segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Até o fim do corredor


Abriu a porta e respirou fundo. Como era boa aquela sensação. Seus problemas, se um dia os teve, já não existiam e tudo era felicidade. O final do corredor estava bem a frente, mas seus passos eram curtos. Queria saborear aquele momento. Para que pressa? Só teria de passar por mais algumas portas e chegaria. Repousou as mãos sobre o ventre liso e pensou no bebê que começava a se formar. Já seria algo além de um zigoto?
Continuava sua caminhada desfrutando daquela alegria imensurável e, ao contrário do que se possa imaginar, era uma alegria pesada, assim como a barriga que crescia e crescia... já não podia enxergar os próprios pés.
Já havia caminhado quilômetros e quilômetros e aquilo parecia não ter fim. Assim como a festa que se iniciara em seu peito no instante em que se descobrira grávida. Onde estaria seu bebê? Que saudade já sentia! Nem parecia que a pouco se despediram e já tinha ânsias de vê-la outra vez.
No final do corredor um salão, lindo! Um aquário gigantesco, digno de sua linda filha já adolescente. Que graça o seu rebolado dava àquelas águas! Suas lindas nadadeiras coloriam aquele ambiente como ninguém mais o faria. Ao ver a mãe, subiu a superfície e jorrou litros de água por seu orifício respiratório. A mãe, toda molhada, abriu os braços e sorriu.
Morena - set/08 (sonho da Priscila)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Antigo


Tudo começou a mais de 100 anos atrás.
Mas eu não estava lá para saber. Mesmo assim ele veio me ver.
Sapato, calça com vinco e chapéu. Meu romântico: impossível, intocável.
Olho para ele e sei quem é. Mas de repente não sei mais quem eu mesma sou. Me perco nos elogios, nos cortejos e adoro ser paparicada. Talvez esteja carente, só isso.
Mas ele volta, toca violão e não pára de me olhar. Já nem sei que horas são e, na verdade não importa. Desde que possa me perder no fundo dos seus olhos e nas filosofias de buteco.
Sempre segurando uma cerveja, ele não me leva a sério. Me sinto um investimento nas mãos de um homem ambicioso. Apenas mais um dentre tantos...
Fico presa no meu próprio corpo. Sou menos "certinha" do que gostaria de ser.
Poeta dos meus sonhos, músico das minhas noites e risada dos meus dias.
Não posso mais... Será meu muso! Inspiração dos meus contos, desejo das minhas tardes.
Mas não será meu.
É uma pena.
Morena - nov/08