sábado, 23 de agosto de 2008

Detalhes


Era ele mesmo. O mesmo de sempre. Comprido e delgado. O mesmo cara apagado. Interessante, sem dúvida, mas apagado. Talvez fosse preciso mudar algo... Um corte de cabelo, alguns quilos, quem sabe? Ele não chamava sequer a atenção dela, justo ela que sempre esteve ali. Ao menos era nisso que acreditava.
Esperava que seu reflexo pudesse lhe dizer algo, mas não dizia. Deixou-se estar por alguns momentos e decidiu mudar. Porque Tudo na vida parte de uma decisão. Daquele momento em diante, ele se tornaria outro, sem medo de enfrentar as conseqüências. Nem ela se importava mais! Nem ela! Quem então se importaria?
Tudo começou naquela viagem. Decidiu ser bonito e ficou. Decidiu chamar a atenção. Chamou. Decidiu dançar. Não dançou. Nem sempre decidir é suficiente não?! Mas garanto que é sempre o começo.
Sentia-se como se o mundo fosse coberto de detalhes e nada realmente importasse, a não ser aquele momento, naquela viagem. Se não sabia dançar, pouco importava, porque podia aprender. Se não podia engordar, também não importava porque se faria chamar a atenção mesmo assim. Detalhes, detalhes... Por que se importar?
De repente ela também parecia ser um detalhe em sua mente... Um mero enfeite que lhe consumira a alma por 4 longos anos. Só um detalhe. É certo que não deixara de ser bonito e que podia como ninguém ornamentar seus pensamentos. Mas... era um detalhe! E ele sem dúvida estava disposto a tirá-lo da parede de seu coração, já que traria àquele lugar cores vivas! Vermelho sangue, azul turquesa, amarelo gema. Precisava de mais cores, e talvez um enfeite maior, mais pulsante, como tudo em sua nova vida estava disposto a ser...
Encontrou o enfeite perfeito. Mais mulher, mais chamativa, mais atraente. Não estava certo disso tudo ainda, mas gostaria de senti-la assim. Sem, todavia, mostrar empolgação, ou o desespero de quem acha exatamente o que procura na última peça da última loja do corredor. Saberia chegar perto dela? Conhecê-la e chamar sua atenção da mesma forma que ela chamava a dele? Hum... O que poderia perder? Estava aprendendo a lidar com suas novas armas e estava muito ansioso para descobrir o poder que elas teriam.
Fim da viagem, mas apenas o começo daquele jogo que ele pretendia jogar com calma e maestria... Tornou-se ousado. Finalmente entendera que não tinha Nada a perder. Não colocou sua auto-confiança sobre a mesa como anteriormente. Sentia que tinha aprendido a jogar, e suas armas de agora, muito mais poderosas que as de antes, porque ele não economizava, mas utilizava a Todas.
Voltou para casa com uma certeza: aquele belo e lustroso enfeite estaria em breve ajudando a compor uma de suas paredes. Não esperava, no entanto, que pudesse ser conquistado por seus encantos, e se deixar afundar no canto de uma ardente sereia. Parece não ter percebido que esse era um jogo de pergunta E resposta.
Trocou o guarda-roupa, tirou todo o preto de outrora e nomeou-se Estilo. Deveria, portanto, ter um visual condizente. Fazia-o devagar, mas pensando rápido e o reflexo no espelho finalmente pôde dizer-lhe algo. Sorria para ele e ele se sentia confiante.

Morena - mar/06