sexta-feira, 23 de outubro de 2009

15 de novembro


Dia 15 de novembro é meu aniversário.

Engraçado como essas datas costumam ser muito importantes na vida das pessoas...

Mas o dia 15 de novembro de 2009 se torna ainda mais importante porque não será um aniversário qualquer, não senhor. Será o dia que completarei um ano. E o primeiro, costuma ser o mais lembrado... depois não, o tempo passa e a gente pouco a pouco vai se esquecendo de comemorar. Outras prioridades entram no caminho, as significantes e os próprios significados dos nossos dias começam a mudar... acho que faz parte de viver.

Confessor estar um pouco ansiosa por essa data. Parece que foi ontem quando eu ainda era um bebezinho recém descobrindo a magia que me esperava... Não que hoje eu seja muito mais do que isso, não tenho a pretenção de ter crescido tanto assim no meu primeiro ano, mas hão de convir que é no primeiro ano que se nota a maior diferença. Quem pode não reconhecer um adulto depois de passar 365 dias sem vê-lo? Talvez alguns quilos, cabelos a mais ou a menos, barba quem sabe? Mas de um bebê recém nascido, daqueles ainda com cara de joelho para uma criança de um ano há uma grande diferença. Me arrisco a dizer que talvez a própria mãe o pudesse saber e só. Me olho no espelho e não posso reconhecer o meu próprio reflexo em um ano de vida. Quem então poderia?

O fato é que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria e em breve, no dia 15 de novembro, quando a proclamação da república completa seus 120 anos eu, humildemente, completo meu primeiro ano de samba. Gosto de pensar que fui apenas rebelde quando lembro dos "adonirans" que meu pai costumava cantar para me ninar, mas, como dizem por aí "o bom filho à casa torna" e na bíblia, o pai comemora com uma grande festa.

Bom, eu nasci em um churrasco, com a ajuda de dois grandes músicos e amigos que facilitaram o trauma do parto com bossas e xotezinhos pra eu tentar esconder, inclusive de mim mesma, o pavor de não conhecer as melodias e ter que ler as letras nos lábios de outro para então, entre risos, cantar atrasado no microfone. No entanto, foi tudo muito melhor do que eu poderia me dar ao luxo de imaginar e, se me permitem parafrasear Mário Quintana:

"Nasci no Lago Norte, DF, em 15 de novembro de 2008. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu."

Agora só espero ansiosa saber se vai ter comemoração do meu primeiro aninho... Daí posso mostrar que já cresci um pouquinho... =D

Morena - out/09

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Avião


Entro no avião a espera de que ele possa, de alguma forma, ajudar a me encontrar.

Sou a primeira a sentar na fileira da esquerda, nem janela nem corredor, e vejo o reflexo dos meus dias: sempre no meio das escolhas...

De repente os passageiros começam a se acomodar e percebo duas extensões de mim mesma: a juíza e a professora.

A juíza, no corredor, é uma mulher viajada, curtida, conhecedora de mundos e fundos. Entendida de lugares e pessoas. Militante do movimento estudantil na sua época de ouro. Hoje apenas uma companhia simpática de vôo.

A professora, do outro lado, é exatamente o que aparenta: alguém que viu sua vida passar pela janela... no entanto, inicia nesse avião sua nova empreitada: recém separada de um casamento que iniciou grávida 18 anos antes, partia ansiosa para o início de uma vida onde seria finalmente a protagonista dos dias.

Ivone, a juíza, deve ter por volta de 50 anos bem vividos.

Kelly, terá menos de 40 em seus anos escondidos.

Eu, no meio, me estico para me reconhecer nesse espaço. Com a escaleta presa entre os tornozelos me esforço para dar cores à arte de dentro de mim, à música, e à própria vida que advém tão simplesmente delas. Posso respirar fundo ao erguer a cabeça e assumir um destino nem a esquerda nem a direita, mas a frente. Assim como Kelly, um belo dia resolver me jogar no mundo e arriscar e, assim como Ivone, ter a segurança de quem vai para esse mundo e sabe o que está em jogo.

Desço do avião resoluta.

Saio sozinha, vou para a praia e visto um biquini pela primeira vez desde que comecei a escolher meu próprio guarda roupa.

Choro... também acho que faz parte da mudança sentir saudade de si mesma, mas sei que devo lembrar que o progresso é para frente e que eu não caibo mais nos meus 15 anos. Quem me dera! Eu era feliz... Mas parece que o tempo passou e eu estava preocupada demais tentando encontrar a Terra do Nunca. Só que o próprio nome do local já trás o endereço...

Morena - out/09

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cantei, cantei...

Música também vicia.

Me referia a ela como um câncer, que se espalha e domina mas não é só isso. Contra um câncer, se luta com quimioterapia, cirurgia etc. Mas a música vicia. Ela te toma o corpo e você deixa. Você pede por isso. Quando por algum motivo ela vai embora ou apenas deixa de pulsar tão intensa você reclama a sua ausência e sofre com ela.
Ontem fui ver um amigo cantar. Não sabia exatamente onde estava indo, mesmo assim fui. Acabei cantando, tocando triângulo, fazendo back, dançando... sem ensaio e sem conhecer os músicos... Muito gostoso. Fui embora cedo, nem fui no meu samba de toda terça feira. Preferi vir para casa estudar. Toquei piano até passar do horário do silêncio e para não ter que parar tudo e recomeçar no teclado, apertei o abafador e praticamente continuei a tocar apenas imaginando os sons correspondentes. Descobri melodias fabulosas que ainda não tinha ouvido. Parei apenas quando meus olhos não podiam mais se manter abertos.

Acordei com sede. Dei minha primeira aula e apreciei a aluna cantar hinos e canções estrangeiras enquanto drenava um copo com água. Minha sede não era desse tipo, apesar de tudo. Apenas senti que se me molhavam os lábios...
Na segunda aula só restava a ansiedade de beber finalmente! Não só estar de rosto e lábios molhados. Queria me afogar nos acordes e sentia isso tão próximo...
Em fim o almoço que de nada socorreu minha fome. E cantei. A tarde toda até surgir uma pianista voluntária. Cantei em outros tons. Errei as letras e as melodias.
Cantei fora dos compassos e sorri.

Toquei, cantei, me arrepiei e quase chorei. “Cansei de brincar disso” pensei alto. Mas apenas pela má postura que arranjei. Me tomaram o palco por menos de 10 minutos e eu já sofria a distância. Estava cansada, pesada, sonolenta até. Mas foi como se visse meu espírito sair pelos dedos e me guiar de volta ao palco. A cabeça no entanto, não deixou. Terceira aula do dia se aproximando no final da tarde. E a música me acompanhou... mas já me sentia molhada pela tarde inteira e exaurida das forças de continuar a nadar.

Volto a cena do encontro para buscar um objeto esquecido. Já haviam me tomado palco permanetemente e eu estava cansada. É como se apenas ela pudesse me recarregar. Me oferecem acento para apreciar a nova fase mas não podia suportar a nova voz. “Não é a primeira a dizer isso”, me comentam e, não por maldade ou convencimento, mas por necessidade preferiria eu estar cantando, tocando, tocando, cantando, morrendo e voltando a viver em cada acorde trocado.

“Muito bom ouvir você à tarde! Só achei uma pena não poder sair para poder ver..."
Um momento de paz, importante ressaltar que não foi mais que um momento, invadiu meu coração em saber que alguém mais apreciou a minha música e pôde talvez compreender a falta que ela me faz. Não sei. Apenas me revoltei e me revolto com os compromissos que me afastam dela...

“Cantei, cantei! Como é cruel cantar assim..”

Morena set/09