segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Moda ou Epidemia???


Engraçado que está todo mundo falando aí de gripe suína, lavar as mãos, se alimentar e talz mas muito pouco se fala de outro tipo de epidemia que eu pelo menos estou vendo tomar proporções muito maiores que a tal gripe. Só que essa é diferente, não é contagiosa, muito pelo contrário. Você tem que ir atrás dela. Ou talvez um nome mais correto para esses surtos voluntários seja apenas “moda”. O fato é que alguns vão buscando outra coisa e até negam a primeira descoberta, mas o xixi no potinho não mente: bebê a bordo! E de repente minhas amigas parecem olhar umas para as outras e dizer “Eu também quero!” E em muitos casos não é nem o bebê em si, mas a receitinha da vovó:

- Não minha filha, você está achando que seu homem quer ir embora? Não é escrevendo o nome dele num pepino que vai resolver... O negócio é mata leão na cabeça de baixo e barriga! Funciona desde que o mundo é mundo! E se o título de “pai” não comover, a pensão vai!

E tem muita doida assim no mundo que eu sei! Conheço algumas que têm a cabeça mais cheia de galho que árvore de natal mas estão lá, gravidíssimas! Achando que alguém muda porque tem filho...

Por outro lado, existem as românticas, que começam a andar de macacão e sandália baixa desde que o resultado dá positivo. Daí estou no trabalho conversando com uma amiga que simplesmente pára de falar no meio da frase quando vê um senhor entrar com uma menininha no colo.

- Ei... tudo bem com você?
- Hã? – rsss – foi mal. Vc viu que menina linda?
- Vi...
- Eu vou ser tia pela 3ª vez. Acho que é o instinto materno me chamando, 25 anos...
Ela começou a rir, mas acredito que muito mais da minha cara de pavor do que para fingir que tinha acabado de dizer alguma coisa que não era verdade. Bom...

Em outra oportunidade comentei com um colega de mais uma gravidez no nosso meio de convivência. Uma gargalhada alta e espontânea foi a minha resposta a reação dele:

- ... que droga!...

Não somos mais crianças e a grande maioria das pessoas a minha volta que estão esperando bebês são casadas, se viram legal e por decisão, ou não, se depararam com um momento de estender a família. Um pequeno parêntese aqui: como pobre só tem amigo que nem ele, não custa às minhas amigas encomendarem o muleque, porque rico é que vive cheio de problema pra engravidar. Pobre é fértil! Pergunta pro porteiro do bloco da frente? O QUINTO dele nasceu semana passada. “Mais um quilo de farinha do mesmo saco para alimentar o novo João Ninguém a cidade cresce junto com neném”...

Em fim, o que me chama a atenção não é só que as pessoas em geral estão voltando a se casar mais e constituir família. Isso é ótimo! O que me incomoda na verdade são três outras questões:

1. Essa foi levantada por um amigo: “Será que estou ficando velho?”. Mas nada que um bom trabalho em equipe por dois solteiros não resolva: “Não! Eles é que estão tendo filho muito cedo”.

2. Com quem eu vou sair? Meus amigos casam e MORREM para o mundo. De repente tudo se resume a pagar conta e colocar menino pra dormir. O que me faz pensar: essas crianças não tem vó não? Tio, madrinha, primo? Nem pra abusar não, mas pelo menos uma vez por semana né? Faz um revezamento massa e sai pra rever os amigos ou em um programa a dois nem que seja só pra lembrar que filho é conseqüência, e a única razão deles existirem é porque você ama seu parceiro. Ou não né? Aliás depois que o Caetano começou com essa pala de “ou não” ninguém consegue afirmar mais nada...

3. Estamos chegando no meu problema... Muita calma agora... Alguém já colocou a mão na barriga de uma grávida e sentiu o bebê chutar? Todo mundo né? É o que parece. Eu mesma já coloquei várias vezes...

- Tá sentindo?
- Tô.

Mentira. Nunca senti nada, achava que o povo tava viajando e que talvez ela sentisse alguma coisa mas só porque era de dentro pra fora.

Beatriz, a quem eu carinhosamente chamo “Berenice” ou “Berê”, se desesperou e nasceu na véspera do meu aniversário. Hoje ela é um bebê de quase 4 meses lindo, bochechudo e rosa mas que me deixou esse trauma... Ela já estava a menos de um mês de sair do forno quando senti minha mão sendo puxada e colocada em cima dela:

- Ela chutou! Está sentindo?

CARACA!!! Aquilo foi... vândalo! No mínimo! Minha amiga tinha dentro dela um ser com vontade própria! Eu sei que parece completamente idiota mas aquilo nunca tinha passado pela minha cabeça! E como se não bastasse, minha amiga comprimia minha mão na barriga e dizia:

- Olha aqui o bumbum... Tá sentindo?
- Tô... – e o pânico só aumentava. De repente entendi a menina dentro dela e isso me deixou completamente apavorada. Demorei até a me acostumar que alguma coisa se mexendo dentro da bolsa podia ser só o celular (já joguei muito a bolsa no chão...), imagina alguém! Uma pessoa! Dentro de mim! E já me veio na cabeça como uma tempestade minha mãe falando que eu enfiava o pé embaixo da costela dela, minha tia dizendo que minha prima se espreguiçava e a barriga fazia um bico, outra amiga contando que quando o guri começava a chutar ficava um tempão até parar... quis vomitar. E no meio da noite eu acordo:

- Hum...
- Que foi amor?
- Nada, o muleque resolveu trocar de lado. – e eu sinto tudo... porque sinto até minha ovulação e sei de que lado tá rolando. Vez por outra vem dos dois lados, e eu sinto! Imagina uma criança. Que medo...

Não que eu não queira, sempre quis casar, ter um menino e gêmeas. Conforme o figurino. Mas sempre tive pavor de casar com um doido, um idiota, um sacana... em fim. Além do que estou muito nova pra isso, mas agora pra complicar ainda mais a situação, finalmente caiu a ficha de que EU vou ter que carregar os muleques e principalmente: eles não vão ficar 9 meses quietinhos dentro de mim.

Pra terminar, faço minhas as palavras da Teresa Cristina no primeiro show dela depois da primeira filha:

“Mães! Vocês são minhas heroínas!”

Morena – set/09

domingo, 13 de setembro de 2009

P'ra que serve a música?

- P'ra que serve a música?

Meu professor perguntou. Eu, acanhada com a presença de uma terceira pessoa na sala, não quis responder.

Sem pulso ou vontade de tornar aquele momento particular, ele disse que ia me ajudar:

- P'ra nada. Música não serve para nada. - e fez um belo discurso que me fez concluir:
- Porque eu devo fazer parte dela e não ela de mim...
- Isso. Exatamente!

Entendi. Mas concordo apenas em parte. O fato de ela não fazer parte de mim pode significar que consigo viver sem ela e não sei se isso é verdade.

A música serve para fazer companhia. Quando todo mundo vai embora e de repente parece que sua sala comportaria facilmente a antologia de todos os poetas românticos, a música preenche os espaços e te lembra que você nunca está sozinho.

Ela serve para confortar. Quando você está triste e se preocupa em saber a quem recorrer antes que seus olhos provoquem uma enchente e matem seus sonhos afogados, a música te dá colo. Não precisa nada mais que um pensamento e ela vem correndo. Te abraça com ternura e passeia entre seus cabelos até você dormir.

Serve para contar histórias, aquelas que passam de pai para filho por gerações estão todas guardadas nela e ela as carrega com todo carinho por eternidades se for preciso.

Serve para falar de sentimentos, aqueles que desde o princípio da humanidade se tenta explicar em tantas línguas mas que ela faz descaso, porque é a mãe de todos eles. Se ela fala de amor você consegue sentir ele por dentro e se estiver em sintonia é até capaz de entender. É bem verdade que é seletiva e não se abre para qualquer um, mas sempre responde àqueles que sinceramente a procuram.

A música serve para aquecer ambientes. Aqueles lugares escuros e frios não conseguem ser mais os mesmos quando está presente. Ela não deixa. Ela pode transformá-los em ambientes saudosos, melancólicos e até doloridos, pesados, angustiados. Mas o fato é que dá cores, mesmo que sejam tons de cinza, e dá vida, mesmo que seja a morte.

Além disso ela serve para gozar. E quando eu digo, I mean it! Serve pra fazer você sufocar de dentro pra fora e sentir sua pele queimar de prazer. Como se você não fosse capaz de sobreviver ao momento de sua partida porque ela está em você como um câncer que se espalha e se enraíza provindo de um tumor no coração.

Serve para fazer sorrir, para fazer chorar, para enfeitar o amor, espantar a dor, para gravar, para apagar, para esconder, para lembrar, para vomitar a dor para fora de você, ou para ajudar a engolir. Para brincar, namorar, distrair, estudar, trabalhar, entender, concentrar, relaxar, tencionar, inspirar, transpirar e até para comer! Saborear seu enredo delicado. Ou não.

No final, ela serve para deixar cansado quando vai embora. Porque ela suga a essência, brinca com a alma e deixa quase em coma de tão fraco. Apenas jogado no chão, como mais um amante, mais um fã. Ela se alimenta de você, e por isso você faz parte dela. Ela te mantém vivo, por isso faz parte de você. Para alguns ela é ainda mais sedutora: se deixa desenhar, manipular e chega a posar de modelo. Mal sabem eles que não têm poder nenhum. Ela é a musa. Outros ainda, jurariam possuir tal privilégio, no entanto, ele cabe a um público minoritário, que não me inclui, mas que estou disposta a pagar o preço de ingresso. Sempre no tempo dela.

Morena - set/09

sábado, 12 de setembro de 2009

Crenças...

- É que eu acreditei... – de repente todo mundo entendeu.

Acendi o último cigarro da carteira e fumei de olhos fechados. No meio da fumaça, soprei minha vida e a vi se esvair no vento, sendo levada para longe de mim. Eu, que não bebo, quis pedir uma caipirinha gelada mas acabei me embebedando de uísque, para aquecer o coração.

Que existência era aquela que eu estava aceitando? Me deixaria destruir assim? Uma nova vida estava às portas e eu faria disso o fim da minha própria?

Acordei com um rato me encarando e vomitei toda a minha angústia. Já que eu mesma não podia, pedi ao céu que chovesse pra mim e lavasse meus olhos secos e sujos de temores.

- É que eu acreditei... – e de repente ninguém mais me julgou.

Morena - set/09

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ela odeia ficar doente.

Ela odeia ficar doente. Mesmo assim finge que não está e vai trabalhar. Talvez só para vê-lo.

Ela sabe que ele também está doente, mas não teve vontade de ligar. Olhar para ele, mostrar-lhe uma música e não ter que pagar depois as horas perdidas parece suficientemente atraente para levantar da cama e tomar um banho frio.

Ele chega atrasado, mas está lá, lindo como sempre, o cabelo liso partido de lado e espetado que atrai insistentemente os dedos dela. Como se ainda pudesse lembrar da reação em cadeia que aquele toque causava...

Ela sorri ao olhar para ele e não encontrar o doente, mas apenas ele. Ele foge de seus olhos com a face corada, como se ela não pudesse perceber. Ela ainda o vê se encher de remédios mas sabe da pequena eficácia que terão. Pensa em intervir e chega até a fazer um comentário, mas lembra a tempo que ele já não é sua jurisdição.

Como eu disse, ela odeia ficar doente. Mas dessa vez não tem opção. Fica em casa e assiste a uma comédia ridícula, do tipo romântica, onde ele é lindo, ela também, eles brigam o tempo todo mas se entendem no final e vivem felizes para sempre. Ela lembra porque não gosta de televisão enquanto uma lágrima solitária brilha em seu rosto. Por que ele não é o príncipe encantado? Ela votou nele, e ele se fez candidato...

Se enrolou nas cobertas e sentiu saudades. Tanta que quis voltar, se pudesse viveria tudo de novo só para sentir o cheiro dele, pra sentir suas unhas compridas a acariciar seu rosto, seus olhinhos brilhando quando a via de saia ou para saber tudo o que ele sentia por ela. Para ouvi-lo assobiar canções e gaguejar quando ela lhe dizia não. Não voltaria para fazer nada diferente, para se desculpar ou aproveitar melhor porque se arrepende ou algo assim. Voltaria apenas para viver de novo e apertaria o play naquele dia que se esbarraram no corredor pela primeira vez.

Viveria de novo e de novo e de novo como a um filme favorito. Relembraria com as pontas dos dedos de cada traço do seu rosto e sentiria seu coração vivo dentro do peito.

Não, ela não o quer de novo. Não depois do que ele fez. De quem ele fez. Mas não pode evitar que mais algumas lágrimas venham fazer companhia àquela primeira de minutos atrás.

Ela troca de canal a procura de violência, crime, morte e muito sangue. Nem sei se é possível explicar, mas pela primeira vez em dias ela pára de tossir. E de lembrar.


Morena - set/09

domingo, 6 de setembro de 2009

Coquetel com a justiça


Essa semana um amigo me chamou para vê-lo tocar no STJ, entrei na internet e constatei: música ao vivo, arte visual e comida de graça. Por que não?
Ao chegar, fui orientada inclusive sobre a vaga que deveria estacionar. Achei divertido receber toda aquela atenção mas só comecei a entender o que estava acontecendo a partir do momento que tive que colocar minha bolsa na esteira do raio x e passar por um detector de metais. Inclinei a cabeça e me observei de baixo para cima: sandália de couro, calça de tecido estampadíssima, uma camiseta de mangas curtas acompanhada de um casaquinho simpático. Os brincos tocavam os ombros, o cabelo sempre despenteado e uma bolsa de couro enorme e velha. “Ainda bem que eu sou artista!” pensei rindo sozinha, e entrei no elevador já me sentindo meio Luiz Fernando Veríssimo, sentindo o cheiro da crônica que aquele evento guardaria no forno.

“Segundo andar. Descendo...” E eu me deparo com um salão enorme com um chão do tipo que dá até pra comer neles de tão limpo e brilhoso. Para chegar nesse salão, um corredor extenso com várias fotos de ministros pelas paredes e um chorinho gostoso no final da linha.

Fui me aproximando confiante em meio a saltos e gravatas, encostei na bancada ao lado dos músicos e estive lá apenas até que todos tivessem notado minha presença, nada discreta, e tivessem me sorrido com uma expressão de surpresa. Mas, para não pagar de tiete, resolvi dar uma volta na exposição: pintura contemporânea. Na verdade me atrevo a chamar assim mas é por pura ignorância no ramo das artes plásticas: não sei apreciar uma obra constituída de tinta colorida desordenadamente posicionada em uma tela.

Tentei resistir ao “pré-conceito” e observar obra por obra com cautela. A falta de título tornava minha observação ainda mais complicada: como entrar na viagem de uma pessoa que recorta trechos de um jornal escrito em francês e cola em alto relevo numa tela de tintas misturadas e cantos manchados? No que ela estaria pensando? Seria ela francesa? Sobrenome: Tapajós... Improvável, mas possível.

Mais a frente um quadro vermelho com círculos em tons de vinho. Ah! Esse tem nome: “Vermelho”. Hum... não ajudou muito. Mas já no final da minha andança, quando me encontrava quase completamente desestimulada e minha mente se limitava a acompanhar o paladar na degustação daqueles deliciosos canapés de salmão; me encontrei hipnotizada na frente de um redemoinho em alto relevo colorido de verde, laranja e marrom: “Coração da Terra”. E o meu próprio coração se apaixonou pelo dela... Não sei dizer quanto tempo fiquei ali, só sei que demorei a identificar o celular vibrando no bolso e no auge do seqüestro da alma pela imagem, iniciou-se uma seção terapêutica.

- E o seu “ex-amor”? Como vai?

Dei um passo para trás e olhei para o lado:

- Está aqui tocando...

E o próximo diálogo me levou a encarar o terceiro personagem da noite: a maluca, obcecada, que persegue o cara descobrindo onde ele vai e aparece “sem querer” só para estar ao alcance dos olhos se, por acaso, ele quiser voltar. Não! Torci o nariz de repulsa e tentei voltar para a artista, observadora, crítica, capaz de se deixar roubar pelos olhos. Ainda fui capaz de notar uma última tela em tons de verde, azul e branco. Não me lembro do título, mas poderia se chamar apenas “Mar” que seria capaz de cumprir seus propósitos. Linda, ela era a onda, vista de cima quebrando na praia... já pude sentir o cheiro de mar, camarão, sol, a textura da areia fugindo de debaixo dos meus pés no recuo do mar, a viagem que ele inventou, que eu planejei, mas que nunca aconteceu... saco! Lá vou eu de novo. Não foi por isso que eu vim!

Voltei ao salão principal tentando ressuscitar a tiete mas já não podia encará-los tocando, a obcecada não me deixava relaxar com vontade de também fazer parte da cena, mesmo que nunca tenha sido convidada a fazer nem uma ponta que seja nos dramas da minha vida.

Sentei no sofá confortável a devorar os canapés e curtir aquele repertório delicioso que rolava do outro lado do salão. Na hora pensei “é uma pena que não bebo”, apenas porque o champanhe estava rolando solto, mas depois lembrei do quanto acho um máximo estar sempre sóbria e aquela sensação passou. Quarto personagem: abusada, morta de fome. Logo transformei na oportunista e me senti com mais classe. Rata de obras de arte e saraus talvez? E de repente já estava cumprimentado as pessoas a minha volta e regendo a música de fundo já quase com vontade de começar a “vazar” num pedido de respeito ao sabor delicado do cavaco.

Mas o raio da obcecada estava grudada na sola do meu pé e volta e meia me soprava na mente “confessa! Você só veio por causa dele”. “Hora de ir!”, decidi de repente, e desapareci no meio do povo ao som de Pixinguinha...

Morena set/09

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Minha vida...

Palco: tensão, raiva, insegurança, adrenalina, alegria, medo, risco.
Camarim: sorrisos, conversas, agradecimentos, petiscos, projeto, proposta.
Telefone: animação, alegria, idéias, encontro.
Escritório: confusão, oposição, mais idéias, experiência, falta de experiência, conformismo, humildade, nova proposta, descontentamento, tristeza, aceitação.

NÃO!

Escritório = alegria, muitas idéias, encaixe, risco, animação, tarefas, confiança, aperto de mão, trabalho.

Acho que sei o que fazer da próxima vez...