sábado, 23 de agosto de 2008

Agosto


Era uma tarde agradável, fins de agosto e ele me chamara para um almoço caseiro.
Desci do ônibus, demorei a vê-lo... Mas estava lá, de bermuda e chinelo, como o vira em poucas ocasiões. Me deu um abraço gostoso, firme e me olhou com carinho. Me senti feliz.
Andamos um pouco por uma rua estreita entre casas arborizadas. Era a primeira vez que almoçava na casa dele, estava até um pouco nervosa... a gente nem namorava mais, pensava estar perdida em algum canto do passado dele. Mas não estava.
Me tratou como princesa, escolheu a melhor cadeira e me deixou a ver fotos enquanto afobado, preparava a comida. Mas me testou, uma prova fácil: temperei o tomate.
Me olhou ansioso na primeira garfada... estava ótimo! Até repeti, pra ver se seus olhos confiavam na aprovação do meu paladar.
Foi tomar banho. Sequei a louça, guardei os pratos e organizei as panelas. Passou de toalha, não achava que eu ia ver. Arregalou os olhos, morreu de vergonha e correu para o quarto na ponta dos pés. Tive vontade de rir. Tão lindo! Certifiquei-me de estar em outro lugar quando ele passasse novamente.
Voltou para a cozinha cheiroso, só vendo. Sorriu, sentou numa cadeira de braço e abriu o álbum de fotos. Cheguei perto e ele me segurou. Sentei no braço da cadeira de frente para ele e ele me olhou daquele jeito, aquele que não dá pra explicar...
Abaixou a cabeça e envolveu minha cintura com os braços. E ficou assim, sem dizer uma palavra, só ronronando como um gatinho.
Deslizei os dedos por entre seus cabelos molhados, olhei em volta: a pia limpa, os pratos empilhados, as fotos esquecidas, a panela ainda quente em cima fogão.
Fechei os olhos. Senti o cabelo dele molhar minha blusa. Pensei no bebê que ele tentaria ouvir. Meus olhos se encheram d’água.

Morena - 2003

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