Esses dias fui surpreendida com um material interessante para fazer um seminário: uma lista de filmes de Charles Chaplin. Fui na Oscarito e só consegui encontrar um dos filmes da lista: "O circo" de 1928.
Vim para casa sem ter certeza se estava ou não com sorte, afinal, cinema nunca foi o meu forte e filmes antigos me dão sono. Fico feliz de relatar minha surpresa ao descobrir um filme divertido, interessante, cheio de lições e críticas. Um filme mudo que exige da criatividade do espectador para entender cada gesto e localizar as frases soltas.
No dia seguinte, rodei todas as locadoras "cult" da cidade mas só encontrei menos da metade da lista. Empenhada em fazer um bom trabalho, assim mesmo, assisti os que pude na véspera do grande dia:
22h e eu me sentava na frente da televisão para começar uma longa seção de cinema em casa...
Logo de início, quis associar o vagabundo ao malandro, acho que o figurino sempre tão elegante e o chapéu me fizeram a sugestão mas não demorou para que eu pudesse perceber que as semelhanças não vão longe...
O vagabundo Carlitos é capaz de dar a última bicada do leite escasso ao grande companheiro cachorro.
(Vida de Cachorro, 1918).
O malandro Max é capaz de apostar o dinheiro que recebeu da prostituta enamorada.
(A ópera do Malandro, 1978).
O vagabundo é capaz de entrar em um ring de box para pagar o aluguel e a cirurgia de uma mulher cega. É capaz de fugir da polícia e entregar até o último centavo para a alegria da moça.
(Luzes da Cidade, 1931)
O malandro é capaz de inventar uma convocação para a guerra só para não ter que falar a verdade.
(A ópera do Malandro)
O vagabundo não se importa se ele mesmo não sai ganhando, dá uma de cupido e une a amada com o concorrente, admitindo a derrota, sacode o pó das calças e sai rodando sua bengala em direção ao futuro.
(O circo)
O malandro não gosta de nenhuma moça em especial, desde que use saias, ele não se amarra em uma só mulher.
(Malandro é Malandro e Mané é Mané, Bezerra da Silva, 2000)
O vagabundo é humano, até pensa em não arrumar mais problemas mas se apaixona pelo rostinho do bebê e divide com o pequeno órfão o seu pouco sustento.
(O Garoto, 1921)
"A escola do malandro é fingir que sabe amar sem elas perceberem para não estrilar"
(Escola de Malandro, Noel Rosa, 1932)
O vagabundo se apaixona e arranja um emprego para pagar um bom jantar.
(Em busca do ouro, 1925)
O malandro caminha como quem pisa nos corações que rolaram nos cabarés.
(A volta do Malandro, Chico Buarque, 1985)
O vagabundo é doce.
O malandro charmoso.
O vagabundo é meio Robin Wood.
O malandro é meio político.
O vagabundo é um cavalheiro.
O malandro passa por um.
O vagabundo não espera nada em troca.
O malandro sempre ganha a troca.
O vagabundo não pensa no dia seguinte.
O malandro pensa na mulher seguinte.
O vagabundo não procura trabalho.
O malandro não aceita trabalho.
E no fim, com tudo diferente ainda são iguais: nenhum dos dois tem medo do futuro e ambos confiam no próprio taco (seja o da sinuca ou da bengala)...
Uma vez me apaixonei por um auto intitulado malandro. O chapéu quebrado e a calça passada me deixaram encantada. Hoje não entendo porque o malandro é sinônimo de esperteza e vagabundo de preguiça. Para mim, o malandro é um aproveitador e o vagabundo um sujeito apaixonante!
Morena - dez/09
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
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Um comentário:
Isso aí, Nai... Mané Malandro! Você merece um vagabundo. rs
Mas, assim... Cê falou que eu sou um bom propagandista de cinema, né? E tem muita gente que acha isso.
Já me perguntaram: "Nunca vi você detonar um filme no seu blog." E eu respondo: "É claro. Eu escolho os assuntos do meu blog. E se o filme é ruim, ele não merece uma postagem. Tenyho coisas mais interessantes a dizer. Só falo de um filme no blog porque, de alguma forma, ele mexeu comigo. Por isso talvez, sobrem elogios"
Beijo
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