segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Daqui a um segundo

Em um segundo vou da lágrima ao riso, do mágico ao real, do religioso ao cético.
Em um segundo me envolvo em um acidente, perco o controle ou ganho respeito.
Em um segundo a vida pode acontecer e desacontecer... em apenas um segundo.
Em um segundo alguém famoso morre, em um segundo aparece no jornal e em um segundo ninguém mais se lembra disso.
Em um segundo um satélite pode percorrer vários quilômetros e em um segundo você mal pode ler esta frase.
Em um segundo a vida pode se perder ou transformar.
Em um segundo esqueci meu sorriso dentro do seu violão... e em um segundo ele fugiu junto com o seu.
Em um segundo o horário oficial brasileiro é reajustado e em um segundo ninguém mais se importa. Só não sei como. Porque em um segundo, se vive uma vida.
Em um segundo mora toda a eternidade e apenas esse instante. Que já passou...
Um segundo pra quem vive correndo é muito pra perder.
Um segundo pra quem está morrendo é muito pra ganhar.
Em um segundo um carro de fórmula 1 percorre mais de cem metros.
Em um segundo trágico, verás que sou verdadeiro em minhas palavras e em um segundo mágico, eu provo que ao meu lado é o seu lugar.
Em um segundo se pode chegar às estrelas e um homem pode mudar seu destino em um segundo ou por um segundo.
Em um único segundo posso dar a volta ao mundo nos meus sonhos, e em um segundo estou de volta.
Só me levou um segundo pra perder meu coração. Justo no dia que ia entregá-lo a você...
Em um segundo vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso...
Em um segundo percebi que era vão.
Em um segundo você virá até mim. E no mesmo segundo eu irei até você.
Em um segundo a pausa acaba. E no mesmo segundo a música começa.
Só me resta um segundo,
e espero que seja possível dizer que quero ficar com você...
Por eternos segundos...
Mas só a partir do próximo segundo: o segundo ato dessa história.
Só porque segundo após segundo acredito que quem levou meu coração foi você.
Peço a todos um segundo de silêncio... E paciência.

Morena - jan/09

Tiros, pedras e rosas


"Quem nunca se apaixonou que atire a primeira pedra" - disse certa vez um homem santo a uma multidão enfurecida. Não, não foi isso o que ele disse. Mas nem por isso a frase deixa de ser verdadeira. Se estivesse lá a algum tempo atrás, eu teria segurado algo de tamanho próximo a um tijolo e perguntado despreocupadamente: "Já pode começar?" No entanto, não teria dito por se tratar de uma verdade. Teria dito apenas porque hoje sei que naquela época era verdade...

Me facina pensar que a verdade em si está em cada despertar, e que não se pode compartilhá-la completamente. Não é como um bolo que em uma fatia se prova o todo. É como no teatro: ao se entregar a um personagem se perde a possibilidade do outro. Apenas o público pode sentir correr nas veias a essência da história... Os atores só podem dar a alma pela parte que lhes cabe para que o todo seja uma única pintura, e não a junção tosca de peças desconhecidas. A verdade não pode ser transmitida completa, de graça. Ela precisa ser perseguida e desejada para então se tornar merecida. O tempo é fator determinante.

Minha verdade é que em um segundo eu perdi meu coração. Vaguei maltrapilha e louca por universos sem fim em busca do meu bem mais precioso... Em vão. Me sentei pra descansar com a boca seca e os pés descalços quando vi rubra e aveludada, uma rosa sombreada de negro. Seu pulsar tremia a terra num vibrar constante e nítido. Ao me aproximar, conferi lá no interior da planta o meu próprio coração, a bater forte e vivo. Por um segundo me deliciei com sua música e finalmente pude respirar. Mas em um segundo um novo impasse surgiu, quando me percebi um assassino em potencial: aquela rosa precisava de um coração, tanto quanto eu.

...... Pausa para um terrível gemido de dor e lamento; e um segundo de reflexões vazias.......

Só me resta morar na rosa, concluí. Dividir minhas mágoas, segredos, planos e realizações. Compreender sua beleza, carisma e necessidades; e assim entregar meu coração para ser seu... Um caminho de espinhos me espera, terei de me fazer pequeno e gentil o suficiente para escalar suas pétalas frágeis e admirar seu perfume como eternamente meu. No fim, o coração é um só, assim como os planos, as dores, as crenças e as próprias cores! Mas habita em dois corpos.
Por isso, hoje minha verdade é outra. Se acontecer de ouvir a frase de início dessa crônica, serei o primeiro a atirar rosas...
Morena - jan/09

Me, Myself and I.

Gotas de chuva no vidro da janela escondem o sol que se põe... Em cada gota posso ver meu reflexo pensativo... vejo um mosaico de mim mesma: milhões de pedacinhos disformes que me mostram inteira.

Poderia nomear cada um deles com os sentimentos de um instante e ainda me faltariam nomes e definições para a confusão de imagens que essas gotinhas formam. Sem formar nada.

Se quero sorrir, me entristeço pela impossibilidade de usar um sorriso emprestado,
Se quero chorar, meus olhos já estão secos, trincados, e também já não me pertencem.
Tive que vendê-los todos quando a instituição do meu ser declarou falência...

O que me resta é ainda sorrir e chorar em uma melodia menor, cantar meus pulmões e espalhar minha alma com meu sangue pelos ouvidos de um público inexistente...

Se sou insegura, frágil e por vezes até ingênua, é porque preciso de uma proteção externa que me envolva e me acolha da chuva e dos maus caminhos da vida.

"Preciso aprender a ser só" e pouco a pouco conhecer meus próprios limites e fraquezas. Aprender que dentro de mim moram dois e que os três devem conviver em paz:
Me, Myself and I.

Morena - jan/09