- P'ra que serve a música?
Meu professor perguntou. Eu, acanhada com a presença de uma terceira pessoa na sala, não quis responder.
Sem pulso ou vontade de tornar aquele momento particular, ele disse que ia me ajudar:
- P'ra nada. Música não serve para nada. - e fez um belo discurso que me fez concluir:
- Porque eu devo fazer parte dela e não ela de mim...
- Isso. Exatamente!
Entendi. Mas concordo apenas em parte. O fato de ela não fazer parte de mim pode significar que consigo viver sem ela e não sei se isso é verdade.
A música serve para fazer companhia. Quando todo mundo vai embora e de repente parece que sua sala comportaria facilmente a antologia de todos os poetas românticos, a música preenche os espaços e te lembra que você nunca está sozinho.
Ela serve para confortar. Quando você está triste e se preocupa em saber a quem recorrer antes que seus olhos provoquem uma enchente e matem seus sonhos afogados, a música te dá colo. Não precisa nada mais que um pensamento e ela vem correndo. Te abraça com ternura e passeia entre seus cabelos até você dormir.
Serve para contar histórias, aquelas que passam de pai para filho por gerações estão todas guardadas nela e ela as carrega com todo carinho por eternidades se for preciso.
Serve para falar de sentimentos, aqueles que desde o princípio da humanidade se tenta explicar em tantas línguas mas que ela faz descaso, porque é a mãe de todos eles. Se ela fala de amor você consegue sentir ele por dentro e se estiver em sintonia é até capaz de entender. É bem verdade que é seletiva e não se abre para qualquer um, mas sempre responde àqueles que sinceramente a procuram.
A música serve para aquecer ambientes. Aqueles lugares escuros e frios não conseguem ser mais os mesmos quando está presente. Ela não deixa. Ela pode transformá-los em ambientes saudosos, melancólicos e até doloridos, pesados, angustiados. Mas o fato é que dá cores, mesmo que sejam tons de cinza, e dá vida, mesmo que seja a morte.
Além disso ela serve para gozar. E quando eu digo, I mean it! Serve pra fazer você sufocar de dentro pra fora e sentir sua pele queimar de prazer. Como se você não fosse capaz de sobreviver ao momento de sua partida porque ela está em você como um câncer que se espalha e se enraíza provindo de um tumor no coração.
Serve para fazer sorrir, para fazer chorar, para enfeitar o amor, espantar a dor, para gravar, para apagar, para esconder, para lembrar, para vomitar a dor para fora de você, ou para ajudar a engolir. Para brincar, namorar, distrair, estudar, trabalhar, entender, concentrar, relaxar, tencionar, inspirar, transpirar e até para comer! Saborear seu enredo delicado. Ou não.
No final, ela serve para deixar cansado quando vai embora. Porque ela suga a essência, brinca com a alma e deixa quase em coma de tão fraco. Apenas jogado no chão, como mais um amante, mais um fã. Ela se alimenta de você, e por isso você faz parte dela. Ela te mantém vivo, por isso faz parte de você. Para alguns ela é ainda mais sedutora: se deixa desenhar, manipular e chega a posar de modelo. Mal sabem eles que não têm poder nenhum. Ela é a musa. Outros ainda, jurariam possuir tal privilégio, no entanto, ele cabe a um público minoritário, que não me inclui, mas que estou disposta a pagar o preço de ingresso. Sempre no tempo dela.
Morena - set/09
domingo, 13 de setembro de 2009
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