quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Avião


Entro no avião a espera de que ele possa, de alguma forma, ajudar a me encontrar.

Sou a primeira a sentar na fileira da esquerda, nem janela nem corredor, e vejo o reflexo dos meus dias: sempre no meio das escolhas...

De repente os passageiros começam a se acomodar e percebo duas extensões de mim mesma: a juíza e a professora.

A juíza, no corredor, é uma mulher viajada, curtida, conhecedora de mundos e fundos. Entendida de lugares e pessoas. Militante do movimento estudantil na sua época de ouro. Hoje apenas uma companhia simpática de vôo.

A professora, do outro lado, é exatamente o que aparenta: alguém que viu sua vida passar pela janela... no entanto, inicia nesse avião sua nova empreitada: recém separada de um casamento que iniciou grávida 18 anos antes, partia ansiosa para o início de uma vida onde seria finalmente a protagonista dos dias.

Ivone, a juíza, deve ter por volta de 50 anos bem vividos.

Kelly, terá menos de 40 em seus anos escondidos.

Eu, no meio, me estico para me reconhecer nesse espaço. Com a escaleta presa entre os tornozelos me esforço para dar cores à arte de dentro de mim, à música, e à própria vida que advém tão simplesmente delas. Posso respirar fundo ao erguer a cabeça e assumir um destino nem a esquerda nem a direita, mas a frente. Assim como Kelly, um belo dia resolver me jogar no mundo e arriscar e, assim como Ivone, ter a segurança de quem vai para esse mundo e sabe o que está em jogo.

Desço do avião resoluta.

Saio sozinha, vou para a praia e visto um biquini pela primeira vez desde que comecei a escolher meu próprio guarda roupa.

Choro... também acho que faz parte da mudança sentir saudade de si mesma, mas sei que devo lembrar que o progresso é para frente e que eu não caibo mais nos meus 15 anos. Quem me dera! Eu era feliz... Mas parece que o tempo passou e eu estava preocupada demais tentando encontrar a Terra do Nunca. Só que o próprio nome do local já trás o endereço...

Morena - out/09

Um comentário:

Luciana Pacheco disse...

Nai,como doi ter saudades da gente mesmo...nao se reconhcer,e ao mesmo tempo, como nos violamos quando forçosamente tentamos nos encaixar aonde nao mais nos comporta em nome da alegria do que fomos e nao somos.Mas entre os sabores nosltagia, entre o estranhamento da transição,entre o medo do rompimento, fica a certeza de que, como diz seu texto, o caminho é ir pra frente. Nem pra esquerda nem pra direita,muito menos pra trás!Ir pre frente, as vezes cambaleando...as vezes certas das pegadas, mas pra frente.Até se reacomodar no novo espaço que nos está reservado.No espaço que abrigará a mulher de 24com tanta ternura como a de 15 foi abraçada!
Beijos a gente sobrevive hahahaha