segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tiros, pedras e rosas


"Quem nunca se apaixonou que atire a primeira pedra" - disse certa vez um homem santo a uma multidão enfurecida. Não, não foi isso o que ele disse. Mas nem por isso a frase deixa de ser verdadeira. Se estivesse lá a algum tempo atrás, eu teria segurado algo de tamanho próximo a um tijolo e perguntado despreocupadamente: "Já pode começar?" No entanto, não teria dito por se tratar de uma verdade. Teria dito apenas porque hoje sei que naquela época era verdade...

Me facina pensar que a verdade em si está em cada despertar, e que não se pode compartilhá-la completamente. Não é como um bolo que em uma fatia se prova o todo. É como no teatro: ao se entregar a um personagem se perde a possibilidade do outro. Apenas o público pode sentir correr nas veias a essência da história... Os atores só podem dar a alma pela parte que lhes cabe para que o todo seja uma única pintura, e não a junção tosca de peças desconhecidas. A verdade não pode ser transmitida completa, de graça. Ela precisa ser perseguida e desejada para então se tornar merecida. O tempo é fator determinante.

Minha verdade é que em um segundo eu perdi meu coração. Vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso... Em vão. Me sentei pra descansar com a boca seca e os pés descalços quando vi rubra e aveludada, uma rosa sombreada de negro. Seu pulsar tremia a terra num vibrar constante e nítido. Ao me aproximar, conferi lá no interior da planta o meu próprio coração, a bater forte e vivo. Por um segundo me deliciei com sua música e finalmente pude respirar. Mas em um segundo um novo impasse surgiu, quando me percebi um assassino em potencial: aquela rosa precisava de um coração, tanto quanto eu.

...... Pausa para um terrível gemido de dor e lamento; e um segundo de reflexões vazias.......

Só me resta morar na rosa, concluí. Dividir minhas mágoas, segredos, planos e realizações. Compreender sua beleza, carisma e necessidades; e assim entregar meu coração para ser seu... Um caminho de espinhos me espera, terei de me fazer pequeno e gentil o suficiente para escalar suas pétalas frágeis e admirar seu perfume como eternamente meu. No fim, o coração é um só, assim como os planos, as dores, as crenças e as próprias cores! Mas habita em dois corpos.
Por isso, hoje minha verdade é outra. Se acontecer de ouvir a frase de início dessa crônica, serei o primeiro a atirar rosas...
Morena - jan/09

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