quarta-feira, 30 de março de 2011

Noite e Dia

Sento na frente do computador e estou travada...
Até isso você já fez comigo:
Minhas rimas e meus jogos de palavras se resumem a sons e imagens...
Soltos.

Talvez você seja realmente diferente,
Ou talvez seja apenas a idade chegando,
Mas pela primeira vez tenho calma
E, na verdade é isso que me frustra:
Não saber o que vai acontecer...

Para a criança, um só dia é uma vida inteira!
Para o adolescente, a intensidade de viver dói... mas passa.
E para o adulto?

Mais da metade da minha vida eu fui criança,
Por isso nem me lembro!
Um dia fiquei adolescente e me apaixonei!
E tudo era tão intenso, e doía tanto!
Mas eu sabia que o destino do amor é o fim:
"Que seja eterno enquanto dure!"

Agora não... eu estou calma.
E o paradoxo é que a calma é quem trás a ansiedade!
Porque não sei o que vai acontecer
E o medo vem, nem de não saber o que você quer.
Eu também não sei.
Mas de não saber o que você pensa,
O que sente, como sente.

E assim, eu vou da tranquilidade mais profunda
Ao desespero mais completo quando penso que
Não sei onde estou indo!
Uma hora eu surto...

Morena - mar/11

sexta-feira, 25 de março de 2011

Mais uma noite de um "dia útil"

Já eram mais de 21h e eu estou sem carro. Ainda tinha que tomar banho e me envolver em uma produção maior que a normal, considerando o novo corte de cabelo (sair sem brinco e sem maquiagem não dá mais!)

Já eram 21:40h quando o ônibus finalmente passou e uma menina sentou do meu lado e pediu informação. Começamos a conversar e ela contou que saiu mais cedo da aula,falou do bebê que está em casa esperando para mamar, dos seus 15 anos com um filho nos braços sem parar de estudar...

Quando chegou a minha parada ela perguntou: "Está indo pra casa?" Enquanto dou um beijo nela e puxo a cordinha do ônibus sorri: "Não, eu sou da noite!"

Desci e atravessei a rua escura com aquilo na cabeça: escolhas! Ainda não eram 22h de uma quinta-feira! Quem devia estar saindo para curtir? E quem poderia estar indo para casa cansada dar de mamar para um infante?

O telefone tocou e recebi uma proposta de trabalho para trabalhar o dobro mas ganhar o quíntuplo. O salário me fez pensar mas o encontro com um amigo na entrada do Cafe me distraiu já não me lembrava do que pensei.

Lá dentro, eu ouço música, assisto com gosto as caras e bocas do baixo enquanto entrava num mundinho só dele. Sinto uma pontinha de inveja porque ele não está nem aí para o que eu vou pensar! Ele curte e me convida para ver o que ele está vendo: o som.

A guitarra já é minha velha conhecida, mas hoje me parece mais distante, distraída e me encanta saber que talvez só eu perceba, porque ela continua brilhante.

Depois vem a cantora, densa e chego bem perto do inferno com o sofrimento dela. De repente acredito que "todos acham que eu falo demais e que ando bebendo demais". Ô buteco! E o ambiente pequeno, diminui e eu também vou ficando pequena e meu coraçãozinho vai ficando bem "inho" enquanto eu vou desfalecendo no sofá... Sorte que a companhia é boa e me dá atenção.

Depois volta com todo mundo bem antenado, acho que não vou resistir à liga que a guitarra faz com o baixo: um pacto de sangue.

E logo a música que eu esperei a noite toda para conhecer, um presente que eu, como criança em véspera de natal ansiava em abrir, vem bela, doce e intensa. Eu, com essa minha mania de letrista, pude ouvir de cara fragmentos de poesia que estavan nas notas! Gravei para mais tarde me atrever a ser parceira, mas hoje percebi que talvez não queira: a música disse tudo! Não me deu espaço para explicar, palavras a tornariam redundante...

Me apaixonei 10 vezes em uma só noite! Ouvi solos de sax, trompete, baixo, guitarra, bateria, violão... Ainda bem que não estava de carro, fiquei tão bêbada de música que não poderia dirigir sozinha.

Cheguei em casa tão feliz, mas tão feliz que a única maneira de ter ficar ainda mais alegre era se tivesse terminado a noite com o microfone na mão cantando eu, os meus dramas e deixado impregnado nas paredes o meu cansaço. Pena q n canto jazz...

Chego em casa e tenho que contar pra quem perdeu que a noite foi mágica! E, antes de dormir lembro do emprego e da menina enquanto fecho os olhos e penso: Pode ser que eu seja doida, ou simplesmente burra porque estou doida pra ser mãe e pra ganhar dinheiro mas... a música vem primeiro. E hoje eu vou de novo! =)

Muito grata!

Morena - mar/11

quinta-feira, 10 de março de 2011

Analista de Sistemas

Sento do lado dele e ouvimos alguém comentar:
"sou ex músico".

Dou risada por dentro enquanto ele pensa em voz alta
"Como é que faz para fazer isso? Preciso descobrir!"

Eu discordo
"Precisa nada! Escuta o que ele vai falar e vai saber que não precisa".

E completamente alheio a nossa conversa, o cara continua:
"Sou analista de sistemas do Banco do Brasil".

Me sinto satisfeita!
"Tá vendo! Vai lá ser músico 'aposentado'!kkk"

Nessa hora páro de entender o que está acontecendo, não sei se porque já estava cansada ou simplesmente porque realmente não esperava aquela reação:
"Por quê?! Tá dizendo que eu não consigo? Eu posso ser o que eu quiser! Se eu quiser virar médico hoje eu posso! Duvida? Fala que duvida! Fala!"

"Eu ia ficar muito triste se você parasse de tocar guitarra..."

E espero que a frase ecoe nos ouvidos defensivos dele. Mas logo depois me revolto com o pessimismo!
"Por que você tem que levar as coisas sempre para esse lado? Claro que você pode fazer o que quiser! Qualquer um pode ser analista de sistemas, mas quantas pessoas tem coragem de assumir um instrumento?"

Não sei se falei alguma coisa a mais, não lembro o que ele me respondeu... O fato é que fiquei ruminando a história por mais de uma semana: Quantas pessoas tem a coragem de assumir um instrumento?

Lembrei do meu mestre, Bohomil Med e das piadinhas de sala de aula. Eu, no auge dos meus 20 aninhos era completamente incapaz de perceber algumas coisas que só entendi essa semana:

"Músico que não gosta de estudar tem que fazer concurso para o Banco do Brasil!!!"

Eu rachava de rir! Fazia parecer tão fácil! Desmerecia completamente o concurso e os outros candidatos, a prova e a pressão de responder em algumas horas o conhecimento acumulado em anos... Mas essa semana eu finalmente entendi que músico que não gosta de estudar tem sim que fazer concurso não só no Banco do Brasil como do Itamaraty, Polícia Federal etc, etc, etc.

Quantos anos leva para ser um bom médico? 7; 8? E depois o que você passa a fazer são atualizações e cursos mensais ou semestrais para saber o que está acontecendo? Isso tomando um excelente médico né?! Super preparado! Mas quantos anos leva para ser um bom músico?

Acredito que uma pessoa que estuda 14horas por dia por 1 ou 2 anos por mais dificuldade que tenha consegue passar em um concurso da vida e relaxar. Quantas horas por dia um músico tem que estudar?

A música é altamente ressentida. Para cada dia que você deixa ela, ela te deixa 2. E em um dia você perdeu 3. Que o digam meus dedos que a 10 anos não tocam Chopin...

Se pudesse ter congelado aquele momento e pensado por uma semana, voltaria um pouco antes do instante em que baixei os olhos:

Eu ia ficar muito triste se você parasse de tocar guitarra... Pára e pensa quantos anos você tem. Metade deles você passou tocando. Quantos dias você não encostou na guitarra? Metade deles você passou pensando nela. Quantas horas você passou dormindo? Metade delas você sonhava em tocar com seus amigos ou com seus ídolos. Claro que eu não duvido que possa fazer o quiser!!! Você toca guitarra! Você pode qualquer coisa... Você se confunde e me confunde quando usa as palavras, usa expressões e frases que não deveria em momentos que não deveria. Mas a guitarra é uma prótese, uma parte do corpo que não nasceu com você mas que Papai do Céu te permitiu usar e seus dedos te descrevem e te explicam em 3min muito mais do que meus lábios e meus textos poderiam fazer em horas de trabalho. Em 3min você me convida a te ver por dentro e eu não tenho que passar a semana pensando porque em 3min eu entendo. Dizem que o compositor é alguém que não sabe usar palavras porque se soubesse, não se daria o trabalho de fazer música. Eu digo que o compositor só escolheu a língua mais bonita, e ainda digo que permitiu a cada intérprete tornar aquela a sua própria história durante o momento da execução e convencer um público repleto de analistas de sistemas que existe esperança ao amanhecer, amor no fim do dia e perdão aos seres humanos.

Quem mais pode fazer isso?

Morena - mar/11

sexta-feira, 4 de março de 2011

Uma História de Amor?

Pela primeira vez eles se veem. Mas ela está em desvantagem porque ele pelo menos já tinha reparado na existência dela.

Ela se empolga com ele e por pouco mais de duas semanas se sente apaixonadinha, boba, criança.

Ele não liga. Gosta dela e diz coisas confusas, mas talvez realmente não ligue. O valor da descoberta é bem diferente para os dois. Parece que ela guarda com mais carinho...

Eles saem, se curtem, conversam e se divertem. Ela olha pro lado, vê outras pessoas, viaja, conhece um bocado de gente interessante.

Ele também. Mas não se sabe a maneira como ela encara isso. Nem ele. Será que pensam um no outro?

Aos poucos ela perde o pique de contar as coisas para ele, de dizer o quanto gosta da presença e companhia. Como ela pára primeiro, não se sabe se ele também perdeu o pique ou se simplesmente não quer tomar uma iniciativa.

Ela abstrai, gosta tanto de dançar ou de estar simplesmente na frente dele fazendo qualquer coisa e nada, que passa a toma-lo por mais um amigo.

Ele nem dá bola, trata como amiguinha, embora vez ou outra seus olhos permitam que se flagre um pensamento em algo mais...

Só que ela sente saudades. Saudades que não são dela, afinal, como pode alguém sentir saudades de quem não conhece? De quem não convive? De quem não ama?

Vez por outra ele confessa sentir saudades, por meio de palavras, olhares ou gestos. Talvez ele seja mais simples, ou simplesmente não saiba que também é dramático e que na verdade se pergunta o que sente e se sente alguma coisa por ela.

Um dia ela conta uma história de amor. Uma de verdade mas que parece de filme. Uma que acontece com alguém que ela conhece e, repare no verbo: acontece. Porque a mais de 20 anos a história acontece todos os dias.

Ele, mais do que qualquer um na roda, parece se interessar pela história e é como se ela pudesse ouvir um suspiro de "então é verdade!" e pudesse ver uma centelha de esperança nascer no coração de um romântico.

E de repente ela gostaria de protagonizar aquela história junto com ele e querer decidir se apaixonar todos os dias e morrer de amor com a distância. De repente, ela gostaria de querer casar e adoecer durante o dia de trabalho até chegar a madrugada companheira e poder rever. Gostaria de querer ter filhos com seus olhos espertos e ouvir todos os seus "causos" encenados pelo resto da vida. De repente ela lembra que seus tesouros mais preciosos são suas lembranças e que não decide nada antes de pensar se aquela daria uma boa história para contar.

E aos poucos ela descobre que gosta dessa história, e gosta tanto que não consegue se desvencilhar! Até porque dá pra ver a cena numa tela de cinema: eles crescendo juntos e sempre se esbarrando, se olhando, mas sem se ver. Ele sempre soube da existência dela mas, será que isso fazia alguma diferença? Que antes daquele primeiro beijo ele a achava bonita? Que curtia sua risada alta e seus cabelos bagunçados?

E ela? Será que realmente acordou do sonho que fez ganhar multa e chegar atrasada? Ou só está com medo de descobrir que, na verdade, quanto mais se distanciam mais ela percebe uma pessoa linda, um menino doce, um homem de verdade! Íntegro, inteligente, sensível e com um potencial de chegar nas estrelas?

E agora????
Quem poderá me defender?

Morena mar/11