Bom, essa semana tomei uma decisão que a mais de ano estou sofrendo pra tomar mas que chegou no ponto de se tornar insuportável... Uma sensação de parto: sofre, sofre, sofre e quando acaba o alívio... =) Ainda n cheguei completamente nessa parte do alívio pq tem muita gente que não tem um mínimo de consciência negra, jura que vive num país que não tem racismo e acha que se brigar comigo vai me fazer mudar de ideia rsss...
Em fim! A questão é que a algum tempo descobri q não sou morena! rsss depois q eu comecei a conviver com o pessoal do movimento negro eu entendi um bocado de coisas da minha vida sabe? Um tempo depois escrevi um texto q ilustra bastante isso... E a palavra "morena" faz parte de um processo de embraquecimento, como se ser negro fosse algo feio de se dizer. Qnts vezes a gente n ve alguém preto como a noite e o povo chama de moreno? Eu n posso fazer parte disso, eu não quero fazer parte disso... e a muito tempo sofro com a mudança do meu nome artístico que demorei taaaaaanto tempo pra conseguir escolher... Mas hj, inclusive pelo tipo de lugares e grupos q ando frequentando isso acaba se tornando tão contraditório... Essa semana fui convidada pra participar, cantando inclusive, de um evento chamado "Cabelaço",que acabou não acontecendo, mas que era sobre a ditadura da chapinha (problema nenhum com a tal da chapinha. O problema eh achar q seu cabelo eh "ruim" e q TEM que alisar o cabelo pra ficar "bonita") Mas como chegar lah bancando meus cachos q eu sempre amei, minhas raízes q estão estampadas na minha pele, bancando um movimento sobre racismo com "Boa noite, meu nome eh Naiara Morena..."? Aí pra mim foi a gota d'água... Tudo bem q mamãe pôs água na melanina q papai me deu rsss, mas "morena" é sacanagem e não dá mais! Como a bem uns dois anos venho procurando sem sucesso um novo nome artístico de que goste, apelei e comecei a mudar minhas coisas pra "morenO" mt gente acha q eh assim mesmo... mas cada clique que dava ficava tão triste... Achei "Naiara Moreno" tão pobre...
Então comecei a pensar bastante e achei "Lira" porque Lira é constelação do hemisfério celestial norte, Lira eh instrumento musical da antiguidade, provando que a música existe desde sempre e para sempre, Lira eh o círculo que paira no ar para atrizes e atores circenses nos encantarem, Lira eh a pequena parte do poema, como os versos... Lira eh arte, Lira eh sonho, Lira eh música e eu quero fazer parte disso... Pra quem se interessar, envio o link do texto que escrevi na época do início das minhas descobertas! =)
http://azulcantinhomeu.blogspot.com.br/2012/07/negra.html
De hoje em diante:
Lira-jul/2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Negra
- Negra. É o que vejo quando olho no espelho. Já tive merchas ruivas, franja, cachos grandes que iam ate na cintura e também já tive a cabeca raspada. Hoje sou negra.
- Certo... Amanhã ainda vai ser?
- Claro! Sinto minha pele queimar, o lábio inchar e o nariz achatar cada vez que penso em mim mesma. Minha carne enrijece e meu samba fica sincopado.
- Ok... – concorda a moça do IBGE tentando disfarcar o tom de deboche - Só mais uma pergunta: qual a raça dos seus pais?
- Negros. Os dois são negros.
- Desde?
- Hoje.
- Certo... Me desculpe mas ainda tenho uma última pergunta: o que diz nos registros da polícia federal?
- Que meu pai é branco e minha mãe é parda, mas eles são negros.
- Ok! – Disse a moça desistindo da conversa para já pensar nas piadas que surgiriam quando seus colegas de trabalho ouvissem a história – Muito obrigada!
Ana fecha a porta e entra em casa com sua nova identidade consolidada. O rasta pedia aquela força e a dor da aplicação já a fizeram sentir a conexão com os antigos negros escravizados, seus antepassados. E recitava Castro Alves que estudava na aula de teatro: “Tinir de ferros, estalar do acoite, legiões de homens negros como a noite horrendos a dançar...”
A mãe se preocupava com a nova moda da filha, um rastafari! Mas por quê? Como se ela pudesse mudar a pele morena e o nariz afilado! Não, não podia. Mas por algum motivo isso não a convencia:
- Vai que de tanto que ela acredita ela acaba virando?
O pai dava risada:
- Isso é fase. Deixa a menina! Cada música linda que ela anda ouvindo... Já escutou algum dos Afrosambas? Ela me explicou esses dias, tem uma que fala de um Orixá...
- Era só o que me faltava! Alem de preta virar macumbeira!
Mas Ana, que desde sempre procurou seu espaço entre os primos paternos, não se sentia igual a eles. Mas também não se sentia diferente. Entende? Aquela era a familia dela! E por isso se sentia parte, mas ao mesmo tempo se sabia diferente. Mas como diferente? Feia?
E foi assim que passou os primeiros anos de sua adolescência: estudando nas melhores escolas e frequentando os melhores ambientes. No entanto, não podia ser feliz pela dor da diferença que carregava no peito.
- Será que todas as pessoas feias se sentem assim? – Perguntava às estrelas – Quase todos os meninos que eu conheço gostam da Marina, ela é tão linda! Queria poder ser assim...
E se juntava as meninas ditas “lindas” de sua escola. Tinha ela própria um preconceito com as feias. Como se fosse algo contagioso...
Um dia a escola teve uma palestra sobre reciclagem e ela conheceu Luara. Luara tinha a pele bem preta, cabelo de cachos grandes e nariz empinado. A boca grande de labios grossos enquadravam os dentes brancos e ela tinha sempre um sorriso ironico. Ela sim era a mulher mais linda que Ana ja havia posto os olhos. O jeito de andar, de sorrir, de falar, a maneira de olhar e de gesticular os dedos grossos de aneis grandes...
- Voce e linda! Voce nem me conhece ne?! Que vergonha... Mas eu tinha que vir aqui dizer isso!
Luara soltou uma risada gostosa e agradeceu o elogio.
- Como faz para ser assim tao segura? Tao charmosa, elegante...
- Nem sempre foi assim – respondeu com um sorriso de empatia e o olhar com um que de melancolia – nem sempre eu fui assim...
No folheto sobre coleta seletiva estava o site da ong e Ana nao se incomodou em clicar logo em “fale conosco”.
“Oi Luara! Aki eh a Ana da escola q vc foi hoje... Eu falei com vc na porta e kero mesmo q me responda: Como faz para ser taum linda, inteligente, esperta... Como???”
Enviar.
A resposta demorava tanto que Ana ja havia voltado a sua rotina normal de patinho feio, de conflitos e inseguranças normais de adolescente. Na verdade normais segundo os psicólogos e professores da escola, aqueles mesmos que tinham 45 alunos em sala e assim justificavam sua incapacidade de perceber uma única menina.
Caixa de Entrada:
“Primeiro voce usa óculos para parecer inteligente, depois aprende a fazer cara de inteligente, por fim estuda muito para ser inteligente de verdade! ; )”
E um sorriso calado apontou no cantinho da boca de Ana depois de mais um dia de auto afirmação da personalidade em detrimento da beleza.
Ana entrou na internet e procurou “mulher influente negra”. E ficou a observar dezenas de maquiagens, penteados lisos e cacheados, vestidos, sapatos e tintas de cabelo em famosas cantoras americanas... já se sentia entediar pelas celebridades quando notou um turbante, acompanhado de brincos étnicos e roupas coloridas. A legenda dizia “Gana”. E na foto seguinte teve sua alma roubada pelos olhos de uma senhora que dançava descalça segurando a barra do vestido com uma das mãos e com a outra apoiando uma trouxa de roupa que equilibrava na cabeça.
- O que elas têm que eu não tenho?
E a imagem senguinte era, na verdade, a de um homem. De terno despojado e olhando de baixo para cima. Ela poderia jurar que sentia até o perfume dele. Mas no final o que encantou foi o cabelo: ele usava um rasta com uma faixa grossa, quase um turbante.
“Cabelo Rastafari”
Buscar
E um mundo de cores e de tranças comecou a tomar forma diante de seus olhos. Seria essa a resposta de suas perguntas? Mas assim, tão simples?
- Bom demais pra ser verdade! – suspirou triste antes de desligar o computador. E antes de ir para cama chorar sua solidão foi na sala dar boa noite à mãe:
- Mãe, você é negra?
- Claro que não! Olha pra mim. Que cor você vê?
- Marrom.
- Então. E meu cabelo?
- É de mola! – e sorriu com a provocação – antes da escova definitiva né?!
- Que seja! Mas não tenho o nariz chato e meu cabelo é anelado, não ruim... Agora me dá um beijo e vai dormir!
E Ana pareceu esquecer o assunto, mas os turbantes, o rasta e Luara fizeram parte de seus sonhos aquela noite...
Alguns dias depois entrou no orkut de seu irmão mais velho para ver as fotos de sua nova namorada quando reparou bem lá no perfil em letras grandes para quem quisesse ver:
“etnia: afro-brasileiro (negro)”
E ficou assim, meio que em estado de choque por alguns segundos.
- Você se acha negro?
- Oi Ana! Se está tudo bem comigo? Está sim, adoro a Nova Zelândia... E você? Como está?
- Desculpa Joaquim, mas a ligação é cara e não dá pra usar o Skype porque o computador está no quarto da mamãe.
- Ok. Sou todo ouvidos...
- Então! Eu vi no seu orkut que você é negro! Como assim? Daí tinha que ouvir da sua boca o que quer dizer com isso.
Joaquim soltou uma gargalhada do outro lado – Por que isso agora?
- Eu preciso saber!
- Olha pra mim Ana! O que eu sou então? Japonês? – e riu novamente achando graça da situação – até porque se eu fosse japonês não tinha sido parado pela polícia metade das vezes que fui com a mesma desculpa esfarrapada de que alguém com o meu tipo físico tinha acabado de cometer um crime e eles precisavam me revistar. Isso quando eles eram legais, mas quantas vezes eu não apanhei até acharem minha carteirinha de escoteiro ou a da faculdade federal? Aprendi a deixar essas duas em um local bem fácil de achar pra quando fosse tomar bacu já acharem logo de cara. Se eu fosse japonês Ana, ia passar ileso.
Ana ficou chocada. Aquilo era demais para uma cabeça de adolescente. Ela e o irmão eram bem amigos, mas ela não tinha ideia...
- Por que nunca me contou?
- Que diferença ia fazer?
- E a mamãe sabe?
- Claro que não. Nem o papai sabe... Não tinha motivo contar pra vocês! Só pra deixar todo mundo nervoso!
- E por que me contou agora?
- Quem pergunta quer saber.
- É... acho que sim...
E os dois se despediram e desligaram o telefone. Que coisa mais louca! – pensava a menina. E de repente quis confirmar as histórias do irmão com algum outro negro.
No dia seguinte foi para a escola feliz pensando em sua “pesquisa” e decidiu perguntar ao primeiro professor negro que encontrasse. A escola era grande mas ela não encontrou nenhum na hora da entrada.
Durante o intervalo procurou com mais afinco e se surpreendia cada vez mais com a demora em encontrar. Usou uma desculpa qualquer do grêmio para sair da sala e foi procurando cuidadosamente em todas as salas do colégio. Nenhum!
Almoçou no colégio com o intuito de continuar as buscas no período vespertino e nada! A essas alturas já tinha expandido a procura, olhou na secretaria, nas coordenações, nas quadras de esporte, na diretoria e já ia embora triste quando resolveu parar para tomar água.
- Você! Nossa! Eu te procurei por toda parte! – disse Ana ao homem que saía do banheiro.
O homem se desculpou e perguntou do que ela precisava. Ana achou estranha a atitude, mas começou a entender quando viu as luvas de borracha até quase os cotovelos e o balde de água na mão. O único negro que ela encontrou em uma escola com mais de 500 funcionários onde pelo menos 100 eram homens, era um senhor e era o faxineiro.
- Nada não, o senhor já respondeu... Obrigada!
Ana chorou. Nem conheço palavras adequadas para descrever a tristeza que Ana sentiu com aquela constatação. Ela chegou em casa, se trancou no quarto e chorava de raiva, de idignação e ela, quase uma criança, sabia que precisava fazer algo. Mas o quê?
- Estou preocupada com a Ana! Já a uma semana que ela chega e logo se tranca naquele quarto...
- Amor, isso é fase! Que adolescente não passa horas trancada no quarto falando no telefone? Boas notícias: sua filha é normal! – respondia o pai de Ana.
E na manhã seguinte acordou determinada: depois da escola!
E passou a tarde toda entre puxões de cabelo e doses de dorflex, mas tinha a convicção de quem sabe o que faz. Porque faz.
- Prontinho! – e colocou um espelho na frente de Ana...
Se ela nao entendia de preconceitos, de racismo ou da solidão de ter a pele escura em uma familia de olhos azuis, naquele momento ela entendeu.
Se não podia alcançar a dor da exclusão e do preconceito de carregar no rosto uma identidade excluída, naquele momento ela pôde.
Se passou a vida toda sem entender que, na verdade, sua diferença não seria vista em um espelho sem cor e sem saber onde no mundo ela poderia se encontrar, naquele momento ela soube.
- Negra. É o que vejo quando olho no espelho. Já tive merchas ruivas, franja, cachos grandes que iam ate na cintura e também já tive a cabeca raspada. Hoje sou negra.
- Certo... Amanhã ainda vai ser?
- Claro! Sinto minha pele queimar, o lábio inchar e o nariz achatar cada vez que penso em mim mesma. Minha carne enrijece e meu samba fica sincopado.
- Ok... – concorda a moça do IBGE tentando disfarcar o tom de deboche - Só mais uma pergunta: qual a raça dos seus pais?
- Negros. Os dois são negros.
- Desde?
- Hoje.
- Certo... Me desculpe mas ainda tenho uma última pergunta: o que diz nos registros da polícia federal?
- Que meu pai é branco e minha mãe é parda, mas eles são negros.
- Ok! – Disse a moça desistindo da conversa para já pensar nas piadas que surgiriam quando seus colegas de trabalho ouvissem a história – Muito obrigada!
E daí em diante passou a carregar não só na pele mas no couro cabeludo o peso de uma identidade que finalmente era dela. Aos poucos percebeu que muito mais do que nariz achatado, cabelo crespo e a própria pele preta, ser negro é uma questão de identidade que, para ela, começou com um rasta e depois com o tambor de crioula no Maranhão. Não chegou a ser religião, mas virou religiosidade, e Ana morreu no Rio de Janeiro aos 90 anos atrás de um surdo ensinando um neto a fazer samba de roda.
Naiara - set/2010
- Certo... Amanhã ainda vai ser?
- Claro! Sinto minha pele queimar, o lábio inchar e o nariz achatar cada vez que penso em mim mesma. Minha carne enrijece e meu samba fica sincopado.
- Ok... – concorda a moça do IBGE tentando disfarcar o tom de deboche - Só mais uma pergunta: qual a raça dos seus pais?
- Negros. Os dois são negros.
- Desde?
- Hoje.
- Certo... Me desculpe mas ainda tenho uma última pergunta: o que diz nos registros da polícia federal?
- Que meu pai é branco e minha mãe é parda, mas eles são negros.
- Ok! – Disse a moça desistindo da conversa para já pensar nas piadas que surgiriam quando seus colegas de trabalho ouvissem a história – Muito obrigada!
Ana fecha a porta e entra em casa com sua nova identidade consolidada. O rasta pedia aquela força e a dor da aplicação já a fizeram sentir a conexão com os antigos negros escravizados, seus antepassados. E recitava Castro Alves que estudava na aula de teatro: “Tinir de ferros, estalar do acoite, legiões de homens negros como a noite horrendos a dançar...”
A mãe se preocupava com a nova moda da filha, um rastafari! Mas por quê? Como se ela pudesse mudar a pele morena e o nariz afilado! Não, não podia. Mas por algum motivo isso não a convencia:
- Vai que de tanto que ela acredita ela acaba virando?
O pai dava risada:
- Isso é fase. Deixa a menina! Cada música linda que ela anda ouvindo... Já escutou algum dos Afrosambas? Ela me explicou esses dias, tem uma que fala de um Orixá...
- Era só o que me faltava! Alem de preta virar macumbeira!
Mas Ana, que desde sempre procurou seu espaço entre os primos paternos, não se sentia igual a eles. Mas também não se sentia diferente. Entende? Aquela era a familia dela! E por isso se sentia parte, mas ao mesmo tempo se sabia diferente. Mas como diferente? Feia?
E foi assim que passou os primeiros anos de sua adolescência: estudando nas melhores escolas e frequentando os melhores ambientes. No entanto, não podia ser feliz pela dor da diferença que carregava no peito.
- Será que todas as pessoas feias se sentem assim? – Perguntava às estrelas – Quase todos os meninos que eu conheço gostam da Marina, ela é tão linda! Queria poder ser assim...
E se juntava as meninas ditas “lindas” de sua escola. Tinha ela própria um preconceito com as feias. Como se fosse algo contagioso...
Um dia a escola teve uma palestra sobre reciclagem e ela conheceu Luara. Luara tinha a pele bem preta, cabelo de cachos grandes e nariz empinado. A boca grande de labios grossos enquadravam os dentes brancos e ela tinha sempre um sorriso ironico. Ela sim era a mulher mais linda que Ana ja havia posto os olhos. O jeito de andar, de sorrir, de falar, a maneira de olhar e de gesticular os dedos grossos de aneis grandes...
- Voce e linda! Voce nem me conhece ne?! Que vergonha... Mas eu tinha que vir aqui dizer isso!
Luara soltou uma risada gostosa e agradeceu o elogio.
- Como faz para ser assim tao segura? Tao charmosa, elegante...
- Nem sempre foi assim – respondeu com um sorriso de empatia e o olhar com um que de melancolia – nem sempre eu fui assim...
No folheto sobre coleta seletiva estava o site da ong e Ana nao se incomodou em clicar logo em “fale conosco”.
“Oi Luara! Aki eh a Ana da escola q vc foi hoje... Eu falei com vc na porta e kero mesmo q me responda: Como faz para ser taum linda, inteligente, esperta... Como???”
Enviar.
A resposta demorava tanto que Ana ja havia voltado a sua rotina normal de patinho feio, de conflitos e inseguranças normais de adolescente. Na verdade normais segundo os psicólogos e professores da escola, aqueles mesmos que tinham 45 alunos em sala e assim justificavam sua incapacidade de perceber uma única menina.
Caixa de Entrada:
“Primeiro voce usa óculos para parecer inteligente, depois aprende a fazer cara de inteligente, por fim estuda muito para ser inteligente de verdade! ; )”
E um sorriso calado apontou no cantinho da boca de Ana depois de mais um dia de auto afirmação da personalidade em detrimento da beleza.
Ana entrou na internet e procurou “mulher influente negra”. E ficou a observar dezenas de maquiagens, penteados lisos e cacheados, vestidos, sapatos e tintas de cabelo em famosas cantoras americanas... já se sentia entediar pelas celebridades quando notou um turbante, acompanhado de brincos étnicos e roupas coloridas. A legenda dizia “Gana”. E na foto seguinte teve sua alma roubada pelos olhos de uma senhora que dançava descalça segurando a barra do vestido com uma das mãos e com a outra apoiando uma trouxa de roupa que equilibrava na cabeça.
- O que elas têm que eu não tenho?
E a imagem senguinte era, na verdade, a de um homem. De terno despojado e olhando de baixo para cima. Ela poderia jurar que sentia até o perfume dele. Mas no final o que encantou foi o cabelo: ele usava um rasta com uma faixa grossa, quase um turbante.
“Cabelo Rastafari”
Buscar
E um mundo de cores e de tranças comecou a tomar forma diante de seus olhos. Seria essa a resposta de suas perguntas? Mas assim, tão simples?
- Bom demais pra ser verdade! – suspirou triste antes de desligar o computador. E antes de ir para cama chorar sua solidão foi na sala dar boa noite à mãe:
- Mãe, você é negra?
- Claro que não! Olha pra mim. Que cor você vê?
- Marrom.
- Então. E meu cabelo?
- É de mola! – e sorriu com a provocação – antes da escova definitiva né?!
- Que seja! Mas não tenho o nariz chato e meu cabelo é anelado, não ruim... Agora me dá um beijo e vai dormir!
E Ana pareceu esquecer o assunto, mas os turbantes, o rasta e Luara fizeram parte de seus sonhos aquela noite...
Alguns dias depois entrou no orkut de seu irmão mais velho para ver as fotos de sua nova namorada quando reparou bem lá no perfil em letras grandes para quem quisesse ver:
“etnia: afro-brasileiro (negro)”
E ficou assim, meio que em estado de choque por alguns segundos.
- Você se acha negro?
- Oi Ana! Se está tudo bem comigo? Está sim, adoro a Nova Zelândia... E você? Como está?
- Desculpa Joaquim, mas a ligação é cara e não dá pra usar o Skype porque o computador está no quarto da mamãe.
- Ok. Sou todo ouvidos...
- Então! Eu vi no seu orkut que você é negro! Como assim? Daí tinha que ouvir da sua boca o que quer dizer com isso.
Joaquim soltou uma gargalhada do outro lado – Por que isso agora?
- Eu preciso saber!
- Olha pra mim Ana! O que eu sou então? Japonês? – e riu novamente achando graça da situação – até porque se eu fosse japonês não tinha sido parado pela polícia metade das vezes que fui com a mesma desculpa esfarrapada de que alguém com o meu tipo físico tinha acabado de cometer um crime e eles precisavam me revistar. Isso quando eles eram legais, mas quantas vezes eu não apanhei até acharem minha carteirinha de escoteiro ou a da faculdade federal? Aprendi a deixar essas duas em um local bem fácil de achar pra quando fosse tomar bacu já acharem logo de cara. Se eu fosse japonês Ana, ia passar ileso.
Ana ficou chocada. Aquilo era demais para uma cabeça de adolescente. Ela e o irmão eram bem amigos, mas ela não tinha ideia...
- Por que nunca me contou?
- Que diferença ia fazer?
- E a mamãe sabe?
- Claro que não. Nem o papai sabe... Não tinha motivo contar pra vocês! Só pra deixar todo mundo nervoso!
- E por que me contou agora?
- Quem pergunta quer saber.
- É... acho que sim...
E os dois se despediram e desligaram o telefone. Que coisa mais louca! – pensava a menina. E de repente quis confirmar as histórias do irmão com algum outro negro.
No dia seguinte foi para a escola feliz pensando em sua “pesquisa” e decidiu perguntar ao primeiro professor negro que encontrasse. A escola era grande mas ela não encontrou nenhum na hora da entrada.
Durante o intervalo procurou com mais afinco e se surpreendia cada vez mais com a demora em encontrar. Usou uma desculpa qualquer do grêmio para sair da sala e foi procurando cuidadosamente em todas as salas do colégio. Nenhum!
Almoçou no colégio com o intuito de continuar as buscas no período vespertino e nada! A essas alturas já tinha expandido a procura, olhou na secretaria, nas coordenações, nas quadras de esporte, na diretoria e já ia embora triste quando resolveu parar para tomar água.
- Você! Nossa! Eu te procurei por toda parte! – disse Ana ao homem que saía do banheiro.
O homem se desculpou e perguntou do que ela precisava. Ana achou estranha a atitude, mas começou a entender quando viu as luvas de borracha até quase os cotovelos e o balde de água na mão. O único negro que ela encontrou em uma escola com mais de 500 funcionários onde pelo menos 100 eram homens, era um senhor e era o faxineiro.
- Nada não, o senhor já respondeu... Obrigada!
Ana chorou. Nem conheço palavras adequadas para descrever a tristeza que Ana sentiu com aquela constatação. Ela chegou em casa, se trancou no quarto e chorava de raiva, de idignação e ela, quase uma criança, sabia que precisava fazer algo. Mas o quê?
- Estou preocupada com a Ana! Já a uma semana que ela chega e logo se tranca naquele quarto...
- Amor, isso é fase! Que adolescente não passa horas trancada no quarto falando no telefone? Boas notícias: sua filha é normal! – respondia o pai de Ana.
E na manhã seguinte acordou determinada: depois da escola!
E passou a tarde toda entre puxões de cabelo e doses de dorflex, mas tinha a convicção de quem sabe o que faz. Porque faz.
- Prontinho! – e colocou um espelho na frente de Ana...
Se ela nao entendia de preconceitos, de racismo ou da solidão de ter a pele escura em uma familia de olhos azuis, naquele momento ela entendeu.
Se não podia alcançar a dor da exclusão e do preconceito de carregar no rosto uma identidade excluída, naquele momento ela pôde.
Se passou a vida toda sem entender que, na verdade, sua diferença não seria vista em um espelho sem cor e sem saber onde no mundo ela poderia se encontrar, naquele momento ela soube.
- Negra. É o que vejo quando olho no espelho. Já tive merchas ruivas, franja, cachos grandes que iam ate na cintura e também já tive a cabeca raspada. Hoje sou negra.
- Certo... Amanhã ainda vai ser?
- Claro! Sinto minha pele queimar, o lábio inchar e o nariz achatar cada vez que penso em mim mesma. Minha carne enrijece e meu samba fica sincopado.
- Ok... – concorda a moça do IBGE tentando disfarcar o tom de deboche - Só mais uma pergunta: qual a raça dos seus pais?
- Negros. Os dois são negros.
- Desde?
- Hoje.
- Certo... Me desculpe mas ainda tenho uma última pergunta: o que diz nos registros da polícia federal?
- Que meu pai é branco e minha mãe é parda, mas eles são negros.
- Ok! – Disse a moça desistindo da conversa para já pensar nas piadas que surgiriam quando seus colegas de trabalho ouvissem a história – Muito obrigada!
E daí em diante passou a carregar não só na pele mas no couro cabeludo o peso de uma identidade que finalmente era dela. Aos poucos percebeu que muito mais do que nariz achatado, cabelo crespo e a própria pele preta, ser negro é uma questão de identidade que, para ela, começou com um rasta e depois com o tambor de crioula no Maranhão. Não chegou a ser religião, mas virou religiosidade, e Ana morreu no Rio de Janeiro aos 90 anos atrás de um surdo ensinando um neto a fazer samba de roda.
Naiara - set/2010
sábado, 13 de agosto de 2011
Madrugada de 13 de agosto de 2011
Mais uma vez me recolho insignificante.Penso nas palavras cantadas por Elis mas tiraria o "não" do início da frase para cantar
"eu QUERO lhe falar meu grande amor de coisas que aprendi nos discos! Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo!"
Quero falar, mas não sei se quero que me ouça... Talvez se eu falar bem baixinho você nunca saiba que sua presença me faz bem! Que seu olhar de repreensão me hipnotiza e que seus olhos cheios d'água me desmontam. Não tive coragem de te por no colo. Talvez fosse medo do que aquele toque poderia causar, que lembranças poderia reviver.
Mas sua voz penetra meu ouvido como música! A mais fina canção! E eu nem nado contra. Pra que? Essa correnteza sempre foi mais forte que eu! Levanto os braços e curto a força da água me levar a... lugar nenhum! Porque ambos conhecemos a faixa contínua que se desenhou entre nós. E se me atrevo a passear tão perto da linha é apenas porque sei que você também não tem coragem de ultrapassar...
Mesmo assim, permiti que suas mãos passassem horas entre as minhas, permiti que cada fibra do meu corpo sentisse o toque das suas mãos ásperas, frias e ativasse uma memória tátil. Quis até te ligar quando logo depois de me despedir vi a lua laranja se por no amanhecer do dia...
Adoro o seu ciúme sem fundamento, prova que talvez você realmente não mude. Apenas tente se esconder numa máscara grande ou pequena demais. Às vezes você também é de vidro, não fui eu quem cresceu. Você que esqueceu que eu também vejo através dos seus olhos. Não adianta ter medo de mim. Muito menos fingir que não tem, porque o seu medo não é exatamente do que eu possa fazer, mas do que a minha existência representa na sua vida. Não se preocupe! Eu vou casar, ter três filhos e viver feliz para sempre até meus 90 anos quando a hora chegar e eu morrer louca por você! Simplesmente porque meu coração não pode ser dado a mais ninguém, ele não sobreviveu a nossa história...
Shhhhhhhhhhh... é só falar baixinho, que não incomodo ninguém e que você nunca vai ouvir.
Morena - ago/11
sábado, 18 de junho de 2011
É melhor sofrer que estar sozinho
É melhor sofrer que estar sozinho.
Me explico: Quando a gente sofre por amor, a gente chora, lembra, chora mais um bocado, revive, enche a cara de chocolate (ou outras coisas), morre de raiva, de remorso, de tristeza, tudo junto de uma vez! Sem falar num sentimento devastador que sempre leva a gente a bater de frente com o tal fantasma do "se". "Se" eu tivesse dito aquilo, "se" ele não tivesse feito aquilo outro... Só que no meio das janelas quebradas e móveis revirados do interior de cada um, a gente não percebe uma alegria fosforescente escondida atrás de uma fina camada de melancolia: enquanto você revive momentos na sua cabeça, você ri. E é nesse momento que sente o gosto das lágrimas e talvez por isso não perceba: você se apaixonou e teve sonhos de finais felizes. Você amou pra sempre a mesma pessoa e escolheu os nomes dos filhos que vocês teriam (ou tiveram), simplesmente porque um filho é o maior presente que você pode dar a alguém: é um pedacinho de você que você dá e recebe de volta e, de repente existe alguém que é metade de você e metade da pessoa que você mais ama no mundo. É isso mesmo! Simples assim... Filhos são consequência de um amor. Pais são a origem dele. E você ama tanto que usa a frase célebre: "quero que você seja o pai (mãe) dos meus filhos". E tudo é um mar de rosas.
Isso já faz com que todo o sofrimento tenha valido a pena. E mesmo que não tenha! Raiva, dor, desespero são sentimentos humanos e se você os tem é porque é humano, e está vivo. E viver é a maior de todas as conquistas...
Estar sozinho não. Você está vazio, morto. Daí lembra que o coração gelado tem esse poder: deixar tudo frio e cinza. Depois de um tempo você até começa a esquecer como eram as cores, os cheiros, sabores... tudo vai ficando igual e sem graça, sem jeito. No primeiro momento é sempre legal porque parece que ele (o coração gelado) petrificou suas lágrimas daí você é até capaz de terminar o show como se nada tivesse acontecido. Você confunde com auto estima, com amor próprio e acha que está bem porque, afinal, ninguém pode te ferir se você não deixar. No fundo é verdade, mas a verdade mesmo é que você não foi capaz de sentir, de se magoar, de sentir raiva, talvez até pagar de atriz quando uma lágrima furtiva lhe escapasse por entre os cílios e exagerando os gestos você pudesse gritar "mentira!" e morrer nos aplausos de um público carente. Até porque quem carrega uma pedra no peito não precisa mudar de calçada. Flores não mordem e às vezes são como fadas: morrem se a gente não acreditar nelas.
No fim estar sozinho é ainda melhor do que ser sozinho. Existem pessoas incapazes de sentir alguma coisa, de reconhecer um erro e pedir desculpas sinceras. É até difícil pensar, mas tem gente que casa por dinheiro, ou pior: simplesmente porque "chegou a hora" e todo mundo a sua volta está agindo assim. Existem pessoas que não aprenderam que "te amo" não é "bom dia" e que nem todo mundo pode ou deve ouvir. Penso ainda que quem ouve não pode ouvir com muita frequência que é para não "gastar", e a frase continuar forte e poderosa como da primeira vez em que se ouviu. Existem outras formas de dizer "eu te amo", outras que não utilizam palavras e são tão necessárias a saúde do indivíduo quanto as ditas em línguas. E eu, que um dia vi arco-íris, corações e flores tatuadas nas barrigas de ursinhos carinhosos, ainda me lembro mas já fazem anos que minhas lágrimas estão congeladas atrás da retina e sou obrigada a chorar seco quando a ocasião me pede. No entanto, a esperança ainda resta na caixa de Pandora...
Diante do exposto termino onde iniciei: é melhor sofrer do que estar sozinho...
Morena - jun/11
Me explico: Quando a gente sofre por amor, a gente chora, lembra, chora mais um bocado, revive, enche a cara de chocolate (ou outras coisas), morre de raiva, de remorso, de tristeza, tudo junto de uma vez! Sem falar num sentimento devastador que sempre leva a gente a bater de frente com o tal fantasma do "se". "Se" eu tivesse dito aquilo, "se" ele não tivesse feito aquilo outro... Só que no meio das janelas quebradas e móveis revirados do interior de cada um, a gente não percebe uma alegria fosforescente escondida atrás de uma fina camada de melancolia: enquanto você revive momentos na sua cabeça, você ri. E é nesse momento que sente o gosto das lágrimas e talvez por isso não perceba: você se apaixonou e teve sonhos de finais felizes. Você amou pra sempre a mesma pessoa e escolheu os nomes dos filhos que vocês teriam (ou tiveram), simplesmente porque um filho é o maior presente que você pode dar a alguém: é um pedacinho de você que você dá e recebe de volta e, de repente existe alguém que é metade de você e metade da pessoa que você mais ama no mundo. É isso mesmo! Simples assim... Filhos são consequência de um amor. Pais são a origem dele. E você ama tanto que usa a frase célebre: "quero que você seja o pai (mãe) dos meus filhos". E tudo é um mar de rosas.
Isso já faz com que todo o sofrimento tenha valido a pena. E mesmo que não tenha! Raiva, dor, desespero são sentimentos humanos e se você os tem é porque é humano, e está vivo. E viver é a maior de todas as conquistas...
Estar sozinho não. Você está vazio, morto. Daí lembra que o coração gelado tem esse poder: deixar tudo frio e cinza. Depois de um tempo você até começa a esquecer como eram as cores, os cheiros, sabores... tudo vai ficando igual e sem graça, sem jeito. No primeiro momento é sempre legal porque parece que ele (o coração gelado) petrificou suas lágrimas daí você é até capaz de terminar o show como se nada tivesse acontecido. Você confunde com auto estima, com amor próprio e acha que está bem porque, afinal, ninguém pode te ferir se você não deixar. No fundo é verdade, mas a verdade mesmo é que você não foi capaz de sentir, de se magoar, de sentir raiva, talvez até pagar de atriz quando uma lágrima furtiva lhe escapasse por entre os cílios e exagerando os gestos você pudesse gritar "mentira!" e morrer nos aplausos de um público carente. Até porque quem carrega uma pedra no peito não precisa mudar de calçada. Flores não mordem e às vezes são como fadas: morrem se a gente não acreditar nelas.
No fim estar sozinho é ainda melhor do que ser sozinho. Existem pessoas incapazes de sentir alguma coisa, de reconhecer um erro e pedir desculpas sinceras. É até difícil pensar, mas tem gente que casa por dinheiro, ou pior: simplesmente porque "chegou a hora" e todo mundo a sua volta está agindo assim. Existem pessoas que não aprenderam que "te amo" não é "bom dia" e que nem todo mundo pode ou deve ouvir. Penso ainda que quem ouve não pode ouvir com muita frequência que é para não "gastar", e a frase continuar forte e poderosa como da primeira vez em que se ouviu. Existem outras formas de dizer "eu te amo", outras que não utilizam palavras e são tão necessárias a saúde do indivíduo quanto as ditas em línguas. E eu, que um dia vi arco-íris, corações e flores tatuadas nas barrigas de ursinhos carinhosos, ainda me lembro mas já fazem anos que minhas lágrimas estão congeladas atrás da retina e sou obrigada a chorar seco quando a ocasião me pede. No entanto, a esperança ainda resta na caixa de Pandora...
Diante do exposto termino onde iniciei: é melhor sofrer do que estar sozinho...
Morena - jun/11
sábado, 4 de junho de 2011
O verbo, nada mais
Momento de desperdício
Pedaço
Sofrimento choroso
Destroço
Fim do princípio do meio
Tem nome?
Vontade de dizer que sim
Medo de dizer que não
Pensamento na angústia do talvez
Até quando?
Quem sabe...
O mundo dá todas as voltas que podia dar
E pára sempre no princípio:
o verbo e nada mais.
Amar
Lutar
Bater
Sonhar
Morrer
Gozar
Esquecer...
Só que antes de esquecer a gente lembra e relembra um bocado
E até lá eu morro de tristeza...
Morena/jun 11
Pedaço
Sofrimento choroso
Destroço
Fim do princípio do meio
Tem nome?
Vontade de dizer que sim
Medo de dizer que não
Pensamento na angústia do talvez
Até quando?
Quem sabe...
O mundo dá todas as voltas que podia dar
E pára sempre no princípio:
o verbo e nada mais.
Amar
Lutar
Bater
Sonhar
Morrer
Gozar
Esquecer...
Só que antes de esquecer a gente lembra e relembra um bocado
E até lá eu morro de tristeza...
Morena/jun 11
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Raiva não
De você não guardo raiva,
Raiva não. Frustração,
Tristeza pela indiferença.
Indignação? Não.
Surpresa apenas.
Da vida a gente leva o que é bom
E esquece o resto!
Morena - mai/11
Raiva não. Frustração,
Tristeza pela indiferença.
Indignação? Não.
Surpresa apenas.
Da vida a gente leva o que é bom
E esquece o resto!
Morena - mai/11
sábado, 7 de maio de 2011
É das carecas que eles gostam mais
Estamos na mesa de um restaurante: eu e vários amigos de grupos diferentes que acabaram de se conhecer depois do meu show. Um grupinho me reprime por causa do meu novo cabelo (ou da falta dele). Quando penso que não, uma menina do outro grupinho mostra a foto da carteirinha da UnB... CARECA!!!
Lembro de uma cantora e atriz 10 e uma foto antiga que vi: CARECA!!!
Adiciono uma amiga nova no face e vejo fotos nem tão antigas: CARECA! Comento que toda mulher careca é bem resolvida e ela concorda. De repente até eu acredito na frase e repito:
TODA MULHER QUE JÁ FOI CARECA É BEM RESOLVIDA!!!
Me explico:
Quando fui fazer o rasta fiquei 6h na cadeira de um salão, então deu pra entender bem a rotina diária de um salão de beleza afro. Lá pelas tantas me aparece uma mulher quase desesperada reclamando que o aplique está caindo, reparo que a franja é diferente do resto do cabelo liso... caramba! Daí a pouco aparece outra falando que o marido dela tira sarro "lá vai ela botar dinheiro nesse cabelo..." E não dá outra! R$800 pelo aplique de cabelo natural. =O
Eu gosto muito de acampar e a mulherada FRITA! Ou passa o tempo todo de rabo de cavalo, ou arruma uma chapinha a pilha, ou reclama pra todo mundo que não avisou do fio de cabelo que está fora do lugar... fora o tanto de creme, shampoo pra isso, pra aquilo e a constante insatisfação com os mil modelos de cabelo. Impressionante!
Um belo dia tentei fazer o rasta de novo, mas queria sem aplique e não deu certo, o cabelo estava muito curto... Liguei pra menina que sempre corta o meu cabelo: "Sílvia, vc raspa minha cabeça?" "Que horas?" kkk ADORO!!!
E de repente eu me vi no espelho nua. Pela primeira vez descobri o formato da minha cabeça e vi meu couro cabeludo. Me achei horrível por alguns instantes mas logo um pensamento me dominou: "cabelo cresce" e de repente tudo ficou simples assim!
Toda mulher que raspa a cabeça tem bem claro pra si mesma quem ela é. Ela entende que nada de bom vai deixar de acontecer porque ela tem a cabeça raspada. Ela pára de dizer que tem orelha de abana, rosto muito redondo, bochechas grandes, que tem medo, que acha que não combina e começa a dizer apenas "dane-se!". E é TÃO libertador! Me sinto muito mais bonita no final das contas, muito mais mulher! No início ia como obrigação pra não ser confundida mas agora tenho prazer em escolher roupas mais femininas, em usar pelo menos um gloss antes de sair de casa, em melhorar minha postura (pq sem cabelo não dá nem pra disfarçar). Agora lavo a cabeça com sabonete e seco em 5min na toalha. Acordo, passo a mão na cabeça e vou trabalhar! Porque eu sei quem eu sou e o que quero. E não vai ser cabelo que vai me grilar! =)
Morena - mai/11
Lembro de uma cantora e atriz 10 e uma foto antiga que vi: CARECA!!!
Adiciono uma amiga nova no face e vejo fotos nem tão antigas: CARECA! Comento que toda mulher careca é bem resolvida e ela concorda. De repente até eu acredito na frase e repito:
TODA MULHER QUE JÁ FOI CARECA É BEM RESOLVIDA!!!
Me explico:
Quando fui fazer o rasta fiquei 6h na cadeira de um salão, então deu pra entender bem a rotina diária de um salão de beleza afro. Lá pelas tantas me aparece uma mulher quase desesperada reclamando que o aplique está caindo, reparo que a franja é diferente do resto do cabelo liso... caramba! Daí a pouco aparece outra falando que o marido dela tira sarro "lá vai ela botar dinheiro nesse cabelo..." E não dá outra! R$800 pelo aplique de cabelo natural. =O
Eu gosto muito de acampar e a mulherada FRITA! Ou passa o tempo todo de rabo de cavalo, ou arruma uma chapinha a pilha, ou reclama pra todo mundo que não avisou do fio de cabelo que está fora do lugar... fora o tanto de creme, shampoo pra isso, pra aquilo e a constante insatisfação com os mil modelos de cabelo. Impressionante!
Um belo dia tentei fazer o rasta de novo, mas queria sem aplique e não deu certo, o cabelo estava muito curto... Liguei pra menina que sempre corta o meu cabelo: "Sílvia, vc raspa minha cabeça?" "Que horas?" kkk ADORO!!!
E de repente eu me vi no espelho nua. Pela primeira vez descobri o formato da minha cabeça e vi meu couro cabeludo. Me achei horrível por alguns instantes mas logo um pensamento me dominou: "cabelo cresce" e de repente tudo ficou simples assim!
Toda mulher que raspa a cabeça tem bem claro pra si mesma quem ela é. Ela entende que nada de bom vai deixar de acontecer porque ela tem a cabeça raspada. Ela pára de dizer que tem orelha de abana, rosto muito redondo, bochechas grandes, que tem medo, que acha que não combina e começa a dizer apenas "dane-se!". E é TÃO libertador! Me sinto muito mais bonita no final das contas, muito mais mulher! No início ia como obrigação pra não ser confundida mas agora tenho prazer em escolher roupas mais femininas, em usar pelo menos um gloss antes de sair de casa, em melhorar minha postura (pq sem cabelo não dá nem pra disfarçar). Agora lavo a cabeça com sabonete e seco em 5min na toalha. Acordo, passo a mão na cabeça e vou trabalhar! Porque eu sei quem eu sou e o que quero. E não vai ser cabelo que vai me grilar! =)
Morena - mai/11
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