sábado, 23 de agosto de 2008

Pedro Pedreiro


Ultimamente estou tendo muito tempo livre para pensar nas coisas, o que me leva a um ponto interessante: por que hoje em dia é tão difícil encontrar Aristóteles, Platões, Shakespeares e outros como eles? A resposta agora me parece simples: eles tinham tempo de sobra para ficar, como diz Adriana Flacão em um de seus livros infantis, “pensando pensamentos”, ou inventando problemas para as soluções existentes. Acredito que tenham dito uma porcentagem altíssima de abobrinhas, mas em compensação, das coisas que se salvaram é que descende a base da nossa cultura e história ocidental.
Em fim, agora cá estou, mais uma vez sem nada melhor pra fazer, analisado uma música do Chico Buarque que só um dia desses parei pra escutar. Aliás não se preocupem que vou mandar todos os meus momentos filosóficos para vocês, quem sabe eu não consiga achar alguém que me pague para eu passar o dia pensando? Pagam pro Paulo Coelho!
Quem me conhece um pouco, musicalmente falando, sabe que para mim o Chico Buarque é um dos maiores poetas da Música Popular Brasileira, e chego até a dizer que é um gênio. Pena que as pessoas hoje em dia não o conheçam mais. Aliás, quem vê assim tem certeza que eu tenho pelo menos mais de 25 anos... Isso me faz lembrar de um amigo, ele tem por volta de 35, e diz ser bem mais novo que eu. Segundo ele, eu só ouço “velharia”.
De qualquer maneira, eu tinha acabado de escrever uma canção, alguma coisa que tive a pretensão de classificar como chorinho, sobre o fato das pessoas estarem sempre esperando por algo. Foi aí que notei esse samba do Chico (repara na intimidade “Chico”), mais exatamente numa frase em que ele fala “esperando aumento desde o ano passado para o mês que vêm”. Fiquei triste. A gente espera tempo demais para ser feliz. Espera muito por algo e não faz nada para consegui-lo. Como diz minha mãe, “espera que o mundo acabe em barranco para morrer encostado”.
Outra frase que me chamou atenção logo de cara foi quando ele diz: “E a mulher de Pedro está esperando um filho para esperar também”, como um ciclo extremamente monótono. Mas ao mesmo tempo quando alguém espera por algo, é porque sente aquela coisinha lá no fundo que as pessoas chamam de Esperança. Afinal, viver não é um jogo simples e a acomodação é sutil. Ele fala disso também: “Pedro pedreiro fica assim pensando, assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando pra trás”.
Dessa forma, temos um paradoxo: Por um lado, não dá pra ficar parado, e como diria o grande Raul Seixas, “eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Essa frase é um tapa na cara das pessoas que não fazem nada para melhorar de vida e ainda ficam enchendo os ouvidos das outras dizendo dia após dia: “Ser pobre é uma desgraça!”
Por outro lado, as pessoas precisam de esperança e daquela palavrinha que está sempre subentendida quando se fala disso: Sonho. Quem somos nós se não podemos sonhar? Só que como o Chico é “o” cara, ele também levou isso em consideração quando disse que “Pedro não sabe, mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo, maior do que o mar”. Essa é a essência do ser humano. Mas aí vem o final da frase: “mas pra que sonhar se dá o desespero de esperar demais?”. É aí que a gente volta para o início de tudo onde Pedro pedreiro, como todos os dias, está esperando o trem. Todos os sonhos, a esperança e também a música, foram apenas segundos de pensamentos perdidos.

“Pedro Pedreiro quer voltar atrás,
Quer ser pedreiro, pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol,
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem,
Esperando um filho pra esperar também,
Esperando a festa, esperando a sorte,
Esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém,
Esperando enfim, nada mais além
Que a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem”

Morena - out/04

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