sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ah Meu samba...

Mais que um estilo de música, o samba é um estilo de vida.

No samba quem toca senta junto. Não tem palco nem estrela. É uma roda, sem começo nem fim, símbolo de infinito.

No samba quem não toca canta. Mas canta junto, faz coro, pastorinhas ou faz a voz principal junto com mais um monte de gente. O cantor é a própria roda.

Quem não canta dança! Na ponta do pé ou com o calcanhar no chão o povo faz música com o corpo, com os gestos...

Quem não dança bate palma, batuca no canto da mesa ou fica quietinho escutando, curtindo...

E quando a música acaba,a banda até troca mas o ambiente é o mesmo: quem estava no surdo pega o violão, o outro larga o ganzá e vai tocar pandeiro, quem estava dançando vai batucar na mesa e quem estava só curtindo resolve dançar.

Na roda ninguém é melhor e nem mais importante do que ninguém e cada ovinho é essencial para a cena.

"quem não gosta de samba bom sujeito não é! É ruim da cabeça ou doente do pé..."

Morena - dez/10

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Coração de Músico - letra

Naiara Morena e João Marinho

http://www.youtube.com/watch?v=ki1fag5Q1zM


Vem, deixa eu te contar
O que aconteceu
E você não viu.
Não precisa se afastar,
Fingir que é para não me magoar, não é.

Eu sei, eu sei!

Eu sempre fui metrônomo,
Nem sempre fui cardíaco,

Eu sei, eu sei!

Mas quando te encontrei,
Eu mudei tantas vezes de compasso,
Eu tive medo de acabar em pausa...

Só é possível libertar o tesouro
Rompendo o baú...
Você libertou o meu canto,
Você me machucou tanto
Que precisei me encontrar entre os escombros

E o cofrinho que carregava no peito,
Agora destruído no chão da sala,
Mostrou sua riqueza interior.
Eu nunca mais vou sentir nada,
É esse o preço que se paga pra conhecer a música
Que começa a dominar meus passos...

Eu sei, eu sei!

Eu sempre fui metrônomo,
Nem sempre fui cardíaco,

Eu sei, hoje eu sei

Que só pode tocar,
E dar sua própria alma pra canção
Quem já morreu de amor...
Perdi o medo de acabar em pausa.

Gaia - letra

Naiara Morena

http://www.youtube.com/watch?v=GEqTLcAxa-c


No silêncio da noite dá pra ouvir o grito sofrido da terra
Que chove baixinho um orvalho de acidez,
Na escuridão profunda dá pra ver a mata triste
Que aos trancos resiste à nossa maldade.

Desmatamento e esgoto lá no rio,
Energia que inunda cidades,
O petróleo do copo sempre acaba num aterro.
A queimada varre toda a vida da floresta,
No solo reside a monocultura

Animais de todo tipo, plantas de toda espécie,
Preparam a vingança que não tarda e o santo livro fala:
O dia em que Gaya cansada deixará a maternidade
fantasiada de má e em fim será a nossa drasta.

Vem de cima, vem de baixo,
Vem no vento, vem na água,
Não tem abrigo pra castigo de mãe.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ser artista

Lutar é perseguir um sonho por mais improvável que ele pareça.
Lutar é diferente de brigar, quem briga tem raiva. Quem luta tem amor.
Quem luta por um sonho precisa primeiro acordar,
se levantar da cama e decidir:
hoje eu vou fazer a diferença.Vou ser a diferença.

Eu não sou artista.
O artista pinta na realidade, no dia a dia o sonho comum,
aquele que ninguém tem coragem de dizer que tem,
mas que mora no corpo e florece na pele de cada individuo.

A arte é a linha entre a loucura e o tédio,
aquela passagem secreta que faz vista grossa
quando vou trabalhar de pijama
"está tudo bem, ela é artista".

Bom, eu não sou artista. Eu sou verdade.
Eu sou a loucura do lado de cá da muralha,
que jura que pode dançar no ar e cantar alto no meio da rua.
Eu desço do palco e a máscara n sai do meu rosto
porque eu sou exatamente o que você vê.
Minhas máscaras ficaram todas na sala do analista,
junto com a conta que eu esqueci de pagar.[Psss]

Eu sou de carne, osso, pele, sangue, sentimento...
E exatamente por ser de verdade não tenho namorado,
Meu príncipe encantado chegou num cavalo branco ao por do sol,
Mas qnd me viu no palco passou...

A verdade assusta,mas nem por isso eu vou mentir.
E se você está aqui é porque não tem medo de ouvir
a minha verdade, a minha voz, a minha música.
"O meu canto é uma missão,
tem força de oração e eu cumpro o meu dever.
Aos que vivem a chorar,
eu vivo pra cantar e canto pra viver"

Morena nov/10

domingo, 12 de dezembro de 2010

Música, risos, beijos...

De repente, a gente se encontra e ele me olha como se eu fosse a menina mais linda que ele já viu. É engraçado porque temos nos visto com frequência e ele nunca tinha me olhado assim.

Eu, do outro lado vejo ele. Engraçado. Devia ter dito que temos nos olhado com frequência porque essa é a primeira vez que o vejo. "Por que não?" penso tão rápido que gostaria de ter outra palavra que fosse definida no dicionário como "reagir dentro da cabeça". E em seguida a surpresa: Como é possível nunca ter visto você?

E já começo a rir pensando que talvez o único motivo de ter visto ele ali foi o de fugir do cara que me chamou pra dançar: ele chamou e eu aceitei, como sempre. Mas ele não queria dançar e eu precisei encontrar uma desculpa para ir.

Ouvimos música abraçados e eu observo com cuidado cada uma das atitudes dele: mexe nos meus cabelos e faz carinho nos meus braços mas não está ansioso, nada de coração acelerado nem pancadas fortes. Ele está ouvindo música e é como se já estivesse acostumado a estar assim comigo. Ponto pra ele: sem afobação.

Viro de frente pra ele e quero dançar, tenho que tirar sarro de mais um músico que não sabe marcar o tempo! Fazem com 9 dedos mas não são capazes de fazer com 2 pés. Impressionante! Mas ele aceita prontamente o desafio e reclama das viradas "Ué, reclama com eles! Eles tocam e eu obedeço! =D"

Depois uma canção lenta em uma voz suave. Olho em volta e percebo a coreografia de casais se beijando no ritmo romântico da melodia, olho pra ele tentando ver no que está pensando, ele sorri e encaixa minha cabeça no ombro. Mais ou menos dois pontos? Sinto que ele está com medo de alguma coisa e acho ele um fofo por isso mas perco um pouco a paciência. Confiro de novo o coração e não acho nada de anormal, ele está curtindo a música e no jeito de bagunçar meu cabelo e me apertar contra o peito percebo cada tensão e ele me deixa fazer parte disso... Mais 3 pontos.

"Não, não gosto de sushi." Foi mal, mas é verdade! Detesto!!! Droga, será que eu estraguei tudo? Putz, eu tenho que ganhar pontos também, não? Mas como eu faço? Abracei ele com os dois braços e apertei. Ele não é bobo, não é possível...

O show acaba, todo mundo vai embora e eu anseio pelo que vai acontecer. Ele me pergunta para onde eu vou: "para casa, estou na rua desde cedo, estou cansada". Só que eu falo mas não vou né?! Fico dançando com ele sem música mesmo. Ele reclama, mas eu acho engraçado porque ainda posso escutar... É como a poeira seca que o carro levanta, já faz tempo que ele passou, mas a poeira ainda não assentou.

Ele encosta o nariz no meu e diz que é melhor eu ir embora, que está ficando perigoso. Adoro joguinhos... e perigo! Ele me segura com força, com braços de homem e obriga os meus braços a pousarem nos seus ombros como apoio. Eu começo a rir de nervosa. Como eu nunca vi ele antes? Ele pára e me olha incomodado. Não! Droga, nunca viu uma menina de 13 anos dar o primeiro beijo? Nervosa, risonha e boba? E parece que vou explodir de ansiedade e travo o maxilar para não parecer que na verdade tenho 10 anos! "Menina leva isso para a terapia! kkk" É o meu último pensamento antes de finalmente acontecer...

Ele fala na minha boca e eu adoro, a ansiedade já baixou e ele me chama repetidas vezes de morena. Hum... na certa a última era loura e o contraste impressiona. Mais um ponto: figurinha repetida não completa álbum.

A barba por fazer me mata de cócegas e ele provoca minha risada alta. Sinto um pouco de vergonha: sou muito pequena pra tanto escândalo. Mas ele não se importa e parece até gostar.

Enrolo ele no meu corpo como se fosse um cobertor e ele caminha duro de pernas abertas pra não me pisar, eu só consigo achar graça... Chegamos no carro e eu não quero ir! Mas a hora me chama e eu não consigo dizer não. Mas não preciso dizer nada para ele, porque ele respeita meu horário mas ao mesmo tempo diz que não quer que eu vá: "É... acho que você vai ter que fugir...". Adoro! Mais 5 pontos! Posso dar tantos assim de uma vez? rss.

Dou mais mil beijinhos nele e entro no carro, abro a janela e preciso de mais um antes de ir... Mas sou ansiosa né?! Sempre 5 min na frente e não consigo curtir. Preciso de bem uns 3 ou 4 dias para descobrir que na verdade eu não paro de pensar nele e do quanto é gostoso me sentir assim...

Bom, ele sabe. Eu já disse. Tive medo de assustar mas disse assim mesmo. Pessoas não estão preparadas para ouvir a verdade mas nem por isso eu vou mentir. E eu só consigo rir da situação: eu nervosa, ele surpreso, e um monte de gente sentando junto, interrompendo, conversando... e ele me fazendo perguntas e eu sem conseguir responder porque hoje tenho 13 anos, um coração na boca e nenhuma maturidade.

Quem sabe amanhã? =D

Morena dez/10

sábado, 11 de dezembro de 2010

Uma noite com um príncipe












Sonhei com você e de manhã não acordei...
Às 7:45h o ponto espera o toque do meu dedo,
Como um beijo rápido e prensado;
Mas já eram 8:10h quando o sol me tirou você.

Eu, que não me atraso,
Espreguicei e sorri, leve!
Caminhei nas pontas dos pés
E ri sozinha lembrando dos passinhos duros de pinguim
E da minha boca que você roubou.

Eu, que sou uma pilha humana,
Diminuí o andamento
E tive crises de cócegas no meio da rua
porque o seu rosto arranhou o meu.

Eu, que saio sozinha para ouvir música,
Senti a música nos seus braços, mãos e peito,
que me apertaram nos acordes dissonantes
E respiraram aliviados no resolver dos conflitos.
Quantas pessoas são capazes disso?
Fazer música tátil?

Eu não conheço você,
Mas tive tempo de sentir saudades.
Revirei seu orkut e não descobri nada,
Mas vi seu coração fotografado na ponta dos dedos
e, de repente, você ficou ainda mais interessante...

Nem sei se importa a direção do próximo passo,
Só sei da ironia de me preocupar sempre com a hora
e por isso perder horas do momento que você me deu

Mas, se nada mais,
Eu sonhei com um príncipe,
Por uma semana tive 13 anos
E voltei a ser leve.
Hoje, ainda não acordei...
Obrigada.

Morena dez/10

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Búfalos, homens e outros bichos


Dizem que em uma manada de búfalos quando um predador aparece, a manada corre o máximo que pode para que os mais velhos, os feridos e todos os que são de alguma maneira fracos fiquem para trás.

Já ouvi falar de outros bichos que se fecham em um círculo expondo a carcaça rija, colocam seus fracos no centro e os protegem, por vezes com a própria vida.

A manada de búfalos cresce cada vez mais forte...

A desses outros bichos perde cada vez mais seus fortes...

E nós? Esse bicho raro, humano, que tipo de bicho somos? Nem com o outro, mas com nós mesmos? A gente arrisca? Respira fundo e aguenta porrada pelo que acredita? A gente foge? E deixa ficar no caminho os sonhos e convicções de uma vida?

Aprendi, da forma difícil, que se pode furar um dedo e ele voltar a ser funcional, exatamente como era antes. Mas não se pode furar um olho sem perder a visão...

Algumas dores calcificam nossos ossos e os tornam inquebráveis. Outras, nos deixam amputados e a doce Pandora nos permite acreditar em redenção...

A tanto tempo vago cega a chorar sangue que acreditei piamente ter aprendido a enxergar. Hoje me perguntaram a cor da rosa na palma da minha mão... Rosa?

Hoje, entendi que algumas coisas mudam, com outras a gente simplesmente se acostuma.

Morena - set/10

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Diplomacia x Sinceridade



Acho que de uns meses pra cá desaprendi tudo o que passei a vida toda preocupada... Mais no que diz respeito ao famoso ditado "a corda SEMPRE arrebenta para o lado mais fraco" Mas e aí? Ser diplomata ou sincero?

A muitos anos trabalho em uma escola que se sustenta pelo empenho dos professores, eu inclusa. Já vi muita coisa errada acontecer ali... muita mesmo! Mas a gente faz o que pode, fica calado, tenta fazer o filme e vai vivendo porque gosta dos alunos e do ambiente. Reclama do que pode reclamar mas sem botar a boca no trombone e dizer o que pensa, trabalhamos a velha e boa diplomacia em prol da boa convivência.

Desde que eu me lembro que existo estudo em outra escola, muito renomada e com excelentes professores... Só que eu era muito criança para entender tudo isso e para levar em consideração. Pois bem, reprovei um monte e troquei de instrumento tantas vezes que mal cabem nos dedos. A dois anos e meio cresolvi mudar e encarar que o que eu realmente quero é aprender. Deixei de ser uma aluna que toma a vaga dos outros e passei a merecer a minha própria vaga.

Só que esse ano tudo mudou de figura...

Enchi o saco da péssima administração da escola que trabalhava, tentei conversar, tentei mudar, tentei entender e cansei quando resolveram um problema que não tinha nada a ver comigo colocando a culpa em mim. Depois de tantao trabalho? Não dá! Em outras épocas ficaria triste e poderia até chorar, mas dessa vez resolvi sair fora e levei comigo quem quis vir! Fiz da meneira que achei certo e por isso recebi ameaças de empatar minha entrada em outras escolas, além de ter sido enviado um email a todos os meus colegas de trabalho sobre "a minha forma de trabalhar". De novo: em outros tempos eu teria ficado triste e teria até chorado. Dessa vez mandei um email pra todo mundo contando os motivos que me fizeram sair, coisas que só quem lutou e acreditou na escola saberia.

Na outra escola tem uma professora que me inferniza. Porque ela jura que está no ídolos e que pode acabar com a auto estima dos alunos. Bom, eu fui no ídolos e nem lá eles me trataram da maneira como ela me tratou. Fiquei meses sem conseguir cantar, e até hoje sofro consequências da insegurança que se originaram por causa dela. Em outras épocas eu chorei. Muito. Esse ano resolvi encarar. Bom, de novo a corda arrebentou do lado mais fraco e acabei de descobrir que perdi a vaga da escola. Mesmo com mil atestados e comprovantes de viagem o diretor achou que eu não deveria trancar e como não consegui marcar aula no início do semestre, a vaga rodou.

Cheguei em casa triste, pensando em como algumas pessoas ficam felizes em infernizar a vida dos outros ou em como simplesmente falta compreensão, vontade de ver o lado do outro. E eu não dou conta de diplomacia... meias verdades, o sorriso falso e a convivência empurrada com a barriga. Acredito que quem pergunta quer saber e que as pessoas tem o direito de falar a verdade mas que tem que aguentar ouvir a verdade também! Sem por isso usarem de influência pra encher de pedras o caminho de alguém...

Vim no carro pensando que talvez devesse mesmo falar só o que deve ser dito para não me ferrar. Mas depois penso que existem outras escolas no mundo para se trabalhar e estudar e talvez eu já tenha excedido a quota nessas duas... Ou ainda, na lei de Moisés posso processar uma por difamação e fazer prova pra voltar pra outra, me formo, saio cantando em tudo que é canto e ainda faço uma dedicação sínica sobre como ela me ajudou a perceber que eu não preciso do aval dela pra fazer sucesso!

Mas e no final? Diplomacia resolve alguma coisa pro lado de cá da corda, ou só faz a gente acreditar nisso?

Morena - set/10

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tempo?


21:00:00h. Estou um pouquinho atrasada, mas chegando.
21:05:05h. Ele liga em casa para desistir, mas eu já saí.
21:12:16h. Chamo no interfone mas ele ainda não está pronto, tenho outro amigo no carro então resolvo esperar no estacionamento mesmo.
21:25:55h. Ele aparece estiloso, os óculos fiéis, sempre responsáveis pelo charminho nerd, contrastam com a jaqueta de couro preta. Tenho vontade de fazer um comentário, mas por alguma razão me calo...
21:42:43h. Chegamos na festa. Eu, sempre meio serelepe saio falando com todo mundo, cumprimentando, abraçando, rindo, conversando, dançando...
22:00:45h. Passo por uma mesa com alguém que já não vejo a tempos, ele me chama para puxar uma cadeira e sentar junto. Agradeço o convite mas ainda estou "reconhecendo o ambiente".
22:06:34h. Sou apresentada para um cara que me abraça e me beija, me diz que sou linda e termina com: "Você vota?" huahuaha
22:21:45h. Começo a dançar com meu amigo e percebo que a muito não sei onde ele está.
22:30:23h. Vou deixar a bolsa no carro.
22:32:00h. Volto e vejo ele parado perto de onde eu estava. Ele está conversando, mas vira e sorri para mim. Por algum motivo esse sorriso mexe comigo e tenho vontade de dançar com ele.
22:32:10h. "Eu não sei dançar!" "Não precisa saber, só precisa dançar!"
22:33:15h. Ele me diz que a pista de dança não é ali e me leva para outro lugar.
22:35:02h. Eu reparo no cheiro dele pela primeira vez. Gosto.
22:35:20h. Estou me divertindo rodando ele, vendo o rostinho sem graça de não saber o que vai acontecer enquanto rola um Fala Mansa apressado. Gostaria de lembrar a música...
22:38:20h. A música acaba no meio, eu agradeço com um comprimento e ele reclama sem soltar minha mão... Eu gosto.
22:38:25h. Ele insinua que a próxima música é sertaneja. "Não dá pra dançar sertanejo" "Dá pra dançar qualquer coisa!"
22:38:34h. Voltamos a dançar.
22:39:00h. Eu reparo nele segurando a minha cintura, não o meio das minhas costas como o apropriado. Por um instante me sinto arrepiar de leve.
22:39:03h. Lembro que ele "não sabe dançar", pode não ter sido intencional.
22:39:04h. Páro de escutar o que ele diz, se é que dizia alguma coisa... Meus pensamentos estão voltados para a sua timidez em me segurar e para a minha pele que esquenta embaixo da sua mão direita.
22:45:10h. A música acaba e eu agradeço, mas só consigo pensar no quanto queria chegar mais perto, sentir os passos dele acompanhar os meus... Mas tudo está bem misturado na cabeça.
22:45:12h. Ele pergunta que música é aquela.
22:45:13h. Eu penso que o dj é péssimo e começo a sair do salão.
22:45:14h. Eu percebo que ele ainda está segurando minha mão. Penso que quer dançar mais. Penso que eu quero dançar mais.
22:45:15h. Ele solta minha mão.
22:45:16h. Droga de dj!!!!
22:45:35h. A gente vai pegar alguma coisa para comer e começa a conversar.
22:50:01h. Sentamos na mesa e eu não consigo escutar o que ele fala... Ainda sinto a minha cintura quente e acho engraçado.
22:55:04h. Uma amiga vem se despedir e me conta que meu amigo ficou sozinho. Peço a ela para encaminhá-lo para minha mesa.
22:56:49h. Penso que já deve ser tarde, é melhor ir para meu amigo não perder o ônibus.
22:56:50h. Olho para ele de novo e ele sorri.
22:56:55h. well, dane-se! Eu levo meu amigo em casa depois...
22:59:57h. Meu amigo senta na mesa com a gente mas não participa da conversa.
23:02:59h. Começa a me incomodar o fato do meu amigo estar mexendo no celular. Será que está fingindo que está ocupado porque se sente excluído ou realmente está ocupado?
23:04:26h. Eu não aguento e peço para meu amigo sentar do meu lado. Meu amigo me mostra o celular com cara de "estou ocupado".
23:04:27h. Eu relaxo.
23:04:30h. Reparo que a algum tempo não sei do que ele está falando, mas ele é esperto, e não quero que ele ache que eu estou entediada, então vez por outra me esforço para me concentrar e comento sobre a última frase.
23:10:00h. Meu amigo começa a participar da conversa.
23:10:01h. Eu me sinto bem mais aliviada. Agora posso observar sem medo de constranger! =)
23:15h:03h. Descubro porque eu acho que ele tem cara de bobo. É o jeitinho que ele ri. Por dentro rio sozinha lembrando o quanto eu adoro uma carinha de bobo, aquela impressão de inocência sabe? Aquela inocência saudável?
23:16:05h. Resolvo voltar para a conversa com mais afinco só para provocar aquele sorriso lindo, bobo!
23:40:05h. Um outro amigo chega. Me abraça, me beija e me conta as novidades. Levanto para falar com ele.
23:46:07h. Começo a querer colocar o novo amigo na conversa.
23:46:08h. Reparo porque: já estou com saudades...
23:46:09h. Me sinto ridícula.
23:48:02h. O novo amigo resolve cumprimentar o resto da mesa.
23:53:47h. O novo amigo vai embora.
00:03:32h. Eu penso que já deve ser tarde, lembro que ele disse que não queria ficar muito tempo e olho em volta. Já não vejo quase ninguém...
00:03:46h. Olho para ele de novo e some aquele início de vontade de ir embora.
00:03:53h. Rio de mim mesma e de toda a situação.
00:04:03h. Observo ele sorrir...
00:04:06h. Será possível? Que meu coração ainda despedaçado no chão da sala, o mesmo que ainda não tive ânimo para consertar, será possível que ainda assim possa funcionar?
00:05:00h. Concluo que ainda é cedo pra dizer.
00:23:07h. Ele levanta, fala qualquer coisa e sai.
00:26:30h. Olho em volta para saber onde ele foi.
00:26:58h. Encontro ele conversando com alguém.
00:28:02h. Fico entediada, me bate o sono e eu quero ir embora.
00:30:45h. Ele volta pra mesa.
00:30:47h. Eu repenso sobre ir embora...
00:31:01h. Ele avisa da hora e chama para ir embora.
00:31:02h. Eu fico sem graça, eu que devia chamar para ir embora não? Eu estou dirigindo... Odeio ficar "sem noção".
00:31:10h. Ele tenta voltar atrás, dizer que está bem, que era só para chamar a atenção...
00:31:14h. Eu interrompo e digo que estou mesmo com sono.
00:32:34h. Começamos a nos despedir do pessoal.
00:37:05h. Já na porta aquele mesmo amigo de antes volta a me encher de elogios.
00:37:10h. Adoro que os elogios estejam sendo feitos na frente dele e lembro do ex que gosta de queimar meu filme na frente dele...
00:37:15h. Começo a lembrar da minha teoria de que o ex faz isso pra "marcar território". Que nem cachorrinho que sai mijando em tudo que é árvore. Não vai voltar em nenhuma, mas está lá marcado o espaço dele!
00:38:27h. Começo a ficar sem graça pelos elogios que ainda estão rolando.
00:39:03h. Começo a pensar se não vão surgir o efeito contrário: ele pensar que o outro está afim de mim...
00:39:04h. Droga!
00:42:45h. Entramos no carro. Estou meio cansada, não participo muito da conversa...
01:12:32h. Chegamos na casa do meu amigo.
01:13:24h. Ele passa para o banco da frente.
01:13:57h. Eu fico feliz.
01:13:59h. Eu me acho engraçada...
01:30:45h. Eu tenho a brilhante ideia de andar mais devagar...
02:06:34h. Chegamos na casa dele.
02:06:35h. Ele me pede para estacionar e subir com ele para pegar um presente que a mãe dele deixou para mim.
02:07:32h. Ele segura a porta do elevador... hihihi
02:09:33h. Entramos na casa dele.
02:09:35h. Ele deixa a porta aberta.
02:09:36h. Não pretendo demorar, mas fico triste assim mesmo.
02:13:06h. Ele fecha a porta... =)
02:16:04h. Ele diz que vai descer comigo para me ajudar a carregar um tapete pequeno e uma lata de refri.
02:16:05h. Acho ele um fofo! huahua
02:20:32h. Eu abro a porta do carro.
02:20:35h. Eu dou um abraço de despedida nele.
02:20:36h. Eu sinto o cheiro dele de novo...
02:20:37h. Eu tenho que soltar?
02:21:02h. Ele vai avisar o porteiro para abrir a cancela.
02:21:04h. Eu agradeço a noite enquanto ele caminha.
02:21:05h. Ainda agradecendo tenho esperança dele parar de caminhar e voltar para o carro...
02:21:06h. Por que ele faria isso???
02:21:07h. Rio de mim mesma enquanto entro no carro e fecho a porta.
02:29:46h. Chego em casa.
02:30:04h. Ligo o computador e já me esqueço, ou nem acredito, em todas as pequenas coisas que senti e pensei hoje.
02:34:46h. Escrevo essa história...

Morena - jul/10

sábado, 10 de julho de 2010

Ah! Meu Samba...

- Então, o que você canta de romântica?

Pausa... longa! - Como assim?

- Música romântica! O que você canta de música romântica?

Nova pausa... quase desesperada de tão longa... - Sem ser samba?

- É porque você já colocou um monte de samba canção né?! A gente precisa de música romântica mesmo!

E eu páro até meio apavorada. Ok, sem ser os forrós que ele me deu pra aprender nem os sambas que guardo no coração, o que mais eu sei cantar??? Frito por alguns instantes até ele perceber minha agonia e tentar me ajudar:

- Roberto Carlos! O que você canta de Roberto Carlos?

Mais uma pausa... - Eu até conheço bastante coisa mas não sei exatamente o que eu consigo segurar. Vou dar uma pesquisada essa semana e te respondo.

Daí ele fica preocupado e com uma cara de desistência rebate:

- Tá bom! Chico Buarque! Eu também tenho que aprender a tocar o que você sabe cantar né?! O que você sabe do Chico?

Ah! Do Chico tem muita coisa né?! Afinal ele é o cara! - penso em quase voz alta. E mando uma que está na ponta da língua.

- Essa é boa! Outra!

Pausa... Não, isso não está acontecendo, ele pediu Chico! Que mais eu sei dele? Folheio o caderninho impaciente mas só encontro sambas e mais sambas e mais chorinhos. Sorrio amarelo e lembro que ainda nem fiz dois anos de samba! E eu cantava antes disso... Não cantava? Claro que cantava! Estamos em 2010 e eu canto desde 2002, o samba só apareceu em novembro de 2008! Até respiro aliviada... Então, o que eu cantava antes do samba?

"Onde foi que vivi se nem me lembro se existi antes de você?"

Ah! Meu samba...

Morena - jul/10

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Política, politicagem e afins...


Acordo cedo e vou trabalhar, é incrível como no final do semestre o corpo da gente pesa mais na hora de levantar...

É uma manhã bonita. O sol resolve acordar junto comigo, diferente das outras manhãs da semana, e os passarinhos até cantam mais alto na minha janela.

Chego na escola e encontro meus aluninhos queridos, super empolgados com o pequeno show de talentos que prepararam durante a semana. E, a animação é tanta que até recebo uma mãe com máquina fotográfica e tudo mais...

Tudo está correndo muito bem quando percebo meu celular vibrar no bolso insistente, entre uma aula e outra espio o visor e vejo: 3 chamadas não atendidas. Bom, não reconheço o número e, de qualquer maneira não posso retornar agora.

Quando a aula acaba, saio correndo para um ensaio, mas claro, sou interrompida por coordenadoras e secretárias precisando de alguma coisa, além de pais de alunos querendo algum retorno sobre o rendimento dos meninos. Saio rindo e pensando que meu almoço já era.

Chego no ensaio, temos pouco menos de 30 min para definir o repertório e as formas de execução. Mesmo assim estou animada para a noite, afinal fui muito bem recebida da última vez que cantei para aquele público. E, apesar de sempre me incomodar um bocado estar no meio de políticos e garotas bonitas que desfilam com eles, tento lembrar que antes de tudo são pessoas, e é por isso que eu faço o que faço: adoro gente. Fora que a anfitriã é uma pessoa muito querida, mãe de uma amiga muito querida, tanto que combinei um cachê que "mal paga o cafezinho".

O aluno do sanfoneiro chega e ele não tem tempo de almoçar propiamente. Combino de pega-lo às 18:30h.

Vou para casa correndo gravar o cd que ele me passou, ver se como alguma coisa, colocar as músicas no papel, relembrar alguns trechos de letras e faço uma coisa que não custumo fazer: ligo para confirmar. Porque sou diferente... eu acho... pra mim se tá falado, tá falado! Se alguma coisa acontecer a gente entra em contato mas caso contrário já está confirmado quando eu digo que vou. Mesmo assim, tenho vontade de ligar, quem sabe não foi ela quem me ligou de manhã? Hum... não atende... bom, nem tenho crédito para ficar retornando todas as ligações de números estranhos. Se for importante tenta ligar de novo!

Ajeito tudo e quando penso que vou ter um minuto para descansar o telefone toca. É um percussionista querendo me dizer que o meu percussionista está doente, que ele vai fazer o trabalho se eu quiser, mas vai tocar com a orquestra até 20:45h. E o meu evento começa as 20h. Desligo o telefone e frito pensando em ligar para um terceiro, mas não posso, assim tão em cima da hora? Confirmei o evento no dia anterior e já era muito em cima pra chamar alguém. Retorno a ligação e peço "voa pra lá!"

Me arrumo correndo e chego atrasada pra pegar o sanfoneiro, tadinho! Ele nem tem tempo de dar uma descansada das aulas (62 anos eventualmente começam a pesar né?!) porque a gente tem que separar mais algumas músicas pra fazer piano e voz enquanto o percussionista não chega.

Saímos correndo e ele, com fome, já me fala do jantar que vai ter no local do evento. Até nos esforçamos pra chegar mais cedo porque ele quer comer antes de tocar. Chegamos em cima da hora e quando chegamos uma surpresa: não se pode mais tocar em eventos políticos. A assessora tenta me explicar que me ligou "o dia todo", que no final é melhor assim porque quem tem dinheiro pra levar Zezé de Camargo ganha a eleição etc, etc.

É aí que me lembro que ainda não estou na rua panfletando a favor do voto nulo com dinheiro do meu bolso (porque se 50% mais um voto forem nulos, uma nova eleição é convocada com novos candidatos.), por causa dela! E nem fui atrás de verificar a veracidade dessa informação porque ela me ajudou antes de pensar em se eleger. Me ajudou de graça... E desde então comecei a tentar dar uma nova chance a política dentro de mim mesma, pensando que existem candidatos bons e tal. Na verdade é exatamente isso que digo para a presidente do movimento jovem do partido quando ela começa a falar dos encontros, dos sarais e já vai me dando uma preguiça... "Não entendo nada de política, e pra falar a verdade, nem gosto. Não me meto com partidos nem com campanhas. Eu gosto e entendo de pessoas e é com isso que eu me meto." Daí falo pra ela da anfitriã e do dançarino que me contratou da última vez. É disso que eu entendo, de verdade! E de repente já me acalmo um pouco da frustração que eu estava né?! 62 anos... E fiz ele carregar a sanfona da Ceilândia desde 8h da manhã nem por um cachê, mas por uma amizade. Ele é bonzinho, sei que não vai brigar comigo, e isso me consome ainda mais. Mesmo assim, do jeitinho dele me chama a atenção por não ter confirmado.

Lembro do meu projeto, barato, prático: literatura itinerante nas satélites, no meio da rua pra quem não tem voz. Penso que agora na época de eleição é hora de conseguir as verbas né?! Porque eu tenho um projeto, eles precisam aparecer então junta a fome com a vontade de comer e... Ouço que o projeto não deve sair por agora porque "todo dinheiro pra campanha é pouco". Como assim? Depois, parada no sinal fechado, entendo: cartazes, faixas, panfletos e um candidato na minha porta me entregando adesivos...

É assim que gasta dinheiro de campanha? É, não entendo mesmo de política! Porque eu COM CERTEZA não vou votar no cara do sinal, mas se estivesse passando na rua e visse um palhaço recitando um poema e um menino escrevendo um texto anotaria o nome escrito no bloco de papel para votar no cara! E, panfleto por panfleto todo mundo distribui e só deixa a cidade suja... Mas que tal pagar o meu cachê, me dar bloco de papel e lápis com sua logo? Colocar seu nome nas costas da minha camiseta na parte que diz "patrocínio"... eu uso! E acabo fazendo campanha pra você, não porque você me ofereceu um cargo, mas porque acreditou em mim, e nas pessoas contempladas pelo meu projeto. É disso que o povo precisa.

Fui levar meu sanfoneiro na rodoviária para ele poder pegar o transatlântico, os dois aviões, o metrô e o ônibus antes de chegar em casa, afinal, a carona dele foi embora a pouco mais de duas horas atrás... Engato a primeira e penso em fazer uma faixa bem grande:

Porque quem fala muito, não diz nada; mas quem faz muito, diz tudo!

Morena - jul/10

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ponto de Vista

Tiago tem 7 ou 8 anos de idade e um problema sério de concentração e aprendizado. Enquanto a turma termina a prova em 1 hora, ele leva em torno de 3.

Pedro é outro menino, de mesma idade, que acabou de mudar de colégio. No primeiro dia de aula, ele apareceu com os pais e avós que conversaram demoradamente com a professora sobre o comportamento dele. Na saída a avó invocou proteção divina para a professora e, com menos de 30 min na sala, o menino já quebrou todos os récords de indisciplina.

André é um terceiro menino, um pouco mais novo, que é completamente desobediente. Não fica sentado nem quieto na hora da explicação. Fala sem pedir permissão e está sempre com um brinquedo na mão.

Esses são três dos meus alunos pequeninos... Só que o que ninguém sabe é que

Tiago é um menino muito doce. Ele sabe ouvir na hora de ouvir e é extremamente interessado. Mesmo sendo bem menorzinho que os outros, ele não tem dificuldade em se enturmar, a sala toda adora ele e, a minha parte favorita: ele compõe. Me mostrou uma canção que fez ao piano com um ritmo e melodia que ele mesmo inventou. A mãozinha mal comportava as distâncias das notas mas a marcação era precisa e a canção uma gracinha.

Pedro tem uma capacidade incrível de rimar. É como se as palavras fossem brotando em sua cabecinha enquanto a gente fala. Ele é o primeiro a entender a explicação, além de ser um menino animado e pronto para as atividades.

André não consegue ver ninguém triste sem se sentar ao lado. E, mesmo que nessa idade meninos e meninas se odeiem, pra ele não importa, se alguém precisar ele vai estar ali com todo o seu carinho e atenção.

Hoje fiz uma prova e não fui bem. Terminei de cantar já frustrada pensando que devia ter reclamado menos, estudado mais, escolhido uma música mais fácil...

Que não podia ter ficado tão nervosa, que devia ter comido direito (para conseguir respirar melhor), que devia ter ido mais vezes ensaiar com a pianista...

Que devia ter me irritado menos com o modo como estava sendo ensinada e me preocupado mais com o que estava sendo ensinado, menos com com o sistema e mais com uma maneira de me encaixar...

Reprovei. Justo da vez que achei que finalmente ia pular alguns níveis, eu reprovei. Quis colocar a culpa do meu desespero em pensar que isso pode me custar a vaga de piano. Já liguei agoniada para minha professora e pedi ajuda. O que se é possível fazer? Ela me acalmou e disse que vai conversar com 1000 coordenadoras e tentar resolver meu problema. Mesmo assim desliguei o telefone e chorei que nem um bebê. A vaga do piano é, sem dúvida, de extrema importância pra mim, mas mais do que isso lembro que em 8 anos eu deixei de alcançar 100% de aproveitamento uma única vez. E justo agora que sou professora de canto e que estou me apresentando com músicos renomados do cenário brasiliense toda semana em pelo menos dois lugares diferentes, escuto que a minha colocação está péssima, que estou sempre aquém da afinação, que isso no meu nível é inadmissível, que afinar é o mínimo para cantar... Justo nessa época tão importante eu não tenho uma intervenção da minha professora, no sentido de me dar suporte e ao menos comentar que na sala eu fui bem melhor do que na prova e nas apresentações. Porque se não fosse verdade não teria me deixado cantar uma canção a capella e teria sugerido que não fizesse a outra... não? Até a pianista acompanhadora, criou uma brecha para segurar minha mão dizendo que aquela música é muito difícil.

No meio do papel assoado e os olhos inchados lembrei de sábado quando desci do palco e uma ex professora de canto me disse o quanto eu cresci e o quanto estava impressionada comigo. Logo antes de uma amiga, mais uma cantora, que segurou minhas mãos, me olhou nos olhos e disse "Nível 3, nível 10, que se dane! O que você tem elas nunca vão ter! Alma! É a beleza da música!"

Pensando um pouco mais ainda lembrei de uma colega do piano, produtora, que uma vez fui consultar depois de cantar: "Desafinações a parte, o que você achou???" "Perfeito. Uma cantora de fama nacional, internacional se você quiser. Porque fulana e cicrana foram extremamente afinadas, mas você fez música!"

E aí eu me pergunto e pergunto a vocês: até que ponto o Tiago é burro? Até que ponto isso importa? Ele vai sair da escola e nunca mais vai precisar responder em 5s quanto é 5 x 4, e vai ser um pianista maravilhoso, daqueles que faz a gente arrepiar...

Até que ponto Pedro é um aluno ruim? Ele vai passar em 1º lugar pra Medicina na UnB e ninguém vai se importar se ele não está sentado e calado o tempo todo. As pessoas vão aprender a lidar (e até gostar) da vivacidade dele...

E o André? Até que ponto ele é desobediente? Se ele não escuta o professor porque está preocupado com a menina que machucou o dedo ou tentando consertar o brinquedo do coleguinha? Ele vai se tornar psicólogo renomado e o melhor amigo que se pode ter, daqueles que larga tudo quando alguém precisar.

E eu? Sou assim tão desafinada? Até que ponto isso realmente importa? Até que ponto vale a pena pirar porque não consigo ouvir todos esses erros? Até que ponto os "portatos" são mesmo proibidos e até que ponto eu tenho o direito de fazer o que eu quiser com a minha voz porque é verdadeiro? Até que ponto sou cantora, e até que ponto é só teatro? Porque, afinal, todo ponto de vista é a vista de um ponto...

Morena - jun/10

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Meu Aniversário...


Não quero parecer dramática, mas talvez seja só isso: uma dose cavalar de ingratidão, ou de consciência... quem sabe?

Odeio fazer aniversário. Vez por outra acabo usando a desculpa para fazer festa (uso qualquer desculpa para uma boa festa), mas a verdade é que detesto.

Quando era adolescente, um pouco antes da febre dos celulares; me trancava na biblioteca o dia todo para não atender os telefonemas que procuravam por mim... Detesto ficar em evidência (exceção para o palco).

Quando fiquei um pouco mais velha, só desligava o celular. Eram sempre tantas pessoas que se lembravam de mim ao mesmo tempo, que era como se pudesse sentir seus pensamentos se aproximando e de repente ficasse sufocada.

Hoje, nem celular nem telefone. Esse ano resolvi fazer um teste e apenas durante as 24 horas do meu aniversário resolvi não entrar no orkut. Confesso que foi um dia agradável, e pela primeira vez contei para alguém que era meu aniversário! Foi mais uma chantagem, para a minha turma se comportar como presente, do que a simples abertura, mas ainda sim me senti enrubescer quando 20 crianças de 8 anos de idade cantaram parabéns e ainda fizeram com quem será com umas 15 pessoas diferentes...

Recebi 4 ligações, 2 mensagens no celular e três visitas importantes. Ainda recebi um email carinhoso de um irmão que mora longe e um presente de uma aluna querida... E acaba sendo inevitável não sentir falta do ano que acordei com bem uns dez amigos em volta da minha cama me trazendo de presente uma abóbora assinada (ver o texto "20 anos blues") ou não lembrar da vez que saí da sala da faculdade tantas vezes para atender o celular que o colega do lado me perguntou "Hoje é seu aniversário?". Rs... acho que era o único motivo que ele conseguiu imaginar para alguém ficar repentinamente famoso! =)

Ontem foi um dia extremamente agradável, cheio de obrigações e estudo. Pouco tempo para divagações... Uma das diretoras comprou um bolo delicioso de limão e uma caixinha de brigadeiros, enquanto os outros professores cantaram "Parabéns pra você" subindo de tom em tom ou, batendo palmas no contratempo, ou ainda "só instrumental" (essa foi nova pra mim, quer dizer só as palmas hauhau).

Só que hoje, toda essa leveza sumiu quando respirei fundo e resolvi abrir meu orkut... Fui bombardeada de recados iguais enviados muitas vezes por pessoas que nem lembro mais quem são, e que por certo tem a mesma recordação de mim.

Outras ainda tão especiais e queridas, mas com os mesmos votos recortados e colados do recado de cima. E a surpresa ao perceber amigos tão recentes, ou nem tão próximos, que se esforçaram por deixar uma mensagem um pouco mais pessoal... Penso então nessa tecnologia toda, na pressa e na facilidade que temos de descobrir o aniversário de alguém: navegando no orkut, onde se aperta meia dúzia de teclas e pronto! Antes os telefonemas vazios (mas que eu não conseguia perceber que ainda estavam BEM cheios de carinho a contar pelo tempo que demandavam de se largar o que se estava fazendo e a ligação) já me incomodavam e agora, acredito que esse digitar muitas vezes não deixa tempo nem de lembrar o nome da pessoa para quem o recado está sendo enviado...

Mesmo assim, a todos eu agradeço os votos! Acredito que quando muita gente deseja a mesma coisa, lá no céu enche mais minha caixa de bênçãos e Papai do Céu fica mais propenso a mandar mais rápido. =)

Talvez eu esteja só dando uma pála bem adolescente, "fazendo drama", ou, apenas tenha perdido a capacidade de canalizar minha intensidade para os meus textos. Não mais. Minha verdade está na respiração e densidade de um beijo demorado na bochecha e um abraço apertado. Peço desculpas se a alguém pareci insensível, mas percebi e quis ajudar a perceber. E o fato é que as marcas feitas no meu peito vão ficar tatuadas pra sempre, mas a partir de hoje, meu aniversário sai do orkut.

Morena - mai/10

Gabriel:
Nanis Nanis!!
Parabéns procê! Muita música, muito sucesso e principalmente, muito amor (pro clichê ficar melhor) nesse novo ano de vida.
Te adoro demais da conta!
Beijo

NÃNA:
Nayara vozeirão de ouro, quero te desejar mtas felicidades neste dia tão especial!
FELIZ ANIVERSÁRIO, tudo de bom e que vc continue por muuuitos e muitos anos a nos alegrar com sua alegria e liiinda voz!

Bju da Nãna

JONATAS MESSIAS:
Minha nega veia!!!!! Parabens, tu sabe q te amo muito ne???? Vc foi um dos presentes de Deus p minha vida minha irma, muito muito muito bom ter te conhecido e por compartilhar com vc, muitas coisas, es especial!!! Q vc continue sendo assim !!!! amo ti!!!!!!!!!!!!!!! bjssssssssssssssssssss

seila:
Parabens minha lindaaa!!! te desejo tudo de bom...
Queria ta ái perto pra te da esse parabens pessoalmente, pois sabe que amo muuuito vc, q a distancia não acaba amizade verdadeira.
bjs!!! MUUUUUITAS FELICIDADES...

Gabi:
Oi linda,
Estou aproveitando o orkut aberto da Gabi para lhe mandar um beijao
te amo mas voce ja sabe disso
tudo de bom
ps: ainda estamos esperando seu relatorio de viagem.

Felipe:
Feliz Aniversário Naiara!
Tudo de bom pra você que tem o dom de fazer as pessoas se sentirem bem. Que continue com essa sorrisão sempre e com a música trazendo luz a sua vida!
Adoro as conversas e macarrões de domingo a noite, viu! hehehe!
Beijão!

Kadja:
vou te dar Parabéns nao!
Todo mundo já tá fazendo isso...
Acho q eu vou te dar dinheiro $
qdo eu tiver, é claro!!!

Cristina:
Parabéns!
Nossa! Fico impressionada com o quanto que te desejo coisas boas para este dia e para sempre!
Você merece todo sucesso que procura e muito mais.
Gosto demais de você, viu!?
Um abração bem grande!
Bjo.

mozak:
parabems a cantora mais linda do mundo
que DEUS realize todos os teus sonhos
beijos

Leo:
Cantoria que faz bem aos ouvidos de todos, Nai!

Quero ouvir esse colibri de sorriso lindo cantando E MUITO hoje, feliz e contente por ter completado mais um ano de amizades, conquistas, realização profissional, pessoal, muuuuita saúde (tá precisando de um pouco mais, ainda!) e felicidades!

Gosto demais de vc, garotinha! Estarei ao seu lado 4éva! :D

Beijãozão!!

Rui Beth:
Dizem que idade e sabedoria caminham de mãos dadas, assim que hoje queremos PARABENIZAR-TE por mais um ano de sabedoriaaaaaaaaa!!!
FELIZZZ ANIVERSARIOOOOOOO, BJUS no coração

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Hipnose

Vou até a escola com o único objetivo de ser sorteada e poder efetuar minha matrícula, e assim é que, na verdade, começam as melhores histórias: sem pretensão nenhuma de sair do planejado.

Sete pessoas para seis vagas. E de repente tudo fica tão tenso... Serei eu a azarada a ficar de fora? Seis papéis brancos e um pardo. A convidada, de olhos vendados separa alguns papéis com os dedos, ainda com a mão na sacola transparente. O papel pardo cai e de repente eu penso pronto! Se vai ser um branco, vai ser o meu! De repente todos os outros lhe escorregam e ela recorre ao papel pardo, sozinho no fundo do saco. Um suspiro aliviado deixa meu corpo ao olhar meu comprovante branco.

- Maria Letícia!

É colega, quem sabe alguém não desiste e você consegue se matricular? – penso ao caminhar sorridente para a sala de matrículas.

- Você que está com bebê no colo e o senhor têm preferência!
Sem problema! Penso no meu cantinho... a vaga é minha! Passa quem quiser na frente.

E o bebê é o mais fofo de todos! Sorri de graça e eu me encanto com suas mãozinhas e coxas gordinhas. Faço um comentário em voz alta e alguém complementa da porta. Levanto os olhos para responder quando me deparo com um sorriso lindo! Tão incrivelmente brilhante que iluminou a sala toda por alguns instantes. Sorrio de volta sem ter a mínima ideia do que estava falando. E abaixo a cabeça para olhar o bebê, mas sem conseguir vê-lo mais...

Concluo minha matrícula e levanto os olhos para sair quando rapidamente fotografo a figura: chinelo de dedo, calça de tecido levemente colorida. Camiseta de mangas curtas, um dred único amarrando o resto do cabelo comprido de modo charmosamente desordenado. A pele é queimada de sol, os olhos esverdeados, a barba quase loura, da mesma cor dos cabelos e aquele sorriso também de graça. Sorrio de cabeça baixa e envergonhada enquanto passo por ele com mil documentos na mão e me dirijo ao carro. Um único pensamento concreto me vem a mente: porque um cara assim nunca me dá mole? E sigo pensando no pouco tempo que tenho para almoçar e no trabalho que me levará noite a dentro.

Entro no carro e, sem fechar a porta tento organizar meus papéis no banco do carona. Em seguida ajeito minha bolsa de forma a não amassar nada. Ouço uma voz do lado de fora, mas por algum motivo não dou atenção, viro para fechar a porta e me assusto ao dar de cara com ele. Fico meio em choque, hipnotizada por aquele sorriso por cerca de 1 minuto, que óbvio no tempo real não somaram 2 segundos, e sorrio boba como uma criança. Antes que eu pudesse me concentrar em ao menos tentar entender o que estava acontecendo, sinto meus lábios tocados por algo molhado e macio... Acho que eu pisquei e perdi alguma coisa...

Nessa hora, então, me envolve a cintura com braços fortes e parece que a minha alma começa a deixar meu corpo pela boca e pontas dos dedos. Quem é você que está me roubando de mim? E numa risada gostosa seguro seu rosto em minhas mãos:

- Eu não sei seu nome!

Ele, numa risada mais gostosa ainda me levanta do chão (ué, mas eu juro que estava sentada no carro!) e diz, sem tirar a boca da minha, que nomes não importam.

- Claro que importam! Eu não sei o seu!

Ele pára, se afasta uns quase 10 cm, e dessa vez me rouba a alma pelos olhos enquanto sorri e me diz uma palavra bonita, sonora, forte. Mas que não devia ser o nome de uma pessoa. Mal tem tempo de perguntar o meu até que volte a me beijar com força.

- Eu esqueci seu nome! – digo entre risadas infantis.

Ele repete, mas não sem tirar aquele sorriso lindo do caminho. E é óbvio que esqueci de novo e esqueceria mais dez vezes enquanto não fechasse os olhos e me concentrasse apenas no som da palavra.

Entre beijos, temos fragmentos de conversa, suficientes apenas para saber que ele se matriculou no horário antes do meu, e que a noite eu iria sair. Fico contente em saber que minhas manhãs de quinta-feira seriam sempre iluminadas e parti correndo, mas não sem antes ganhar 15 beijos de saideira e sem nem lembrar que hoje não posso mais almoçar.

Dirijo feito uma doida. No trabalho, me perguntam se vi passarinho verde. Ah!.. Penso comigo, se eu só tivesse visto o sorriso não era a metade! E em seguida um amigo confessa sonhar com o dia que vai ser atacado assim, na rua por uma mulher linda ao meio dia de um dia de sol...

Nem bem começo a trabalhar recebo uma mensagem falando do meu olhar, da minha energia, e me convidando a encontra-lo no final da tarde. Com a cabeça quase no lugar, respondo que trabalho até mais tarde, que posso encontrá-lo a noite onde eu disse que estaria.

Durante a tarde, entretida com o trabalho, esqueço e foi tudo tão surreal que até se entende o porquê.

Acabo saindo mais cedo, vou em casa, tomo um banho e resolvo ir a uma livraria matar o tempo, e enquanto caminho entre uma estante e outra de repente lembro dele e quero reaver a parte de mim que ele levou. Reflito por um momento e não encontro problema nele me encontrar ali. Mas não posso conter as risadas enquanto mando uma mensagem. Me sinto uma criança na véspera do Natal...

Segundos depois o telefone toca e ele me conta que está indo pra casa tomar um banho para me encontrar mais tarde. Faço uma cara de “pow!” mas acabo achando melhor. Só que antes de concluir a conversa, ele solta “a não ser que você queira me acompanhar” e eu, sonhando, respondo com um manhoso “pode ser!”. “Em 10 min eu estou aí”.

Desligo o telefone e quase volto ao normal, pensando em porque eu disse aquilo. Mas calculo que estou de carro, sigo ele e qualquer coisa eu vou embora.

Três dias depois ele chega. Não consigo entender onde ele está, o telefone corta, a ligação cai, eu rodo o shopping e finalmente entendo o que ele quis dizer. Dou a volta para encontrá-lo e, do final do corredor, vejo ele com as mãos no bolso e olhando para baixo. Vou caminhando ao seu encontro até que ele me vê e abre aquele sorriso... De repente meus olhos começam a girar e meus braços se levantam a minha frente, igualzinho um zumbi de desenho animado. Nem sei se penso alguma coisa, estou completamente drogada e, quando dou por mim, estou dentro do carro dele colocando o cinto. Sem sair do transe, penso “qualquer coisa eu volto de ônibus”.
No carro, mais fragmentos de conversa, entre os beijos roubados nos sinais fechados, faixas de pedestre ou simplesmente nas retas... E de repente olho pela janela e vejo a cidade se afastando e as luzes ficando cada vez mais escassas. Me preocupo: “Não tenho ideia de onde estou...”. Ele sorri e, depois de me roubar mais um beijo, me explica e diz que estamos chegando.

As luzes se acabam. Só tem mato dos dois lados e o pouco que se pode ver vêm dos faróis do carro na chuva fina. Bem mais a frente, vejo um portão de condomínio enfeitado com luzes de natal. E me vem um pensamento abstrato, com vontade de ser inteligível mas sem força para tanto: “ele tem vizinhos”.

O asfalto acaba e entramos literalmente no meio do mato. Já não posso entender muito bem o que acontece mas consigo definir uma casa na escuridão. Ele estaciona atrás da casa e a gente desce.

A cadela suja minha calça branca de barro, mas eu nem ligo. Ou nem percebo. Entro na casa impecavelmente limpa, sem um único prato na pia, vários livros despojadamente organizados pelos cantos e a música se manifestando através de instrumentos e CDs diversos. Me encanto e surpreendo ao saber que meu sorriso é médico e já me sinto adoecer só para ter suas mãos esculpidas a medir minha febre. E mais beijos, e beijos e carinhos... me lembro da hora e das meninas. Apresso o banho dele e sento na poltrona com o olhar vazio para um quadro... o efeito vai passando e já me sinto quase sóbria quando finalmente entendo os seios livres de uma índia.

Nessa hora, num sobressalto me percebo “onde estou? Quem sou eu?” E me apavoro por não encontrar resposta para a primeira pergunta.

Ele sai do banho cheiroso, me abraça e eu sinto seus ombros nus nas minhas mãos quentes. Seu sorriso quase me embebeda novamente, mas o medo não me deixa ir longe. “Você não assiste jornal não guria?” Penso quietinha, tentando não parecer estranha. Mas ele percebe, claro que percebe. Eu sou de vidro! Fico com pena dele, de ter se encantado por uma doida. E só penso em ir embora, e me angustio com a demora.
Quando chegamos de volta ao shopping, consigo relaxar um pouco, mas já tenho anticorpos. Sem zumbis dessa vez. Tento dizer que sou complicada numa tentativa frustrada de explicar que não sou assim, fui dopada por um sorriso...

Ele beija minhas mãos com carinho e inventa uma desculpa para voltar pra casa. Eu, me despeço querendo me desculpar, mas sem pulso para tal; e desço do carro para não mais vê-lo.

Na sala dele, conto sempre cinco pessoas. Tenho vontade de perguntar, mas acabo optando pelo mistério...

Meses depois o encontro em um show. De cabelos curtos, o que me impressiona (mais do que a constatação de que ele realmente existe), é o fato de ele estar dançando comigo... Me desligo um pouco da conversa que estou tendo e observo meu próprio rosto entrelaçado com o dele. Vejo nos meus olhos que alguma coisa me incomoda e, de longe tento perceber o que... mas ele gira e de repente está de frente para mim. Eu finjo que não o vejo e volto para a minha conversa. Até tenho vontade de falar com ele, mas lembro de como nos conhecemos, reparo nos amigos a minha volta e concluo que duas de mim é muito para uma noite só.

Antes de ir embora, ainda o vejo a me beijar, e a pontinha de um sorriso se abre no canto da minha boca...

Morena - abr/10

Pirulito



Ainda não era nada, mas já estava apaixonada...

Ele me leva num buteco, desses bem pé sujo mesmo. Sorrio do contraste entre o cavalheirismo e o ambiente. Um ponto para a ousadia, ele sabe o que está fazendo...
Resolvo entrar no clima: com tanta cachaça a minha volta nada melhor do que pedir todinho! Dessa vez ele sorri e assume de vez a brincadeira.

Não ficamos muito tempo, mas o romantismo dele com cara de serenata e violão, se faz no meio dos bêbados e das mesas de lata. Ele quase pega minha mão, posso sentir o calor da mão dele ao passear por perto da minha. Mas ainda não é hora, e embora os dois queiram muito adiantar o relógio, sabem que a hora não adianta.

Passa um menino vendendo rosas. Tenho certeza de que ele vai jogar com mais afinco e vai me dar um presente. Mas ele não compra. Mais um ponto, por conseguir me enganar... Isso nunca acontece.

E pra fechar a noite com chave de ouro, quando já não esperava mais, ele me compra um presente de um senhor:

- Eu quero um! Tem uma criança na mesa...

E eu ganho um pirulito lindo! Grande, colorido, com um palito comprido e que dá mil voltas até chegar no miolo. Se olhar muito parece que a gente fica meio hipnotizado e o fim nunca chega, parece que a gente vai chupar o pirulito a vida toda porque nunca vai chegar no miolinho.

É um pirulito bem doce, mas que pode ferir a língua. Se mastigar, ele gruda todo nos dentes e não sai nem com escova... tem que esperar amolecer. Mas é só aprender a hora de morder, de esperar derreter e de lamber que dá tudo certo.

Por bobo que pareça, me causou um impacto. Mais três pontos para ele por ser tão charmosamente original e por saber transformar um pirulito ruim em um dos melhores presentes que já ganhei. Guardei de recordação...

Meses se passaram, meses tantos que os anos acompanharam, e um dia acho o pirulito na gaveta. Meu grande pirulito colorido está melado e grudado no plástico. Tenho um pouco de asco ao pensar na idade mas resolvo assim mesmo olhar para ele: em tons de verde e cinza. Não quero jogá-lo fora em vista do que ele significa pra mim e das lembranças que me trás, mas já não o reconheço em sua melancólica velhice... Penso então em porque ele ficou assim? E uma lágrima até se anima em molhar meu rosto enquanto me vem a cabeça toda a cena que envolve aquele presente tão simples... Como foi que ele foi ficar verde? O verde é morno! É a vida que brota da dicotomia entre os mundos: quente e frio. E o que é ser morno? É a linha entre a loucura e o tédio. E por não ser nem um nem outro, talvez o verde seja apenas o "normal". Não gosto de verde, ele é indeciso. Não escandaliza nem santifica. E ainda tem duas caras: pode puxar para o azul ou para o amarelo dependendo do contexto.

Não é mar nem grama. Essas coisas todas cabem nele, mas ele é muito mais. Ele engole toda a razão e a emoção ao mesmo tempo. Ele é humano. Talvez humano demais pra ser encarado de frente. Por isso, amo o azul e o amarelo. Não o verde...

E uma saudade incontrolável invade meu peito, vontade de pegar o telefone, o metrô encontrar ele e não dizer nada. Só fitar seus olhinhos e matar a angústia... É quando lembro que o amor ficou verde, melado, com rajas de cinza. E novamente sinto um pouco de asco.

Como foi que o nosso amor ficou verde? Quando foi que começou a perder as cores alegres e vivas, o doce tão doce e passou a ferir a língua? Certo que foi como deveria ser, mas de repente me bate uma dor de entender o processo: como foi que acabamos assim?

Então reparo que nunca comi o pirulito. Preferi guardar de lembrança. E ele não é exatamente uma lembrança boa de se guardar... Tinha meus motivos de fazer o que fiz e no fundo não me arrependo. Mas me frustra saber que nunca vou sentir o gosto daquele pirulito. Seria apenas mais um? Ou teria mesmo um quê diferente? Uma pimentinha pra quebrar o doce, ou um sabor de doce de leite tão natural quanto a mordida que ele dava na pontinha do lábio inferior quando ficava sem graça...

Quantos beijos, abraços e carinhos eu e você guardamos pensando em amanhã? E a surpresa de notar que depois de um divórcio o comentário não é sobre a falta da risada alta que enchia os cantos da casa. Mas sobre o envelhecer juntos que não vai acontecer.

Ou quando o namoro termina, nada dito sobre os beijos ou a maneira especial que ele tinha de olhar para ela quando estava pronta pra sair. Mas infinitos são os lamentos sobre a primeira viagem juntos que não vai acontecer.
Nunca é sobre o que se perde, mas sobre o que se esperou tanto e não vai acontecer...

De repente penso no tempo que admirei aquele pirulito e dormi sorrindo. Penso em quantas lágrimas e em tanta dor ao perceber o amor se esverdeando na minha frente e eu sem poder fazer nada. Lembro que, na verdade, nunca tirei o pirulito do saquinho. Aprendi que sobremesa vem depois do almoço e planejei mundos e fundos. Só que o almoço nunca chegou...

Passo então a olhar com outros olhos... Será que um dia ele foi mesmo colorido? As pessoas dizem que eu vi o que quis ver, porque passei tanto tempo só olhando e amando que fiquei hipnotizada e acabei inventando um pra mim. Um lindo e apetitoso que meu paladar ansiava conhecer. Mas que de tanto que eu queria, não via. Daí tenho vontade de voltar no tempo e abrir o plástico, comer o pirulito todo de uma vez só e ficar com a língua ferida, o dente grudando, que seja! Mas finalmente saber que gosto tem. Só que quando penso, volto a ser grata pela impossibilidade da volta e por ter feito o que achava certo. Porque se assim não fosse, comeria sem sentir o gosto e ele se tornaria mais um, perdido no meu passado... Acho que assim, tendo quisto e esperado tanto acabo, na verdade, sendo a única que percebeu o tamanho, as formas, as cores e a qualidade do pirulito. Ninguém se deu o trabalho de conviver com ele, de observar cada gesto e cada olhar. Talvez por isso o amor tenha se solidificado. Eu conhecia cada listra e cada cor. Não venha me dizer que eu me iludi, eu só vi o que ninguém mais estava disposto a ver.

Hoje, no entanto, não vejo nada... a vida e a alegria do meu pirulito se apagaram. E toda a nossa linda história de sonhos e expectativas não passam de doces lembranças na fila do esquecimento. Até eu mesma! Meu sorriso, meu tamanho, meus pés e tudo mais que o encantava, já não existe. Nem a beleza que ele tanto via quando passava horas me olhando, ele é capaz de ver com seus olhos escurecidos.
E mais algumas lágrimas se unem a primeira quando, relutante, jogo o pirulito no lixo.

Morena – abr/10

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Garganta


Mais um dia de molho (e dessa vez sem trapacear como nos dias anteriores), começo a pensar sobre essas minhas crises de garganta e o que um grande amigo terapeuta que me conhece a mais de uma década (Uau! Nunca tinha feito a conta assim...) vive me dizendo: raiva reprimida se mostra na garganta!

Daí fico pensando se tenho mesmo toda essa “raiva reprimida” e se tenho, essa raiva é do que?! E o que fazer pra deixar de reprimir? Porque escolhi a profissão errada pra viver com essas pálas né?! Se como professora ainda posso, por vez ou outra, recorrer a alguns gestos; que tal como cantora? O que eu faço?

Resolvo então fazer um levantamento dos meus casos “mal resolvidos” e lembro da raiva que passei na Escola de Música e não alucinei do jeito que queria...

Depois lembro do tempo que minha mãe viajou e eu decidi deixar de ser mimada e ficar sem carro mesmo. Sem chorar, sem pegar o do meu pai nem pedir carona pra minha tia. Bah! Malditos políticos! Eu queria que o Arruda ficasse andando de baú por uma semana todo dia pra ele ver o diabo que é pra ir da Asa Norte para o Lago Sul. Uma hora e meia!!! Eu faço em 15 min de carro! Não achava ruim quando era adolescente, mas como o que é bom a gente acostuma rápido né?! O que me consola é que por enquanto ele não está indo para o Lago nem de jeito nenhum...

Trânsito... É, esses dias fui na casa de um ex (namorado, atual GRANDE amigo, porque quando dois não quer os dois não brigam), só pra ver a moto dele. ENCHI o saco de trânsito! Engarrafamento ridículo para Águas Claras toda segunda, eixo monumental LOTADO todo dia e eu bufando de calor e de raiva quando finalmente chego no trampo. Tem alguns colegas que até já me sacaram: espera passar a primeira aula e ela cantar um monte pra ficar pianinho. Daí dou bom dia até pra formiguinha que passa na minha porta...

Revirando mais o fundo do baú lembro de umas bombas e do quanto eu sempre acho que só de entregar e saber que as cartas estão na mesa (literalmente), vou poder voltar a respirar como a mais de ano (já tem isso tudo?) não consigo. Mas e aí? Acabo com a raça do cara, ele me odeia pra sempre e não sei se resolve meu problema... Poucas pessoas entendem a diferença entre não GOSTAR e não SUPORTAR mentiras. Mas quem sou eu mesmo pra limpar (ou espalhar mais ainda) a merda dos outros? E quem nunca mentiu que atire a primeira pedra...

Fora quando não respondem meus e-mails, putz! Pense numa raiva? E eu sou meio orkuteira mesmo, entro na net quase todo dia e nesse mundo virtual em ascendência espero o mesmo de todo mundo. Marco ensaio, passo repertório, peço informações, dou informações, resolvo minha vida e aperto “ENVIAR”. Daí passa três, quatro dias... às vezes uma semana e nada. Se eu pudesse demitia metade das pessoas que não respondem as minhas perguntas e devolvia a carteirinha de amigo da outra metade. Mas daí vem o anjinho no meu ombro e diz que não sei o que está acontecendo com a pessoa, com a internet da pessoa e engulo a raiva. Mas só pra ela triplicar quando encontro o pessoal na rua e a primeira coisa que eles falam: “Então! Li seu e-mail! Não respondi porque...” daí nunca responde. Podia mandar pelo menos “tô correndo! Depois eu respondo!” Se por nada mais, por consideração né?!

E a minha maldição? TODOS os meus alunos (os pobrezinhos que estudam no Galois, na Escola das Nações, INEI, os que têm carro do ano e os que foram passar o carnaval na Europa), nenhum deles tem a impressora funcionando e, na verdade, nunca ouviram falar em papelaria, lan house, trabalho do pai e até mesmo gráfica pra imprimir as cifras das músicas que eles mesmos vão cantar...

E sem poder falar e muito menos cantar, como desestresso? E segunda no trabalho, o batera!!! Podia ser o flautista, o violonista, até o pianista que eu ia ficar de boa, mas justo o batera vem me dizer que está achando lindo eu falar baixinho... E o cantor que fica sacaneando a minha comunicação em gestos... mal sabe ele que também conheço uns gestos bem feios! Salvo pelas crianças presentes...

E eu pensando que a semana ia ser um inferno tendo que achar um clínico pra me dar um atestado, depois agendar um otorrino (porque meu convênio, vou te contar...) pra conferir minhas pregas vocais e ainda ter que xerocar atestado, abrir conta no banco, entregar na escola e resolver horários de semana da voz... Sem FALAR!!! Hum... até onde eu sei, pouquíssimas pessoas conhecem LIBRAS e eu não sou fluente. Nisso já antecipei a raiva que ia passar né?! Mas para a minha surpresa as pessoas foram tão gentis! De primeira se aproximavam para entender o que eu falava baixinho, depois sorriam imaginando o que aquela menina meiga e tímida precisaria. E tudo se resolveu tão rapidinho! Tanta atenção e gentileza! E eu que adoro falar alto! Eu, que falo pelos cotovelos, joelhos, e até pelos olhos se deixar, e que sofro tentando falar menos para não entediar as pessoas; passei uma semana até razoável nessa minha quase mudez (se não fosse não conseguir cantar e ter q resolver tudo por e-mail ou mensagem no celular que as pessoas não respondem!!!). Mesmo assim, desde que aprendi que a música está dentro de mim, consigo cantar horrores na minha própria cabeça. Às vezes trapaceio e canto baixinho...

Depois fiquei pensando que esse negócio de falar baixo pode ser uma tática de aproximação hein? Estou mesmo precisando de umas novas... Será batera, que você vai me ver saudável e falando baixinho? O último que disse que ia ligar não ligou... e eu até dei o número certo! Isso nunca tinha acontecido, acredite quem puder... Ah! Taí mais uma coisa que me deixa doida: se não vai fazer, não fala que vai! Sempre acabo eu fazendo tudo sozinha...

É terapeuta, acho que tenho mesmo muita raiva reprimida... Mas o que eu faço pra soltar a raiva sem ter que amarrar os pés dos muleques no ventilador e ligar pra ver quem vomita primeiro? E, principalmente, mantendo a coerência com a mensagem de amor, gratidão e perdão que eu escrevi e mandei para os amigos na páscoa a menos de uma semana atrás? (pelo menos pra não dar na cara que eu sou doida né?)

E aí? Como ficamos?

Morena - abr/10

quarta-feira, 3 de março de 2010

Música, música e mais música!!!



Pessoas! Resolvi que fazer, viver e ouvir música não estão sendo suficientes pra mim!!! Preciso falar de música tbm!!!

Daí inventei de escrever um livro de contos, crônicas e poemas. Talvez mais organizar do que escrever... Mas então, se alguém quiser escrever um texto sobre música manda pra mim!

nanysnanys@hotmail.com

- Preciso do nome da pessoa (dois nomes né?! Pode ser artístico)
- Profissão
- De onde é
- Quantos anos tem de música (pode ser criativo nessa resposta...)
- email

Algumas histórias eu vou mexer na narração ou posso reescrever se for o caso, n tem importância. O mais importante é a história... Daí mando de volta pra o dono ver se eu n acabei mentindo na tentativa de enfeitar... =)

bjinhos pra todos!!!

Morena

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Insana



Canção: Insana de Sueli Costa e Ana Terra por Naiara Morena

Morena - fev/10