lagarta é uma criança, ainda tem a vida toda pela frente e terá que se descobrir sozinha. Terá de ser sua própria amiga e aliada. Quem poderá saber o que se passa dentro daquele casulo?
A lagarta pode passar meses ali. Depende da sua espécie. Depende da sua auto-estima e determinação. Depende da sua vontade de viver e de conviver. Da sua disposição...
Mas um belo dia, quando ela menos espera, uma pequena abertura aparece no casulo. Aquele que era sufocante e apertado, o mesmo casulo ingrato que causou tanta dor e sofrimento já se tornou quente e aconchegante. A lagarta não viu a placa: "não acomodar com o que incomoda" e aquela pequena abertura que a tempos seria acolhida com risos e gritos de conquista, apenas fazem com que ela feche os olhos para não sentir arder com a entrada da luz.
E aí? Acabou?
Ela, mais uma vez, não tem ideia do convite que aquele foco de luz representa, mas tem medo. E provavelmente não vai conferir, vai se virar de lado e tampar a entrada de luz com as costas. Mais fácil do que tentar sair por aquele buraquinho tão pequenininho.
Mas felizmente, ou não, só não sai do lugar quem não conhece a raiva, e na vida de cada lagarta deve existir aquele momento mágico, no limiar da sobriedade racional e da cólera insana quando em um grito de dor e desespero ela se espreme pela aberturinha. Nem ela mesma entende o que está fazendo, a raiva não permite que ela calcule suas dimensões gordas e flácidas por aquele orifício milimétrico. Não. Ela não pensa, e nem tem tempo de sentir dor. Ela só se empurra com todas as forças que tem contra aquela esperança de liberdade.
De repente pára. Ao observador, parece que desistiu. Mas não a desistência pelo desânimo, e sim pela derrota: ela não foi capaz e ponto. Mas, teria ela lutado até o fim? Até que seu corpo débil não conseguisse se erguer mais? Até que, fatigada, ela desse seu último suspiro? Não. E por certo não poderia continuar a viver sem a certeza de que era realmente incapaz.
Dessa vez, num acesso de coragem e recheada de ideais de conquista, ela se lança novamente contra a abertura no seu casulo. Parece que a raiva dobrou, que ela chorou e finalmente acreditou em si mesma. Nas suas capacidades. Só aí o casulo rompe e ela entra em contato com o mundo exterior.
Cansada e murcha, ela respira ofegante sem compreender o que aconteceu consigo mesma. Analisa suas asas amassadas e não consegue visualizar a transformação. Ela pausa perplexa e olha ao redor.
"Quem sou eu?", "Onde estou?" Serão suas próximas perguntas caso ela não se encontre na frente de um no espelho. Nesse caso, a pergunta então será: "Quem é essa?" E ela verá que seu corpo seca e enrijece, abrindo então suas lindas asas...
Em um bater do vento ela, meio sem querer, bate também as asas e se entrega a sobrevoar a cidade. "É uma linda borboleta azul", diria uma criança a apontar seu voo. Ela é, de agora em diante, nada mais, nada menos que uma linda borboleta azul. Mesmo que não entenda bem o processo, mesmo que ainda tenha dentro de si lembranças e mágoas daquelas dores que sentiu e mesmo que ainda tenha medo de alcançar potência máxima e explorar as mais elevadas altitudes, ela é uma linda borboleta azul. E, uma vez borboleta, lagarta nunca mais.
Morena - jun/09
Provavelmente não. Ela age por instinto. Mas caminha resoluta e sabe bem o que quer, onde quer e quem quer.
Se ela tivesse a mais remota ideia dos eventos que se seguiriam, provavelmente teria titubeado, parado no meio do caminho e dado alguns passos para trás. Não. Ela não sabia. Mas mesmo assim vai até o ninho e se recolhe.
De repente, a lagarta começa a sentir seu pequeno corpo endurecer. Ela acha que está ficando mais forte! Agora nada poderá feri-la! Ela enche o peito e se torna ousada, destemida e por sua cabecinha passam vários dos seus sonhos... Só que endurece demais e a sensação é sufocante! Antes de perceber, está presa dentro de si mesma. Não pode mais sair dali. Todos os seus desejos, mágoas, alegrias, todos os seus anseios e realizações se tornam apenas devaneios e passam a fazer parte do interior solitário da triste lagarta.
O que se pode fazer? Tirá-la de lá? Não... A lagarta é uma criança, ainda tem a vida toda pela frente e terá que se descobrir sozinha. Terá de ser sua própria amiga e aliada. Quem poderá saber o que se passa dentro daquele casulo?
A lagarta pode passar meses ali. Depende da sua espécie. Depende da sua auto-estima e determinação. Depende da sua vontade de viver e de conviver. Da sua disposição...
Mas um belo dia, quando ela menos espera, uma pequena abertura aparece no casulo. Aquele que era sufocante e apertado, o mesmo casulo ingrato que causou tanta dor e sofrimento já se tornou quente e aconchegante. A lagarta não viu a placa: "não acomodar com o que incomoda" e aquela pequena abertura que a tempos seria acolhida com risos e gritos de conquista, apenas fazem com que ela feche os olhos para não sentir arder com a entrada da luz.
E aí? Acabou?
Ela, mais uma vez, não tem ideia do convite que aquele foco de luz representa, mas tem medo. E provavelmente não vai conferir, vai se virar de lado e tampar a entrada de luz com as costas. Mais fácil do que tentar sair por aquele buraquinho tão pequenininho.
Mas felizmente, ou não, só não sai do lugar quem não conhece a raiva, e na vida de cada lagarta deve existir aquele momento mágico, no limiar da sobriedade racional e da cólera insana quando em um grito de dor e desespero ela se espreme pela aberturinha. Nem ela mesma entende o que está fazendo, a raiva não permite que ela calcule suas dimensões gordas e flácidas por aquele orifício milimétrico. Não. Ela não pensa, e nem tem tempo de sentir dor. Ela só se empurra com todas as forças que tem contra aquela esperança de liberdade.
De repente pára. Ao observador, parece que desistiu. Mas não a desistência pelo desânimo, e sim pela derrota: ela não foi capaz e ponto. Mas, teria ela lutado até o fim? Até que seu corpo débil não conseguisse se erguer mais? Até que, fatigada, ela desse seu último suspiro? Não. E por certo não poderia continuar a viver sem a certeza de que era realmente incapaz.
Dessa vez, num acesso de coragem e recheada de ideais de conquista, ela se lança novamente contra a abertura no seu casulo. Parece que a raiva dobrou, que ela chorou e finalmente acreditou em si mesma. Nas suas capacidades. Só aí o casulo rompe e ela entra em contato com o mundo exterior.
Cansada e murcha, ela respira ofegante sem compreender o que aconteceu consigo mesma. Analisa suas asas amassadas e não consegue visualizar a transformação. Ela pausa perplexa e olha ao redor.
"Quem sou eu?", "Onde estou?" Serão suas próximas perguntas caso ela não se encontre na frente de um no espelho. Nesse caso, a pergunta então será: "Quem é essa?" E ela verá que seu corpo seca e enrijece, abrindo então suas lindas asas...
Em um bater do vento ela, meio sem querer, bate também as asas e se entrega a sobrevoar a cidade. "É uma linda borboleta azul", diria uma criança a apontar seu voo. Ela é, de agora em diante, nada mais, nada menos que uma linda borboleta azul. Mesmo que não entenda bem o processo, mesmo que ainda tenha dentro de si lembranças e mágoas daquelas dores que sentiu e mesmo que ainda tenha medo de alcançar potência máxima e explorar as mais elevadas altitudes, ela é uma linda borboleta azul. E, uma vez borboleta, lagarta nunca mais.
Morena - jun/09
Resgate
Me perdi e não posso me encontrar.
Não sei onde me coloquei, se você me achar, por favor, avise!
Não posso mais viver sem mim
Me amo tanto e sinto tanto a minha falta!
Me procuro nos cantos, nos contos, nos versos e nada de mim
Um dia, olhei atrás da escrivaninha e encontrei gnomos de nariz grande e cavalos alados...
Mas eu também não estava lá
Sentei em um cantinho e chorei duas lágrimas de saudades e uma de tristeza,
Pensando no tempo em que sabia o que queria,
Para onde ia e o que fazia.
Com quem fazia.
Cada dia descubro um sarau de sapos intelectuais dentro de uma gaveta,
Ou ouço o coral das cores quentes cantar com a orquestra das cores frias
Entre os cabides dos meus vestidos,
E me sinto mais perto de mim mesma
Às vezes fecho os olhos e sinto minha respiração forte,
Mas quando abro, só vejo o escuro vazio de estar sem mim...
Espero que seja em breve,
Que em breve consiga me encontrar,
Poder sentir meu proprio cheiro ja me enche de esperancas...
E quando em fim esse dia chegar,
Já vou saber falar todas as línguas das minhas descobertas e,
De repente o mundo de dentro de mim vai sair do meu quarto e conquistar a casa toda,
Crescendo e crescendo até tomar a rua, a quadra...
Quando isso acontecer,
Quando puder finalmente me entender,
Estarei finalmente pronta para encontrar você.
Morena-jun/09
Não sei onde me coloquei, se você me achar, por favor, avise!
Não posso mais viver sem mim
Me amo tanto e sinto tanto a minha falta!
Me procuro nos cantos, nos contos, nos versos e nada de mim
Um dia, olhei atrás da escrivaninha e encontrei gnomos de nariz grande e cavalos alados...
Mas eu também não estava lá
Sentei em um cantinho e chorei duas lágrimas de saudades e uma de tristeza,
Pensando no tempo em que sabia o que queria,
Para onde ia e o que fazia.
Com quem fazia.
Cada dia descubro um sarau de sapos intelectuais dentro de uma gaveta,
Ou ouço o coral das cores quentes cantar com a orquestra das cores frias
Entre os cabides dos meus vestidos,
E me sinto mais perto de mim mesma
Às vezes fecho os olhos e sinto minha respiração forte,
Mas quando abro, só vejo o escuro vazio de estar sem mim...
Espero que seja em breve,
Que em breve consiga me encontrar,
Poder sentir meu proprio cheiro ja me enche de esperancas...
E quando em fim esse dia chegar,
Já vou saber falar todas as línguas das minhas descobertas e,
De repente o mundo de dentro de mim vai sair do meu quarto e conquistar a casa toda,
Crescendo e crescendo até tomar a rua, a quadra...
Quando isso acontecer,
Quando puder finalmente me entender,
Estarei finalmente pronta para encontrar você.
Morena-jun/09
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Quem me dera...
Quem me dera dormir e sonhar com o som macio de dois violões machucados, de chorões ousados a cantar cantigas de amor!
Quem me dera você só dissesse a verdade e deixasse a maldade que outrora alguém te ensinou.
Quem me dera!
Quem me dera você pudesse entender que vai passar pelo mundo pisando corações alheios,
se equilibrando em falsos desejos, mas só vai recolher beijos insossos, como o som de um instrumento mal tocado.
Quem me dera olhar pra você e dizer que vai acabar de bolsos vazios, que só enganou a si mesmo e que nem com o tal do status vai conseguir impor respeito.
Quem me dera você entendesse que eu me importo. Que eu não minto.
Quem me dera gritar do alto de um prédio que você não pode me ferir se eu não deixar. Então, pra que negar?
Quem me dera você pudesse perceber que desfiles sem contexto, não fazem história.
É você quem nunca vai me esquecer. Não adianta tentar.
Quem me dera poder sorrir por dias inteiros e ouvir sempre o tal pandeiro endiabrado enquanto eu sambo sem máscara.
Ah! Quem me dera dormir e sonhar com aquela madrugada em casa ao som de dois violões, fechar os olhos e acordar...
Quem me dera!
Morena - mai/09
Quem me dera você só dissesse a verdade e deixasse a maldade que outrora alguém te ensinou.
Quem me dera!
Quem me dera você pudesse entender que vai passar pelo mundo pisando corações alheios,
se equilibrando em falsos desejos, mas só vai recolher beijos insossos, como o som de um instrumento mal tocado.
Quem me dera olhar pra você e dizer que vai acabar de bolsos vazios, que só enganou a si mesmo e que nem com o tal do status vai conseguir impor respeito.
Quem me dera você entendesse que eu me importo. Que eu não minto.
Quem me dera gritar do alto de um prédio que você não pode me ferir se eu não deixar. Então, pra que negar?
Quem me dera você pudesse perceber que desfiles sem contexto, não fazem história.
É você quem nunca vai me esquecer. Não adianta tentar.
Quem me dera poder sorrir por dias inteiros e ouvir sempre o tal pandeiro endiabrado enquanto eu sambo sem máscara.
Ah! Quem me dera dormir e sonhar com aquela madrugada em casa ao som de dois violões, fechar os olhos e acordar...
Quem me dera!
Morena - mai/09
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Passarinhos
Por que será que vejo o mesmo filme tantas e tantas vezes nessa televisão velha?
Sento de calça branca no sofá cor de rosa e deixo minhas chinelas azuis espalhadas pelo chão. Pego a vasilha amarela, que está cheia de pipoca, de cima da mesa e aperto o play.
Será que meu passarinho não gosta mais de mim? Não veio cantar hoje na minha janela...
Deitada no sofá azul, brinco com minhas chinelas brancas no chão. Gosto de pensar que estou num barco e elas são peixinhos que seguem meu dedo indicador para onde ele for.
Nada de passarinhos.
Penso na minha vida e reparo nas bolinhas da minha calça cor de rosa: pequenas pintinhas disformes, como os meus sonhos...
Fico de pé no sofá branco e ensaio um belo discurso para te convencer de qualquer coisa. Caminho de um lado para o outro como se soubesse do que falo, até cair sentada em frente à televisão velha e ver o mesmo filho. Quero tirar o pé do sofá amarelo para provar a água. Mas minhas meias são de jacarés. Tenho medo de que comam os dois peixinhos 34.
Ouço a porta fechada e penso se não são os passarinhos que resolveram, em fim, vir me ver. Parece que não... E na TV, o mesmo fio se reparte.
Porque tudo muda o nada e nada muda tudo. Eu falo sem dizer, mudo sem saber e sem querer. E no fim só tenho muito medo de perder você.
Por que será que reparo o mesmo fio tantas e tantas vezes nessa televisão velha?
Gosto de calça branca no sofá cor de rosa e tenho minhas chinelas azuis espalhadas pelo chão. Quero a vasilha amarela, que está cheia de pipoca, de cima da mesa e sento o play.
Será que meu passarinho não gosta mais de mim? Não veio dizer hoje na minha janela...
Deitada no sofá azul, vejo com minhas chinelas brancas no chão. Fico de pensar que estou num barco e elas são peixinhos que seguem meu dedo indicador para onde ele for.
Nada de passarinhos.
Ouço na minha vida e brinco nas bolinhas da minha calça cor de rosa: pequenas pintinhas disformes, como os meus sonhos...
Caminho de pé no sofá branco e aperto um belo discurso para te ver de qualquer coisa. Penso de um lado para o outro como se soubesse do que mudo, até cantar sentada em frente à televisão velha e querer o mesmo filme. Deixo ver o pé do sofá amarelo para convencer a água. Mas minhas meias são de jacarés. Ensaio o medo de que comam os dois peixinhos 34.
Quero a porta fechada e falo se não são os passarinhos que resolveram, em fim, vir me perder. Parece que não... E na TV, o mesmo filho se repete.
Porque tudo muda o nada e nada muda tudo. Eu tenho sem provar, falo sem cair e sem tirar. E no fim só pego muito medo de saber você.
Silêncio! Só ouve... Acho que são os passarinhos.
Morena - abr/09
Sento de calça branca no sofá cor de rosa e deixo minhas chinelas azuis espalhadas pelo chão. Pego a vasilha amarela, que está cheia de pipoca, de cima da mesa e aperto o play.
Será que meu passarinho não gosta mais de mim? Não veio cantar hoje na minha janela...
Deitada no sofá azul, brinco com minhas chinelas brancas no chão. Gosto de pensar que estou num barco e elas são peixinhos que seguem meu dedo indicador para onde ele for.
Nada de passarinhos.
Penso na minha vida e reparo nas bolinhas da minha calça cor de rosa: pequenas pintinhas disformes, como os meus sonhos...
Fico de pé no sofá branco e ensaio um belo discurso para te convencer de qualquer coisa. Caminho de um lado para o outro como se soubesse do que falo, até cair sentada em frente à televisão velha e ver o mesmo filho. Quero tirar o pé do sofá amarelo para provar a água. Mas minhas meias são de jacarés. Tenho medo de que comam os dois peixinhos 34.
Ouço a porta fechada e penso se não são os passarinhos que resolveram, em fim, vir me ver. Parece que não... E na TV, o mesmo fio se reparte.
Porque tudo muda o nada e nada muda tudo. Eu falo sem dizer, mudo sem saber e sem querer. E no fim só tenho muito medo de perder você.
Por que será que reparo o mesmo fio tantas e tantas vezes nessa televisão velha?
Gosto de calça branca no sofá cor de rosa e tenho minhas chinelas azuis espalhadas pelo chão. Quero a vasilha amarela, que está cheia de pipoca, de cima da mesa e sento o play.
Será que meu passarinho não gosta mais de mim? Não veio dizer hoje na minha janela...
Deitada no sofá azul, vejo com minhas chinelas brancas no chão. Fico de pensar que estou num barco e elas são peixinhos que seguem meu dedo indicador para onde ele for.
Nada de passarinhos.
Ouço na minha vida e brinco nas bolinhas da minha calça cor de rosa: pequenas pintinhas disformes, como os meus sonhos...
Caminho de pé no sofá branco e aperto um belo discurso para te ver de qualquer coisa. Penso de um lado para o outro como se soubesse do que mudo, até cantar sentada em frente à televisão velha e querer o mesmo filme. Deixo ver o pé do sofá amarelo para convencer a água. Mas minhas meias são de jacarés. Ensaio o medo de que comam os dois peixinhos 34.
Quero a porta fechada e falo se não são os passarinhos que resolveram, em fim, vir me perder. Parece que não... E na TV, o mesmo filho se repete.
Porque tudo muda o nada e nada muda tudo. Eu tenho sem provar, falo sem cair e sem tirar. E no fim só pego muito medo de saber você.
Silêncio! Só ouve... Acho que são os passarinhos.
Morena - abr/09
domingo, 1 de março de 2009
Vermelho e Amarelo
Respiro fundo e sinto que já não sou mais a mesma...
Aquele brilho amarelado, rabiscado, rasgado e múltiplo de três se esforça por em fim me perdoar.
A praia, o sol e as lembranças quentes, tatuam no meu corpo o meu caminho. O meu destino.
Ah! Se eu fosse você...
Me pegava no colo, me enchia de beijos e nunca mais me dizia adeus!
Caminhava sozinha pelas ruas com a música nas costas e o sorriso do mundo!
Ah! Se eu fosse você...
Tapava os olhos pra não ver o mundo explodir e me deixava cuidar de você... Pra sempre.
Procurava a verdade num caminho denso e escuro de responsabilidade e terminava nos meus braços quentes. Porque a verdade é viva. Latente.
Se eu fosse você eu ia me entender.
Não ia me dar aula de vida, de mundo e nem de você.
Só ia me ouvir, como você já faz tão bem, sorrir e tirar o cabelo da frente dos meus olhos;
Ia fazer carinho no meu rosto e dizer:
"Bem, eu penso que..."
Porque eu adoro ouvir você: quando me trata de igual para igual.
Suas palavras me envolvem, me enroscam e eu nunca mais quero deixar de te dar toda a minha atenção.
Hoje o vermelho me invade de dentro pra fora e eu gosto.
Se você não me vê, é porque não está perto o suficiente.
É uma pena...
Mas eu não sou você.
Morena - mar/09
Aquele brilho amarelado, rabiscado, rasgado e múltiplo de três se esforça por em fim me perdoar.
A praia, o sol e as lembranças quentes, tatuam no meu corpo o meu caminho. O meu destino.
Ah! Se eu fosse você...
Me pegava no colo, me enchia de beijos e nunca mais me dizia adeus!
Caminhava sozinha pelas ruas com a música nas costas e o sorriso do mundo!
Ah! Se eu fosse você...
Tapava os olhos pra não ver o mundo explodir e me deixava cuidar de você... Pra sempre.
Procurava a verdade num caminho denso e escuro de responsabilidade e terminava nos meus braços quentes. Porque a verdade é viva. Latente.
Se eu fosse você eu ia me entender.
Não ia me dar aula de vida, de mundo e nem de você.
Só ia me ouvir, como você já faz tão bem, sorrir e tirar o cabelo da frente dos meus olhos;
Ia fazer carinho no meu rosto e dizer:
"Bem, eu penso que..."
Porque eu adoro ouvir você: quando me trata de igual para igual.
Suas palavras me envolvem, me enroscam e eu nunca mais quero deixar de te dar toda a minha atenção.
Hoje o vermelho me invade de dentro pra fora e eu gosto.
Se você não me vê, é porque não está perto o suficiente.
É uma pena...
Mas eu não sou você.
Morena - mar/09
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Seican de cêvo
Cansei de você sempre me dizer que estou errada,
Me tratar como criança
E me dizer o que fazer.
Cansei de esperar seu momento de partir,
De me partir,
E de criar coragem de fazer
o que nunca terá hora certa.
As lentes dos meus olhos
Ha muito tiram fotos embaçadas de esperança
pelo momento próximo,
Pelo momento longe,
Pelo momento inexistente...
Sinto saudades de você
E não tenho uma foto nossa pra olhar.
Cansei de fazer parte de uma mentira
Que se liga a outra mentira
Que em vão tenta preencher um vazio frio.
Os espaços só podem ser preenchidos de calor,
De matéria viva,
De verdade.
Entre uma batida e outra do meu coração eu vi você
Antes da próxima batida eu me importei
A muitas batidas eu espero,
Mais pela incapacidade de colocar minha vida de volta aos trilhos
Do que por vontade de viver assim...
Está certo em dizer que a preguiça me consome,
Devo acrescentar: a cada dia.
Tenho preguiça de te olhar e ouvir você dizer "em breve".
Nós dois sabemos que o tempo é cruel,
E que ele, como espectador de toda a vida existente,
Abandona o tédio com histórias como a nossa.
O tempo não pára,
Mas às vezes anda pra trás e reapresenta capítulos antigos
pelo simples prazer de achar que faz parte.
Ainda no fundo da minha alma te espero,
Porque te olho nos olhos e acredito que vai fazer algo
Porque olho em outros olhos, mas lembrando dos seus,
perco a vontade de ir embora...
Ainda no fundo da minha alma acredito que antes que a última lágrima queime o último retalho de tecido do meu rosto
Você vai abrir a porta
Sem desculpas nem histórias.
Me canso de acreditar em você...
Cada segundo que se passa é um a menos que me resta
E a débil chama já me mostra,
Contra o meu desejo,
que a próxima batida do meu coração pode simplesmente não vir.
Morena - fev/09
Me tratar como criança
E me dizer o que fazer.
Cansei de esperar seu momento de partir,
De me partir,
E de criar coragem de fazer
o que nunca terá hora certa.
As lentes dos meus olhos
Ha muito tiram fotos embaçadas de esperança
pelo momento próximo,
Pelo momento longe,
Pelo momento inexistente...
Sinto saudades de você
E não tenho uma foto nossa pra olhar.
Cansei de fazer parte de uma mentira
Que se liga a outra mentira
Que em vão tenta preencher um vazio frio.
Os espaços só podem ser preenchidos de calor,
De matéria viva,
De verdade.
Entre uma batida e outra do meu coração eu vi você
Antes da próxima batida eu me importei
A muitas batidas eu espero,
Mais pela incapacidade de colocar minha vida de volta aos trilhos
Do que por vontade de viver assim...
Está certo em dizer que a preguiça me consome,
Devo acrescentar: a cada dia.
Tenho preguiça de te olhar e ouvir você dizer "em breve".
Nós dois sabemos que o tempo é cruel,
E que ele, como espectador de toda a vida existente,
Abandona o tédio com histórias como a nossa.
O tempo não pára,
Mas às vezes anda pra trás e reapresenta capítulos antigos
pelo simples prazer de achar que faz parte.
Ainda no fundo da minha alma te espero,
Porque te olho nos olhos e acredito que vai fazer algo
Porque olho em outros olhos, mas lembrando dos seus,
perco a vontade de ir embora...
Ainda no fundo da minha alma acredito que antes que a última lágrima queime o último retalho de tecido do meu rosto
Você vai abrir a porta
Sem desculpas nem histórias.
Me canso de acreditar em você...
Cada segundo que se passa é um a menos que me resta
E a débil chama já me mostra,
Contra o meu desejo,
que a próxima batida do meu coração pode simplesmente não vir.
Morena - fev/09
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Daqui a um segundo
Em um segundo vou da lágrima ao riso, do mágico ao real, do religioso ao cético.
Em um segundo me envolvo em um acidente, perco o controle ou ganho respeito.
Em um segundo a vida pode acontecer e desacontecer... em apenas um segundo.
Em um segundo alguém famoso morre, em um segundo aparece no jornal e em um segundo ninguém mais se lembra disso.
Em um segundo um satélite pode percorrer vários quilômetros e em um segundo você mal pode ler esta frase.
Em um segundo a vida pode se perder ou transformar.
Em um segundo esqueci meu sorriso dentro do seu violão... e em um segundo ele fugiu junto com o seu.
Em um segundo o horário oficial brasileiro é reajustado e em um segundo ninguém mais se importa. Só não sei como. Porque em um segundo, se vive uma vida.
Em um segundo mora toda a eternidade e apenas esse instante. Que já passou...
Um segundo pra quem vive correndo é muito pra perder.
Um segundo pra quem está morrendo é muito pra ganhar.
Em um segundo um carro de fórmula 1 percorre mais de cem metros.
Em um segundo trágico, verás que sou verdadeiro em minhas palavras e em um segundo mágico, eu provo que ao meu lado é o seu lugar.
Em um segundo se pode chegar às estrelas e um homem pode mudar seu destino em um segundo ou por um segundo.
Em um único segundo posso dar a volta ao mundo nos meus sonhos, e em um segundo estou de volta.
Só me levou um segundo pra perder meu coração. Justo no dia que ia entregá-lo a você...
Em um segundo vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso...
Em um segundo percebi que era vão.
Em um segundo você virá até mim. E no mesmo segundo eu irei até você.
Em um segundo a pausa acaba. E no mesmo segundo a música começa.
Só me resta um segundo,
e espero que seja possível dizer que quero ficar com você...
Por eternos segundos...
Mas só a partir do próximo segundo: o segundo ato dessa história.
Só porque segundo após segundo acredito que quem levou meu coração foi você.
Peço a todos um segundo de silêncio... E paciência.
Morena - jan/09
Em um segundo me envolvo em um acidente, perco o controle ou ganho respeito.
Em um segundo a vida pode acontecer e desacontecer... em apenas um segundo.
Em um segundo alguém famoso morre, em um segundo aparece no jornal e em um segundo ninguém mais se lembra disso.
Em um segundo um satélite pode percorrer vários quilômetros e em um segundo você mal pode ler esta frase.
Em um segundo a vida pode se perder ou transformar.
Em um segundo esqueci meu sorriso dentro do seu violão... e em um segundo ele fugiu junto com o seu.
Em um segundo o horário oficial brasileiro é reajustado e em um segundo ninguém mais se importa. Só não sei como. Porque em um segundo, se vive uma vida.
Em um segundo mora toda a eternidade e apenas esse instante. Que já passou...
Um segundo pra quem vive correndo é muito pra perder.
Um segundo pra quem está morrendo é muito pra ganhar.
Em um segundo um carro de fórmula 1 percorre mais de cem metros.
Em um segundo trágico, verás que sou verdadeiro em minhas palavras e em um segundo mágico, eu provo que ao meu lado é o seu lugar.
Em um segundo se pode chegar às estrelas e um homem pode mudar seu destino em um segundo ou por um segundo.
Em um único segundo posso dar a volta ao mundo nos meus sonhos, e em um segundo estou de volta.
Só me levou um segundo pra perder meu coração. Justo no dia que ia entregá-lo a você...
Em um segundo vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso...
Em um segundo percebi que era vão.
Em um segundo você virá até mim. E no mesmo segundo eu irei até você.
Em um segundo a pausa acaba. E no mesmo segundo a música começa.
Só me resta um segundo,
e espero que seja possível dizer que quero ficar com você...
Por eternos segundos...
Mas só a partir do próximo segundo: o segundo ato dessa história.
Só porque segundo após segundo acredito que quem levou meu coração foi você.
Peço a todos um segundo de silêncio... E paciência.
Morena - jan/09
Tiros, pedras e rosas
"Quem nunca se apaixonou que atire a primeira pedra" - disse certa vez um homem santo a uma multidão enfurecida. Não, não foi isso o que ele disse. Mas nem por isso a frase deixa de ser verdadeira. Se estivesse lá a algum tempo atrás, eu teria segurado algo de tamanho próximo a um tijolo e perguntado despreocupadamente: "Já pode começar?" No entanto, não teria dito por se tratar de uma verdade. Teria dito apenas porque hoje sei que naquela época era verdade...
Me facina pensar que a verdade em si está em cada despertar, e que não se pode compartilhá-la completamente. Não é como um bolo que em uma fatia se prova o todo. É como no teatro: ao se entregar a um personagem se perde a possibilidade do outro. Apenas o público pode sentir correr nas veias a essência da história... Os atores só podem dar a alma pela parte que lhes cabe para que o todo seja uma única pintura, e não a junção tosca de peças desconhecidas. A verdade não pode ser transmitida completa, de graça. Ela precisa ser perseguida e desejada para então se tornar merecida. O tempo é fator determinante.
Minha verdade é que em um segundo eu perdi meu coração. Vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso... Em vão. Me sentei pra descansar com a boca seca e os pés descalços quando vi rubra e aveludada, uma rosa sombreada de negro. Seu pulsar tremia a terra num vibrar constante e nítido. Ao me aproximar, conferi lá no interior da planta o meu próprio coração, a bater forte e vivo. Por um segundo me deliciei com sua música e finalmente pude respirar. Mas em um segundo um novo impasse surgiu, quando me percebi um assassino em potencial: aquela rosa precisava de um coração, tanto quanto eu.
...... Pausa para um terrível gemido de dor e lamento; e um segundo de reflexões vazias.......
Só me resta morar na rosa, concluí. Dividir minhas mágoas, segredos, planos e realizações. Compreender sua beleza, carisma e necessidades; e assim entregar meu coração para ser seu... Um caminho de espinhos me espera, terei de me fazer pequeno e gentil o suficiente para escalar suas pétalas frágeis e admirar seu perfume como eternamente meu. No fim, o coração é um só, assim como os planos, as dores, as crenças e as próprias cores! Mas habita em dois corpos.
Me facina pensar que a verdade em si está em cada despertar, e que não se pode compartilhá-la completamente. Não é como um bolo que em uma fatia se prova o todo. É como no teatro: ao se entregar a um personagem se perde a possibilidade do outro. Apenas o público pode sentir correr nas veias a essência da história... Os atores só podem dar a alma pela parte que lhes cabe para que o todo seja uma única pintura, e não a junção tosca de peças desconhecidas. A verdade não pode ser transmitida completa, de graça. Ela precisa ser perseguida e desejada para então se tornar merecida. O tempo é fator determinante.
Minha verdade é que em um segundo eu perdi meu coração. Vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso... Em vão. Me sentei pra descansar com a boca seca e os pés descalços quando vi rubra e aveludada, uma rosa sombreada de negro. Seu pulsar tremia a terra num vibrar constante e nítido. Ao me aproximar, conferi lá no interior da planta o meu próprio coração, a bater forte e vivo. Por um segundo me deliciei com sua música e finalmente pude respirar. Mas em um segundo um novo impasse surgiu, quando me percebi um assassino em potencial: aquela rosa precisava de um coração, tanto quanto eu.
...... Pausa para um terrível gemido de dor e lamento; e um segundo de reflexões vazias.......
Só me resta morar na rosa, concluí. Dividir minhas mágoas, segredos, planos e realizações. Compreender sua beleza, carisma e necessidades; e assim entregar meu coração para ser seu... Um caminho de espinhos me espera, terei de me fazer pequeno e gentil o suficiente para escalar suas pétalas frágeis e admirar seu perfume como eternamente meu. No fim, o coração é um só, assim como os planos, as dores, as crenças e as próprias cores! Mas habita em dois corpos.
Por isso, hoje minha verdade é outra. Se acontecer de ouvir a frase de início dessa crônica, serei o primeiro a atirar rosas...
Morena - jan/09
Me, Myself and I.
Gotas de chuva no vidro da janela escondem o sol que se põe... Em cada gota posso ver meu reflexo pensativo... vejo um mosaico de mim mesma: milhões de pedacinhos disformes que me mostram inteira.
Poderia nomear cada um deles com os sentimentos de um instante e ainda me faltariam nomes e definições para a confusão de imagens que essas gotinhas formam. Sem formar nada.
Se quero sorrir, me entristeço pela impossibilidade de usar um sorriso emprestado,
Se quero chorar, meus olhos já estão secos, trincados, e também já não me pertencem.
Tive que vendê-los todos quando a instituição do meu ser declarou falência...
O que me resta é ainda sorrir e chorar em uma melodia menor, cantar meus pulmões e espalhar minha alma com meu sangue pelos ouvidos de um público inexistente...
Se sou insegura, frágil e por vezes até ingênua, é porque preciso de uma proteção externa que me envolva e me acolha da chuva e dos maus caminhos da vida.
"Preciso aprender a ser só" e pouco a pouco conhecer meus próprios limites e fraquezas. Aprender que dentro de mim moram dois e que os três devem conviver em paz:
Me, Myself and I.
Morena - jan/09
Poderia nomear cada um deles com os sentimentos de um instante e ainda me faltariam nomes e definições para a confusão de imagens que essas gotinhas formam. Sem formar nada.
Se quero sorrir, me entristeço pela impossibilidade de usar um sorriso emprestado,
Se quero chorar, meus olhos já estão secos, trincados, e também já não me pertencem.
Tive que vendê-los todos quando a instituição do meu ser declarou falência...
O que me resta é ainda sorrir e chorar em uma melodia menor, cantar meus pulmões e espalhar minha alma com meu sangue pelos ouvidos de um público inexistente...
Se sou insegura, frágil e por vezes até ingênua, é porque preciso de uma proteção externa que me envolva e me acolha da chuva e dos maus caminhos da vida.
"Preciso aprender a ser só" e pouco a pouco conhecer meus próprios limites e fraquezas. Aprender que dentro de mim moram dois e que os três devem conviver em paz:
Me, Myself and I.
Morena - jan/09
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