Essa semana fiquei lendo até tarde da noite, quando fui dormir reparei que estava chateada...
A história do livro é sobre uma prostituta que aparentemente (é que ainda não acabei de ler), se apaixona por um de seus clientes. Como o livro foi escrito a mais de duzentos anos, o tipo de relacionamento dos dois era algo próximo de um namoro, levando em consideração que burguês não trabalha; e por isso passavam tardes inteiras conversando.
Mas como assim uma mulher, na condição dela, pode se apaixonar e ainda mais por um cliente? Obviamente que ela não poderia se dar a esses luxos não é? Afinal ela não é um ser humano, é apenas um bem de consumo. Como seu amante a define, não tão friamente, por certo, e como diz um amigo meu “não vejo mulheres nelas, só vejo produtos”. Fiquei triste. Muito na verdade. Ultimamente estou tendo um contato que considero grande com esse tipo de coisa, devido a dois livros da minha leitura obrigatória de curso e também ao fato do meu namorado morar na 914, de vez em quando me distraio e passo pela comercial da 314 sem me lembrar do que vou ver por lá...
“Só vejo produtos”. Até que ponto nós não fazemos parte disso e não nos tornamos consumidores ou mesmo os próprios produtos? Colocando agora numa visão geral, até que ponto nós estamos fora desse antro? Tenho uma professora na UnB que faz questão de dizer todas as aulas que ganha R$ 1170,00 como professora substituta. Eles exigem mestrado pra isso... Ao meu ver isso nada mais é que prostituição do conhecimento, o que me lembra nitidamente do meio musical. Sempre ouço isso na Escola de Música quando faço a pergunta: “E aí? Fazendo o quê da vida?” A resposta vem rasgando: “Me prostituindo numa banda de pagode” ou algo semelhante.
Tenho uma banda baile com uma baixista e um batera “metaleiros”, meu negócio é MPB e o violeiro é chegado numa modinha caipira... “todo artista tem que ir aonde o povo está”...
Sem contar os beijos que tanta gente vende nos “showzinhos” por aí em troca de se sentir especial por alguns instantes, ou apenas para dizer “fiquei com 10!” para se provar atraente ou algo do gênero. Ou ainda pior! Namoros intermináveis onde se vendem um alto índice de carinhos para se comprar atenção. Por vezes chega a ser uma troca fria e calculista. Acredite! Esses tempos descobri que realmente existe gente assim... felizmente acredito no potencial que as pessoas têm de mudar. E quem sou eu para julgar?
Estava indignada pensando nisso... Como em algum ponto somos todos “prostitutos da existência”, e isso realmente estava me matando! Como de repente tudo pra mim parecia um grande comércio infame de compra e venda de valores. Foi aí que entrei num ônibus, um zebrinha para ser exata, e reparei que o motorista dava “bom dia” a cada uma das pessoas que entrava. Algumas sorriam, outras nem respondiam, mas ele insistentemente cumprimentava cada uma delas e sorria.
Cheguei perto da roleta e fiquei esperando chegar minha parada. Ele me olhou pelo espelho, sorriu e disse gentilmente “oi!” Sorri de volta e perguntei como ele estava. Me disse que estava tudo bem e puxou assunto, fazendo piadinhas sobre o dinheiro que separava enquanto dirigia. Um espírito muito grande.
Peguei ônibus com ele mais uma ou duas vezes, e ele sempre do mesmo jeito atencioso e alegre. Foi a resposta para minha revolta de outrora. Podemos dar abraço, atenção, carinho... “tudo free” e assim distribuir felicidade com nosso sorriso. Alguém que simplesmente conduzia o meio de transporte que eu utilizara naquela manhã fez meu dia mais feliz. A partir daí acreditei mais ainda na capacidade que as pessoas têm de mudar, e de, a partir daí, fazer as coisas que se tem que fazer com gosto e colocando amor no que fazem. Uma das minhas professoras de literatura diz que tudo que se lê sem amor, é leitura perdida. Eu generalizaria isso: tudo o que se faz sem amor é tempo perdido, e ergo a seguinte bandeira:
“Abaixo a qualquer forma de prostituição”... E você?
Morena - abr/05
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